Participação da indústria nas exportações tem queda brutal em 20 anos
A participação de manufaturados, máquinas e equipamentos na pauta de exportações brasileira teve uma queda brutal em 20 anos, paralelamente a um salto na participação de produtos primários. A informação está no estudo Brasil: um olhar sobre as contas externas, do contabilista Paulo Roberto Rivera, que analisou o balanço de pagamentos do país ao longo de 26 anos.
Segundo a pesquisa, em 2000, manufaturados, máquinas e equipamentos, que são bens relacionados à indústria, representavam 48% dos bens exportados, percentual que caiu para 19% em 2020. Já a participação dos produtos primários passou de 35% para 71% no mesmo intervalo temporal. Neste grupo, o maior crescimento foi das exportações de materiais brutos.
As exportações da categoria, que abrange minério de ferro, materiais metálicos, soja, celulose a fibras têxteis passaram de 16% a 35% de participação, um incremento de 19 pontos percentuais no período. Também houve crescimento expressivo de combustíveis e minerais, que incluem petróleo, carvão e gás: a participação na pauta de exportações passou de 2% para 12% em 20 anos. As vendas externas de produtos alimentícios como carne, café e açúcar, por sua vez, passaram de 17% para 24%.
Paulo Roberto Rivera destaca que o declínio da participação da indústria nacional na pauta de exportações começa com a introdução da paridade real-dólar no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. À época, o objetivo era baratear as importações e conter a inflação crônica no país. Em consequência da crise da dívida externa dos anos 1980, o Brasil tinha poucas reservas em dólares que permitissem conter a desvalorização da moeda.
Mas, para a indústria nacional, as consequências da entrada de produtos importados a preços baixos foram nefastas. “Essa paridade matou a indústria nacional, que não tinha competitividade e foi basicamente fechando as portas”, comenta o contabilista.
Rivera pontua que a indústria brasileira já havia sofrido com a abertura sem critério do mercado nacional a empresas estrangeiras promovida pelo governo Collor, no início da década de 1990.
Ele ressalta ainda que, ao longo dos anos, houve uma opção dos governos pela exportação de commodities. “O país optou por exportar bens primários e abandonou sua indústria. A última política [industrial] séria foi lá no final da década de 1950, começo de 1960, com o governo Juscelino Kubitscheck, que implementou um plano de substituição de importações. Abrangia principalmente o setor automobilístico, era exigido que todos os componentes de automóveis fossem comprados da indústria nacional”, comenta.
Questionado sobre as alternativas para desenvolver a indústria nos atuais tempos globalizados, em que a Organização Mundial de Comércio (OMC) busca eliminar as barreiras comerciais e aplica sanções ao protecionismo, Rivera diz que todos os países que atualmente são potências econômicas protegeram sua indústria.
“Os Estados Unidos fizeram isso durante muito tempo para competir com o Japão, Alemanha. A Coreia do Sul fez muito. Claro que não significa uma política agressiva de taxação [de produtos importados]. Também tem os seus limites, não é guerra comercial ou coisa parecida. Mas tem que ter alguma proteção para a indústria nacional. Não dá para ficar importando por preço muito menor”, defende.
China desbanca EUA
A análise da balança comercial mostra ainda como, entre 2000 e 2020, a China tomou o lugar dos Estados Unidos como principal parceiro comercial do Brasil.
Em 20 anos, a participação da China como destino das exportações brasileiras saltou de 2% para 32%. A participação como fornecedor, ou seja, nas importações feitas pelo Brasil, passou de 2% para 21%.
Com os EUA, aconteceu o inverso. Em 2000, os norte-americanos eram os principais compradores de produtos brasileiros, com participação de 24% em nossas exportações. Em 2020, a participação havia encolhido para 10%. Já a participação como fornecedor passou de 23% para 15% no período.