Na contramão da história, o Ministério da Defesa divulgou, nesta quarta-feira (30), nota celebrando os 58 anos do infame golpe militar de 1964. A exaltação a um dos episódios mais tristes da vida política brasileira é um ataque ao Estado Democrático de Direito e ignora completamente as prisões, torturas e mortes contra aqueles que resistiram e combateram a ditadura militar.

A ordem do dia, assinada pelo ministro Braga Netto e pelos três comandantes militares, ressaltou que “o Movimento de 31 de março de 1964 é um marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época”.

O texto recebeu duras críticas de parlamentares e diversas personalidades. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes diz que outros valores deveriam ser comemorados na data: “O dia 31/03 não comporta a exaltação de um golpe que lançou o país em anos de uma ditadura violenta e autoritária. Ao contrário: é momento de exaltar o valor da nossa democracia conquistada com suor e sangue. Viva o Estado de Direito”.

O líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, deputado federal Renildo Calheiros (PE), considerou que o dia 31 de março é uma oportunidade de reafirmamos a democracia e os valores do Estado democrático de direito. “Relembrar o golpe de 64 faz com que renovemos nossas forças na luta contra retrocessos do governo Bolsonaro. Não permitiremos que essa história nefasta se repita no Brasil”, disse.

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) considerou espúria a nota dos militares. “é vergonhosa falsificação histórica a ordem do dia que o ministério da defesa soltou sobre o golpe militar de 1964. o titular do cargo mendiga a vice na chapa do genocida, humilhando e submetendo instituições de Estado. está tudo em minúsculo para dialogar com a moral dessa laia”, escreveu no Twitter.

“31 de março: 58 anos do golpe militar! A ditadura foi um período sangrento da nossa história. Tortura, mortes, prisões, imprensa censurada, Congresso fechado. É lamentável hoje as Forças Armadas afirmarem que o golpe de 64 foi um ‘marco histórico’ da política brasileira. Foi uma época de terror e autoritarismo. Precisamos lembrar para que nunca mais aconteça e fortalecer a luta contra todos os ataques à democracia que estamos vivendo neste governo Bolsonaro”, afirmou a deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA).

Vice-líder da Minoria na Câmara, deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), diz que é preciso tirar lições do episódio: “31/03/1964. Dia para ser sempre lembrado. Para que nunca mais aconteça. Para que as novas gerações saibam o que é viver sob o manto do autoritarismo, da censura, da tortura. Está em nossas mãos banir os que insistem em trazer esse passado vergonhoso de volta. DITADURA NUNCA MAIS!”

“O General Braga Neto terá que responder pela mentira criminosa que é a nota do Ministério da Defesa saudando a ditadura, um golpe que matou, sequestrou, torturou e perseguiu milhares de brasileiros. Apologia à ditadura não será tolerada!”, reagiu o líder da Minoria, deputado federal Alencar (PT-SP).

A líder do PSOL, deputada federal Sâmia Bomfim (SP), considerou que a nova tentativa do governo de comemorar o golpe de 1964 é um atentado contra o Brasil e a democracia. “A bancada do PSOL acaba de acionar o MPF contra Bolsonaro e Braga Neto por danos morais coletivos e exigindo a imediata retirada dessa nota do ar”, anunciou.

Senadores

O líder da Oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), rememorou a fala histórica de Ulysses Guimarães: “Traidor da Constituição é Traidor da pátria. Temos ódio e nojo à ditadura!”. “Os que amam o autoritarismo e atacam a democracia não ficarão impunes. A história conta: não passarão! #DitaduraNuncaMais”, postou.

No Twitter, o senador Fabiano Contarato (PT-ES) escreveu: “Qualquer tipo de exaltação a um Governo que matou, torturou, sequestrou e acabou com a dignidade de tantos seres humanos, é inaceitável! A Ditadura precisa ser lembrada com um único propósito: o de NUNCA MAIS voltar a acontecer. Nossa Democracia é o bem mais valioso que temos”.

 

Por Iram Alfaia
(PL)