PCdoB: A luta pela vida e pela paz em tempos de pandemia
A Comissão Executiva Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) divulgou, nesta quinta-feira (3), documento sobre o impacto da Pandemia no mundo.
Conforme o texto, os principais atingidos “são fundamentalmente os trabalhadores e trabalhadoras e as nações empobrecidas pelas políticas de austeridade e neocoloniais e de restrição às liberdades democráticas.”
Para o PCdoB, a crise provocada pelo coronavírus “demonstra a insustentabilidade do sistema de exploração e opressão que vivemos, não só devido ao modelo neoliberal de (falta de) atenção à saúde e outros serviços essenciais à vida, voltados ao lucro privado, como também na intensificação das ameaças a diversos povos”.
O documento relata a ação deletéria do imperialismo que, mesmo diante de uma crise humanitária, continua a promover sanções e agressões contra povos e governos que não se curvam a seus ditamos. Em contraste, nações como China e Cuba dão exemplos de solidariedade.
O texto termina com uma conclamação: “Nosso tão ansiado retorno a nova normalidade pode tardar, mas deve ser transformador. E o será, se unirmos, para enfrentar a pandemia e os efeitos que já experimentamos, todos aqueles que colocam a vida em primeiro lugar e reforçam a luta pela Paz mundial, em prol de um destino comum da sociedade humana, feito de solidariedade, liberdade, autodeterminação nacional e progresso para todas as nações e povos do mundo”.
Leia a íntegra:
A luta pela vida e pela paz em tempos de pandemia
Com o surgimento da pandemia de COVID-19, a humanidade passou a enfrentar um dos maiores desafios de toda a sua história, que afeta todas as nações e traz à luz do dia os gravíssimos problemas estruturais resultantes do funesto neoliberalismo. Suas vítimas são fundamentalmente os trabalhadores e trabalhadoras e as nações empobrecidas pelas políticas de austeridade e neocoloniais e de restrição às liberdades democráticas.
A emergência criada pelo tão agressivo novo coronavírus afetará parcela considerável da população mundial e pode ocasionar o colapso de múltiplos setores econômicos e sociais. É enorme o impacto psicossocial para as pessoas. É preciso envidar esforços para pôr a vida em primeiro lugar, atender à saúde e ao bem-estar das diversas camadas da população e reforçar a luta contra os persistentes problemas que afrontam a humanidade.
Em todo o mundo se demonstra a insustentabilidade do sistema de exploração e opressão que vivemos, não só devido ao modelo neoliberal de (falta de) atenção à saúde e outros serviços essenciais à vida, voltados ao lucro privado, como também na intensificação das ameaças a diversos povos através das políticas dos Estados Unidos e seus aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
As potências imperialistas intensificam suas políticas agressivas para manter o mundo sob sua hegemonia. Perante a crise de saúde pública, a gravidade dessas políticas se evidencia de forma cruel. Aí estão as guerras, que hoje envolvem milhões de pessoas, em conflitos envolvendo países de todos os continentes.
Aí está a perversidade de haver imensas populações de refugiados em todo o planeta, encurraladas pela xenofobia, por perseguições, maus tratos e abandono. Há quase 71 milhões de pessoas forçosamente deslocadas no mundo, segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR): 26 milhões de refugiados assim registrados — inclusive 5,5 milhões de palestinos e descendentes que, desde 1948, buscam refúgio dos massacres provocados pelo regime sionista e continuam impedidos de retornar aos seus lares; 41 milhões de deslocados no interior dos seus países; e 3,5 milhões de requerentes de asilo. Também há 3,9 milhões de pessoas apátridas, sem nacionalidade reconhecida, segundo o ACNUR. Essas pessoas já enfrentam normalmente condições de extrema vulnerabilidade, intensificada pela atual emergência mundial, e pagarão preço inaceitável se faltar solidariedade humana, empatia e cooperação no socorro à saúde e pela sobrevivência.
Entre as políticas agressivas das potências imperialistas estão as adotadas pelos Estados Unidos contra Irã, Venezuela, Cuba e Síria, por exemplo.
O reforço das sanções sufocantes contra o Irã, que está entre os países mais afetados pelo avanço do COVID-19 e sofre com a escassez de medicamentos e equipamentos médicos, é criminoso e precisa ser contestado internacionalmente. A Síria, que enfrenta quase uma década de agressão expressa no respaldo a grupos golpistas e terroristas e nas ofensivas militares dos EUA e seus aliados regionais, entra neste período devastada, mas resistente. A Rússia, que faz frente às manobras e retórica de guerra, entre outras ameaças beligerantes dos Estados Unidos e da OTAN, é alvo também das sanções dos EUA e da União Europeia, mas adota medidas exemplares na contenção da epidemia no país e envia assistência até mesmo a aliados de primeira ordem do imperialismo estadunidense, como a Itália. Até mesmo aos Estados Unidos a Rússia já envia ajuda médica.
Na América Latina, intensifica-se a ofensiva econômica, midiática e política contra a Venezuela, inclusive com a recente decisão da Procuradoria-Geral dos EUA de acusar o presidente Nicolás Maduro e outras autoridades venezuelanas de narcoterrorismo, corrupção e tráfico de drogas, para forçar a queda do governo legítimo de um país soberano. Trata-se de chantagem o “plano de transição” do Departamento de Estado dos EUA, que demanda a formação de um governo interino que inclua o golpista Juan Guaidó, condição para que a Venezuela possa pedir empréstimos e para o alívio das criminosas sanções vigentes. Mantém-se e recrudesce o bloqueio de seis décadas contra Cuba que, resistente, tem demonstrado impressionante capacidade de oferecer solidariedade internacional e cooperação nos momentos e lugares em que são mais urgentes, mesmo com todas as dificuldades internas causadas pelo bloqueio.
A China, que ascende de forma acelerada como potência mundial e é alvo da fúria do establishment norte-americano, enfrenta de forma altiva as ofensivas diplomáticas e comerciais dos Estados Unidos e as suas ameaças beligerantes e, neste momento, também envida esforços econômicos e humanitários impressionantes na contenção da epidemia e na cooperação com as nações mais afetadas, enviando equipamentos e equipes médicas a diversos países.
A todos esses países e povos expressamos nosso apoio solidário.
São correntes ainda diversos conflitos devastadores, guerras e agressões, como no Iêmen, na Líbia, Síria, Afeganistão, Iraque, Camarões, no Sahel, no Sudão, na República Centro-Africana.
Apelos como o do secretário-geral da ONU por um “cessar-fogo global” ou de entidades populares por transformações que nos permitam derrubar barreiras rumo a outro futuro podem soar idealistas, mas são os únicos caminhos possíveis e que fazem sentido neste momento, se a prioridade for proteger as pessoas e mitigar os impactos da pandemia na economia mundial.
É evidente a urgência de um apelo global, um clamor por cooperação e solidariedade, pela proteção à vida e por medidas eficazes, humanitárias e comunitárias, que nos permitam, ao enfrentar a presente situação, construir as bases não só de um retorno à “normalidade”, mas de um salto a outra que não a do capitalismo neoliberal, que já se mostrou um fracasso.
Quando algo precisa ocorrer imperativamente, mas momentaneamente se apresenta impossível, temos a tragédia. Não podemos aceitá-la. Nosso tão ansiado retorno a nova normalidade pode tardar, mas deve ser transformador. E o será, se unirmos, para enfrentar a pandemia e os efeitos que já experimentamos, todos aqueles que colocam a vida em primeiro lugar e reforçam a luta pela Paz mundial, em prol de um destino comum da sociedade humana, feito de solidariedade, liberdade, autodeterminação nacional e progresso para todas as nações e povos do mundo.
Partido Comunista do Brasil – Comissão Executiva Nacional
Brasília – 2 de abril de 2020