Está tudo pronto para o Brexit nesta sexta-feira (31). Na quarta-feira, o Parlamento Europeu aprovou em Bruxelas o acordo dos termos de saída da Grã Bretanha da União Europeia, por 621 votos a favor, 49 contra e 13 abstenções, na penúltima formalidade que faltava para a consumação do divórcio entre a Europa dos monopólios e a City londrina.

O último prego ficará por conta do Conselho Europeu, que reúne chefes de Estado e de governo da UE, bastando aprovação por maioria simples, em reunião nesta quinta e sexta-feira.

Pelo lado britânico, o projeto já foi votado no parlamento – nos comuns e na Câmara dos Lordes – e sancionado pela rainha.

A maioria dos eurodeputados que votou a favor do acordo o fez por ser a forma de evitar um Brexit sem acordo e caótico, que deixasse penosas marcas dos dois lados do Canal da Mancha, como o atual primeiro-ministro Boris Johnson não cansou de ameaçar. Entre os eurodeputados da bancada do ‘Brexit direto no colo de Trump’, de Nigel Farage, o momento era de êxtase.

A presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, ex-ministra da Defesa de Berlim, garantiu que “sempre amaremos vocês [os ingleses] e nunca estaremos distantes” e encerrou conclamando “vida longa à Europa”. Antes, caprichara na citação, no caso o autor britânico George Eliot: “só com a agonia da despedida somos capazes de compreender a profundidade do amor”.

O encarregado do Brexit no Parlamento Europeu, o belga Guy Verhofstadt, disse ser um dia triste, vendo sair “um país que duas vezes nos libertou, que duas vezes deu seu sangue pela Europa”. Como enfatizou, “se pudéssemos impedir o Brexit votando ‘não’ hoje, eu seria o primeiro a recomendar isso”.

Ao abrir os trabalhos da votação sobre o acordo de saída, o presidente do Parlamento Europeu, o italiano David Sassoli, destacou que “50 anos de integração não podem ser dissolvidos facilmente” e manifestou sua expectativa de que o Brexit “não seja um adeus, mas um até breve”.

Votado e aprovado o acordo, a maioria dos parlamentares começou a cantar o poema escocês “Auld Lang Syne”, cantado comumente em funerais, além de no Ano Novo.  O parlamento escocês acaba de votar pela manutenção da bandeira azul estrelada da EU nas suas dependências, e a maioria dos escoceses votou contra o Brexit. A votação também foi o último ato de 70 eurodeputados britânicos, cujo mandato agora se extingue.

O acordo – que foi o elemento chave para a vitória nas eleições de dezembro de Boris Johnson – assegura os direitos aos cidadãos europeus residentes no Reino Unido e aos britânicos em solo europeu, mantém abertas as fronteiras entre as duas partes da Irlanda – um dos pontos mais tensos nas negociações – e define que o governo de Londres pagará 50 bilhões de euros por deixar a comunidade europeia.

De Bruxelas, há a percepção de que o prazo para negociar um acordo pós-saída, até 31 de dezembro, como Johnson quer, é muito exíguo, mas Londres diz que não haverá prorrogação. Poderia ir até 31 de dezembro de 2022. Durante essa transição, Londres continuará seguindo as normas do bloco europeu, apesar de passar a ter o status de “país terceiro”.

Von der Leyen afirmou que a União Europeia está disposta a fechar com Londres “um acordo de livre-comércio com tarifas zero e cotas zero”. “Isso seria único”, assinalou. Para ela, a pré-condição para isso os monopólios europeus e britânicos “continuem competindo em igualdade de condições” e que as normas econômicas sejam semelhantes. “Não vamos expor nossas empresas à concorrência desleal”.

Já para Johnson, a verdadeira ‘cláusula pétrea’ é assegurar os privilégios da City londrina, o centro de especulação internacional em prol do qual o thatcherismo devastou a indústria britânica e privatizou a rodo.

A Grã Bretanha estava no bloco europeu desde 1973. Com a prevalência da marquetagem de Johnson e do apelo à xenofobia pelas fake news, a alternativa de o Brexit ser um caminho para a renacionalização de setores estratégicos, redução da desigualdade e preservação de conquistas como o Sistema Nacional de Saúde (NHS), está, por hora, bloqueado.