Partido japonês PLD admite mulheres em suas reuniões, mas caladas
O maior partido do Japão, e que tem estado no poder na maior parte do pós-guerra, o Partido Liberal Democrático (PLD), apresentou uma proposta para permitir que cinco parlamentares do sexo feminino passem a participar nas reuniões da cúpula da agremiação, até aqui só presenciadas por homens, mas com um ‘pequeno’ detalhe: desde que não façam uso da palavra.
A emenda pior que o soneto surge duas semanas após a demissão do ex-primeiro-ministro e chefe do comitê organizador das Olimpíadas de Tóquio 2020, Yoshiro Mori, de 83 anos, por um comentário machista que escandalizou o resto do mundo, de que as mulheres “falam demais” e as reuniões acabam “demorando” muito se não houver uma trava a elas.
O também vetusto secretário-geral do PLD, Toshihiro Nikai, um ano mais novo que Mori, disse na terça-feira (16) numa conferência de imprensa que a ideia é trazer uma “perspectiva feminina às reuniões”, onde só homens participam.
Como registrou a Reuters, Nikai disse estar ciente das críticas em razão da falta de mulheres nos principais cargos do maior partido do país, e assinalou a importância de que membros do partido do sexo feminino “vissem” como se dá o processo de tomada de decisão.
“É importante que entendam na totalidade o tipo de discussões que estão acontecendo. Ver o que se passa, é disso que se trata”, disse candidamente.
No máximo, essas cinco privilegiadas integrantes do PLD poderão, caso achem necessário, comunicar posteriormente seus pensamentos à secretaria.
Mori não aguentou a repercussão negativa de suas ponderações discriminatórias, e renunciou. Além de atribuir às mulheres o hábito de “falar demais” e esticar as reuniões, Mori aconselhara a que “o tempo de intervenção delas fosse restringido de alguma forma”.
Mas possivelmente o tiro de misericórdia na permanência de Mori na presidência da organização das Olimpíadas Tóquio 2020 foi sua arguta observação de que as sete mulheres integrantes do comitê sabiam “se colocar no seu lugar”.
Para os mais otimistas, a deliberação do PLD sobre mulheres nas reuniões de cúpula será um marco na emancipação feminina no país. Apenas 9,5% dos parlamentares no Japão são mulheres. De acordo com os números do Banco Mundial, ao nível global (os dados são de 2018) numa lista de 191, o Japão fica em 165º lugar entre os países em que é mais baixa a presença das mulheres no parlamento.
A ex-atleta olímpica do Japão e ministra das Olimpíadas desde 2019, Seiko Hashimoto, aliás do PLD, aceitou a indicação para substituir Mori depois dessa confusão toda.
Ela irá se defrontar com uma série de problemas, incluindo assumir o comando de uma Olimpíada, faltando menos de meio ano para seu início, e na circunstância de um pandemia, em que é imprescindível proteger atletas e autoridades esportivas. Hashimoto participou de quatro Jogos Olímpicos de Inverno como patinadora de velocidade e três Jogos Olímpicos de Verão como ciclista. Ela já apresentou sua renúncia ao cargo de ministra.