O líder trabalhista Jeremy Corbyn defendeu alternativas à desigualdade, ao arrocho e aos acordos comerciais com Trump”. (Jessica Taylor via Reuters)

O parlamento britânico aprovou na terça-feira (29) a antecipação de eleições para 12 de dezembro por 438 votos a favor e 20 contra. A proposta só precisava de maioria simples (50% + 1), ao contrário da votação da noite anterior, em que eram necessários dois terços.

Na avaliação do jornal The Guardian, pode vir a ser “a eleição mais imprevisível em uma geração”. A última vez que os britânicos foram às urnas em dezembro foi em 192

A antecipação das eleições deverá ser aprovada sem dificuldades na Câmara dos Lordes, e o parlamento se dissolverá na próxima quarta-feira para uma curta campanha eleitoral de cinco semanas

Com seu Brexit “faça ou morra” do dia 31 de outubro tendo ido pelo ralo, a melhor alternativa que restou ao primeiro-ministro foi a disputa eleitoral – que ele admitiu que será “difícil” e nem desejava, mas de outro jeito a oposição teria “cortado e picotado” seu acordo Brexit “além do reconhecimento”.

O líder oposicionista Jeremy Corbyn considerou a antecipação da eleição como “uma chance única em uma geração de transformar nosso país”.

A aprovação tornara-se iminente com o anúncio dele de que estava pronto para uma “campanha de inverno ambiciosa e radical” após o Brexit sem acordo ser declarado oficialmente fora da mesa dada a prorrogação na segunda-feira, pela União Europeia, da data de saída até 31 de janeiro de 2020.

“Queremos poder dizer às pessoas deste país que há uma alternativa à austeridade. Existe uma alternativa para a desigualdade. Existe uma alternativa aos acordos comerciais com Donald Trump”, enfatizou o líder trabalhista.

Corbyn reiterou seu apoio a uma eleição geral porque “queremos que este país se livre deste governo conservador imprudente e destrutivo”. “Um governo que fez com que mais de nossos filhos vivessem na pobreza, mais aposentados e mais trabalhadores da ativa estivessem na pobreza, mais famílias sem um lar para chamar de seu e mais pessoas dormindo nas ruas”, denunciou.

Corbyn afirmou que é hora de “uma mudança de verdade”, e condenou um governo que “cortou e vendeu muitos de nossos importantes serviços públicos” e que criou “um ambiente hostil e cruel aos nossos próprios cidadãos”.

Os liberal-democratas e os nacionalistas escoceses do SNP já haviam aderido à antecipação da eleição, mas preferiam a data de 9 de dezembro. Quando sua proposta de data foi rechaçada em votação, se abstiveram na votação sobre o dia 12, data afinal aprovada na quarta-feira (30).

A disputa pela data se deve, segundo analistas, a que, na data preferida de Boris Johnson, os estudantes – cujo voto tem sido majoritariamente pró-trabalhismo – já terão entrado de férias de fim de ano. Pela mesma razão, o governo Johnson também ameaçara recuar da convocação de eleições se aprovadas mudanças como a redução da idade de voto para 16 anos.

De acordo com The Economist, porta-voz do centro financeiro inglês, a City londrina, Corbyn “vem afundando a novas profundidades como mais impopular líder da oposição em 45 anos”, enquanto Johnson teria o apelo de “ter acabado de ganhar um novo acordo Brexit em Bruxelas”.

A revista admite, porém, que a eleição continua sendo “uma grande aposta para o primeiro-ministro, por várias razões”. O mote de campanha de Boris Johnson será “deixem o Brexit ser feito” e, para melhorar as chances dos conservadores, ele readmitiu 10 dos 21 parlamentares que expulsara antes.

As pesquisas colocam os conservadores dez pontos percentuais à frente dos trabalhistas, mas como na eleição em que a então primeira-ministra Theresa May tinha o dobro da vantagem seu partido perdeu a maioria, muita água vai rolar debaixo da ponte. Estudos apontam que um terço dos eleitores trocaram de partido nas últimas duas eleições.

Já Corbyn chamou os eleitores a barrarem os Tories (conservadores), que acham que “nasceram para governar”. Ele afirmou que os trabalhistas terão uma “mensagem de esperança real onde esse governo nada oferece”.

Quase metade da bancada trabalhista, a ala blairista, ausentou-se na votação ou simplesmente votou contra. Do seu “Instituto Blair”, o ex-primeiro-ministro e notório criminoso de guerra segue entusiasta da permanência na UE a qualquer preço e advertindo que a luta “contra o não acordo” terá um segundo turno, sob novo governo, durante o período de transição em que será negociado um acordo definitivo de convivência entre os britânicos e o bloco europeu.

O Partido Brexit, de Nigel Farage, buscará ganhar bases dos conservadores, repetindo o desempenho nas eleições ao Parlamento Europeu, e apelando por um Brexit sem acordo.

“Nossa melhor chance de um governo para impedir o Brexit”, justificou-se Jô Swinson, a líder dos liberal-democratas, pró-permanência, em sua defesa da antecipação das eleições e de olho nos eleitores trabalhistas contrários à saída da UE.

A campanha liberal-democrata deverá ter como centro o “Pare o Brexit”, através da revogação do artigo 50, de data de saída da União Europeia, e são esperadas alianças com o Plaid Cymru do País de Galles e com os verdes.

À bancada de seu partido – em boa parte constituída pela ala blairista -, Corbyn disse que apoiava uma eleição geral porque “queremos que este país se livre deste governo conservador imprudente e destrutivo”.

Corbyn afirmou que é hora de “uma mudança de verdade”, e condenou um governo que “cortou e vendeu muitos de nossos importantes serviços públicos” e que criou “um ambiente hostil e cruel aos nossos próprios cidadãos”. Ele asseverou que os trabalhistas estão “ansiosos” por fazer campanha – inclusive no distrito eleitoral de Johnson, em Uxbridge.