Parlamentares usaram as redes para criticar medida do governo. PCdoB entrou na Justiça por dados

Deputados do PCdoB renunciaram a sonegação de dados e completa falta de transparência por parte do governo federal no que diz respeito à pandemia do novo coronavírus no Brasil. Enquanto lamentamos o falecimento de quase 40 mil pessoas por causa da doença – número altíssimo que deve ser menor do que o real por causa da enorme subnotificação –, o ministério da Saúde promoveu uma “confusão” na divulgação dos dados sobre a doença no domingo (7).

No primeiro balanço, apontava 1.382 mortes nas últimas 24 horas, elevando o total de óbitos para 37.312. Já num segundo balanço, o painel oficial do ministério informava apenas 525 óbitos, somando 36.455 mortes desde o início da pandemia no Brasil. A diferença na apuração das mortes das últimas 24 horas entre os dois balanços é de 857 pessoas.

Para o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), “o governo Bolsonaro segue mostrando toda sua incapacidade e incompetência, fazendo confusão com dados importantes depois de tentar omiti-los”. “Essa é uma crise mundial e o mundo precisa de transparência com esses números”, apontou o parlamentar.

“Só no Brasil o governo decide mascarar dados totais de mortes por Covid-19. Onde vamos parar com a realidade da pandemia sendo escondida da população? Inaceitável”, afirmou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

A “confusão” do Ministério da Saúde se estendeu ao número de casos informados nas últimas 24 horas. Enquanto o primeiro balanço indicava 12.581 casos, levando o total de casos confirmados para 685.427, o segundo balanço apontava para 18.912 casos a mais da doença, somando 691.758 casos.

Recontagem

Os números de mortes e casos confirmados viraram motivo de polêmica desde a noite de sexta-feira (5), quando o Ministério da Saúde deixou de apresentar dados consolidados sobre a doença.

Desde então, uma série de ameaças de sonegação de dados e recuos, por meio de notas do Ministério da Saúde aconteceram.

Na ocasião, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) não poupou críticas às ações do governo Bolsonaro. “É digna de pena a indigência intelectual do governo Bolsonaro. A novidade é retardar o informe diário do número de mortos, como coisa que isso fosse esconder o fato irrefutável: estão morrendo mais de 1000 brasileiros por dia diante da omissão criminosa de Bolsonaro. Chega a ser constrangedor pensar que o presidente da República acredita que tal infantilidade, embora atente contra a transparência na administração pública, impedirá que a informação venha à tona. Seria risível, não fosse absurdo”, destacou.

O deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE) afirmou que manipular dados não irá tirar a responsabilidade do governo pelas vidas perdidas. “Pra enganar os brasileiros, Bolsonaro já atrasou a divulgação dos dados da pandemia, já cancelou as coletivas de imprensa e já maquiou não sei quantas vezes as planilhas. Agora quer recontar o número de mortos. Enquanto isso boicota o auxílio aos estados e o isolamento social. Omitir informações da pandemia não vai salvar vidas! Recontar número de mortos não vai diminuir a dor das milhares de vidas que perdemos”, afirmou.

Ações

As anunciadas mudanças na metodologia de compilação e divulgação dos dados da Covid-19 provocou reação de parlamentares, de especialistas e da justiça. O Ministério Público Federal instaurou um procedimento para averiguar o caso e deu um prazo de 72 horas para que o ministro interino, Eduardo Pazuello, apresentasse explicações.

Além disso, PCdoB, Psol e Rede entraram com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) cobrando a divulgação dos dados de Covid-19 no Brasil.

Segundo a petição, a restrição de divulgação das informações pelo Poder Executivo é uma clara “violação a preceitos fundamentais da Constituição, sobretudo ao direito à vida e saúde do povo, bem como do dever de transparência da administração pública e do interesse público”.

Para a líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC), o governo não tem o direito de esconder as informações. “Exigimos que o governo cumpra os princípios da gestão e da administração pública de moralidade, da impessoalidade, da divulgação dos fatos e da transparência. A população brasileira tem direito de saber o que está acontecendo no país com essa pandemia. O governo Bolsonaro não tem o direito de esconder”, ressaltou.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) afirmou que “a sonegação de dados da pandemia é crime”. “Desarma a sociedade e as autoridades sanitárias contra a grave doença que causa o novo corona vírus”, afirmou.

A deputada Professora Marcivânia também comentou o assunto. Para ela, “é um direito dos brasileiros saberem como e em que proporção a pandemia os afeta. É uma informação de altíssimo interesse público. Negá-la ou manipulá-la é coisa de regimes autoritários”.

Para o deputado federal Márcio Jerry (PCdoB-MA), a dita intenção de recontar mortos, seguida pelo sumiço dos números, reflete a “lógica genocida” do governo Bolsonaro. “Neste momento a pauta do Min da Saúde do governo Bolsonaro é recontar o número de mortos. Gastar tempo e recursos para recontar mortos encobre dados reais importantes, não recupera a vida de ninguém e impede que muitas vidas sejam salvas”, escreveu numa rede social.

Imprensa pela transparência

Em resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro de restringir o acesso aos dados sobre a pandemia de Covid-19, os veículos O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo, O Globo, G1 e UOL decidiram formar uma parceria e trabalhar de forma colaborativa para buscar as informações necessárias nos 26 estados e no Distrito Federal.

Em uma iniciativa inédita, as equipes desses veículos vão dividir tarefas e compartilhar as informações obtidas para que os brasileiros possam saber como está a evolução e o total de óbitos provocados pela Covid-19, além dos números consolidados de casos testados e com resultado positivo para o novo coronavírus.

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), depois de publicar nota repudiando veementemente a postura do governo e a acusação contra os secretários de Saúde, também lançou uma plataforma na qual vai apresentar os dados compilados, sempre às 18 horas, da situação do coronavírus no Brasil.