PCdoB busca plano de desenvolvimento que mobilize trabalhadores e aliados

Debate entre comunistas, dirigentes, aliados e simpatizantes abordou a necessidade de mudanças estruturais para garantir a soberania nacional, em um contexto marcado por ciclos regressivos, como a ditadura militar, o neoliberalismo dos anos 1990 e o golpe de 2016. Os palestrantes destacaram a importância de um novo plano nacional de desenvolvimento, centrado nas demandas populares e no fortalecimento do Estado, para enfrentar a financeirização da economia e o imperialismo. O debate também enfatizou a mobilização da classe trabalhadora como protagonista das transformações, com vistas às eleições de 2026, que serão decisivas para o futuro do país.
O Partido Comunista do Brasil, com a organização da Fundação Maurício Grabois, promoveu, em Salvador, a terceira mesa do Ciclo de Debates rumo ao 16° Congresso partidário. Com o tema “Soberania Nacional e Mudanças Estruturais”, o encontro teve a mediação da deputada federal Alice Portugal, o evento contou com a participação de Adalberto Monteiro, secretário nacional de Formação e Propaganda do PCdoB; José Sérgio Gabrielli, professor titular da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e ex-presidente da Petrobras; Diogo Santos, economista e Aloisio Barroso, médico, doutor em desenvolvimento econômico e diretor de estudos e pesquisas da Fundação Maurício Grabois. A iniciativa reforçou o compromisso do partido em debater os desafios históricos e contemporâneos do Brasil, propondo um projeto nacional liderado pela classe trabalhadora para superar a dependência econômica e a dominação financeira.
A participação do público trouxe reflexões sobre como enfrentar os desafios estruturais em um cenário globalizado e atender às necessidades básicas da população, como acesso à cesta básica, saúde e segurança. As discussões reforçaram a centralidade de um projeto político que conecte as aspirações do povo às reformas estruturais, consolidando a soberania e o desenvolvimento nacional.
Soberania nacional e projeto estratégico
A soberania nacional foi o eixo central do debate, com ênfase na construção de um projeto estratégico liderado pela classe trabalhadora. Adalberto Monteiro destacou a conjuntura crítica do Brasil, que enfrenta o dilema entre avançar na construção de uma nação soberana ou retroceder ao entreguismo. Ele defendeu a necessidade de um projeto nacional que mobilize amplos setores da sociedade, incluindo pequenos e médios empresários, para enfrentar a oligarquia financeira e o imperialismo. Monteiro também sublinhou a relevância das eleições de 2026 como um momento estratégico para consolidar alianças e impulsionar mudanças.
José Sérgio Gabrielli ofereceu uma análise histórica, destacando o papel do Estado na industrialização dos anos 1950 e a subsequente perda de autonomia da burguesia nacional, integrada ao circuito financeiro global. Ele defendeu a reconstrução do Estado como protagonista do desenvolvimento, com foco em ciência, tecnologia e soberania energética. Aloisio Barroso reforçou a necessidade de controle estatal sobre o câmbio e a política monetária, enquanto Diogo Santos enfatizou a democratização do Estado para atender às demandas populares. O público, por meio da vereadora soteropolitana Aladilce Souza, questionou como recuperar a soberania em um contexto globalizado, reforçando a necessidade de conscientização e mobilização popular.

Mudanças estruturais e reforma do sistema financeiro
As mudanças estruturais foram apresentadas como fundamentais para superar as barreiras ao desenvolvimento nacional. Adalberto Monteiro identificou obstáculos como a financeirização da economia, a desvalorização do trabalho e medidas como a autonomia do Banco Central e o teto de gastos, que limitam a ação do Estado. Ele destacou os ciclos regressivos que marcaram a história recente do Brasil, incluindo o golpe contra Dilma Rousseff, e defendeu um novo Plano Nacional de Desenvolvimento para enfrentá-los.
Aloisio Barroso trouxe uma análise teórica, explicando o conceito de capital fictício e sua dominância na economia brasileira, marcada por um sistema financeiro voltado à especulação. Ele propôs uma reforma do sistema financeiro que recupere o controle estatal sobre a política monetária e o câmbio, reduzindo a influência de fundos internacionais. Diogo Santos e Geraldo Galindo reforçaram a necessidade de enfrentar a oligarquia financeira e reverter medidas como as privatizações, que enfraqueceram a capacidade do Estado de liderar o desenvolvimento. O público sugeriu iniciativas como a criação de cooperativas para quebrar monopólios bancários, reforçando a necessidade de soluções inovadoras.
Protagonismo da classe trabalhadora
O protagonismo da classe trabalhadora foi um consenso entre os palestrantes. Adalberto Monteiro afirmou que a burguesia brasileira perdeu a capacidade de liderar o projeto nacional, cabendo à classe trabalhadora assumir esse papel, em aliança com setores progressistas. Ele destacou a importância da mobilização popular para alterar a correlação de forças no Congresso e na sociedade, especialmente em 2026. Diogo Santos defendeu que o projeto nacional deve priorizar demandas como saúde, mobilidade e saneamento, enquanto Alice Portugal sugeriu bandeiras concretas, como o fim da jornada 6×1, para reconectar o povo às lutas políticas.
José Sérgio Gabrielli analisou a evolução da classe trabalhadora, que migrou de setores industriais para áreas como educação e saúde, e defendeu investimentos em tecnologia para fortalecer sua capacidade de liderança. O público, por meio de Davidson Magalhães, questionou como enfrentar os desafios estruturais em contextos regressivos, recebendo como resposta a necessidade de combinar lutas imediatas com uma visão estratégica de longo prazo.
Desafios conjunturais e eleições de 2026
Os palestrantes abordaram os desafios conjunturais com foco nas eleições de 2026. Adalberto Monteiro destacou a aprovação da Lei da Reciprocidade como uma oportunidade para ampliar a base de apoio ao governo Lula, mas alertou que as mudanças estruturais exigem uma luta contínua. José Sérgio Gabrielli apontou o “tarifaço” como uma estratégia para desestabilizar o governo e criticou a influência de setores religiosos pentecostais, que demandam estratégias específicas de enfrentamento. Diogo Santos defendeu a reconstrução do Estado nacional como a base para as reformas, com parcerias estratégicas com países do Sul Global, como a China.
Adalberto Monteiro reafirmou o compromisso do PCdoB com um projeto nacional que enfrente as adversidades e aproveite as oportunidades do contexto global, como o declínio relativo dos EUA e o fortalecimento do Sul Global. Diogo Santos destacou a reconstrução do Estado como a “mãe de todas as reformas”, enquanto José Sérgio Gabrielli enfatizou a luta contra a desigualdade como prioridade, combinada com mudanças estruturais.
No encerramento, Alice Portugal agradeceu os palestrantes e o público, reforçando que o projeto nacional deve ter a classe trabalhadora como protagonista, com mobilização popular para garantir um Brasil soberano e justo.