O ativismo político e a sede de luta por liberdade e democracia faz parte da história biológica do pesquisador, ativista e ex-vereador Paulo Fonteles filho, que traz consigo o nome de seu pai, o  ex-deputado estadual, advogado, professor e sindicalista Paulo Fonteles, Já sua mãe, a socióloga Hecilda Veiga, foi presa em agosto de 1978, grávida, durante a ditadura, e torturada desde o quinto mês de gestação, enquanto era mantida em cativeiro pelos militares. E assim, em meio à luta e ao cárcere, nasce Paulinho.

Ainda menino se aproximou da militância trazida pelo pai junto aos trabalhadores rurais do Pará. Com o assassinato de Paulo Fonteles, a luta segue seu caminho pelos pés do filho. Aos 15 anos, Paulinho ingressou no Partido Comunista do Brasil, fortalecendo o ativismo político ao lado do movimento estudantil.

Mas, durante sua caminhada se percebia: era um garoto à frente do seu tempo. Alinhado à orientação socialista, sempre esteve a serviço da luta dos trabalhadores, negros, mulheres, LGBT e da juventude. Moisés Alves é ativista pelos Direitos Humanos no Pará e caminhou ao lado de Paulinho desde cedo. “Nos conhecemos ainda adolescente, fizemos muito pelo movimento estudantil juntos e sempre foi um cara muito abnegado, primeiro porque ele perdeu os pais muito cedo, os pais dele sofreram muito. Ele nasceu numa prisão e na época os militares disseram para sua mãe: ‘Filho dessa raça não deve nascer’. Então nele sempre esteve embutido essa luta por liberdade, por direitos humanos, desde seu nascimento”, lembra.

A presença forte de Paulinho não se limitou à militância. Defensor da organização do povo na luta dos direitos, foi presidente da União da Juventude Socialista (UJS) e mais tarde, entrou para o campo parlamentar enquanto vereador pelo PCdoB por dois mandatos (2000-2008). Além disso, desenvolveu papéis importantes como coordenador da Comissão Estadual da Verdade no Estado do Pará, trazendo vida à reconstituição histórica da Guerrilha do Araguaia, um dos principais focos de resistência ao Regime Militar e também das pesquisas feitas por ele.

Em seus últimos anos em vida, estava à frente do Instituto de Direitos Humanos e era uma das vozes mais fortes de luta contra a violência no campo paraense e a atuação das milícias que fazem vítimas milhares de jovens pobres e negros da periferia.

Paulo Fonteles filho foi uma figura que serviu e ainda serve de exemplo de luta por democracia, direitos iguais, liberdade e da importância da articulação política como fortalecimento de ideias, sonhos e projetos sociais. Hoje, passados três anos da sua morte, seu companheiro de lutas, Jorge Panzera, presidente do PCdoB do Pará celebra o legado deixado pelo amigo: Ao mesmo tempo que sentimos o vazio, ele é uma pessoa que se faz presente, então a gente enxerga com essa perspectiva de manter na mente o exemplo de alguém que lutou como lutou. E pessoalmente também, na nossa relação de irmandade e admiração.

Em tempos em que o fascismo e a necropolítica voltam a assombrar o cenário mundial, é preciso lembrar sempre de figuras como Paulinho, que lutam pelo coletivo: “Paulo deixou um vazio grande, faz muita falta uma pessoa com uma dedicação exclusiva à luta do povo, um caminho de uma certa devoção à isso. Alguém que se movimentava em todas as suas ações, não pensamento somente na luta de agora: ele via que o esforço de agora é sempre pensado numa perspectiva à longo prazo, de transformações futuras na sociedade como um todo”, explica Panzera.

“Em certa medida eu faço a luta pela sobrevivência desde o ventre então sou calejado nisso então a gente tem que tratar isso [as ameaças] com firmeza, não pode se recolher, não pode se acovardar. A capacidade de sobreviver é um milagre”. 

(Paulinho Fonteles)

 

*Homenagem pelos três anos de sua morte, Belém – Pará, dia 26 de outubro de 2020.