Dois parlamentares australianos, Andrew Wilkie e George Christensen, visitaram o jornalista Julian Assange, fundador do mais importante portal de denúncias do mundo, o WikiLeaks, na terça-feira na prisão de Belmarsh, em Londres.
Foi a primeira ação importante do grupo parlamentar australiano formado em outubro passado e presidido por Wilkie e Christensen, que luta para que a extradição aos EUA seja bloqueada e Assange seja devolvido à sua Austrália natal. A visita é parte do clamor na Austrália pela libertação de quem é hoje, talvez seu mais ilustre cidadão.
Em conferência de imprensa fora do estabelecimento de segurança máxima, após a visita, Wilkie e Christensen concordaram com a descoberta do Relator Especial das Nações Unidas sobre Tortura, Nils Melzer, de que Assange foi vítima de tortura psicológica de parte de governos como Suécia, Grã Bretanha, EUA e Equador.
Wilkie, um deputado independente, e Christensen, um representante do Partido Nacional Liberal (LNP), que está na coalizão de governo, viajaram para a Grã-Bretanha para ver Assange às suas próprias custas. Eles o fizeram nas vésperas das audiências de extradição britânicas a partir de 24 de fevereiro, que determinarão se Assange será entregue para os EUA, onde é acusado de “espionagem”, sujeito a 175 anos de cárcere, por expor crimes de guerra norte-americanos no Iraque e no Afeganistão..
Antes de prestarem solidariedade a Assange, os dois parlamentares australianos se reuniram com seus os advogados. John Shipton, pai de Assange, que também estava presente, agradeceu aos deputados por sua visita.
Após deixar a prisão, apelidada de “Guantánamo britânica”, Wilkie descreveu Assange como “claramente um homem sob muita pressão”. Ao notar que ele não era médico, Wilkie disse que sua discussão de uma hora com Assange o deixou “sem motivo para duvidar da avaliação do Relator Especial da ONU sobre Tortura Nils Melzer, quando disse que Julian exibe os sinais de alguém que sofreu tortura psicológica”.
Apesar de não estar mais no confinamento solitário na ala hospitalar, como comprovou Wilkie, Assange é obrigado a ficar sozinho por mais de 20 horas por dia, apesar de estar em uma ala onde há cerca de 40 presos. “Para todos os efeitos, uma pessoa razoável diria que ainda é um confinamento solitário”, sublinhou o parlamentar.
Os parlamentares australianos denunciaram o contínuo desrespeito aos direitos de Assange de parte das autoridades de Belmarsh, mesmo nos dias que antecedem suas audiências de extradição.
Os dois haviam marcado uma visita com Assange com muita antecedência no domingo passado, o que foi cancelado sem motivo, forçando-os a remarcar para ontem.
Desde sua prisão pela polícia britânica em abril passado, os advogados de Assange se queixaram de ter acesso extremamente limitado ao cliente, enquanto suas “visitas sociais” eram restritas a um mínimo.
“Saio de Belmarsh com absoluta certeza de que ele se tornou um prisioneiro político deste país e que os EUA estão determinados a extraditá-lo”, afirmou Wilkie. Ele classificou de “loucura” a insistência do Reino Unido na perseguição a Assange. “O Reino Unido deveria estar dizendo ao presidente dos EUA: ‘recue’.”
Wilkie exigiu do primeiro-ministro australiano Scott Morrison que intervenha em defesa de Assange, que não cometeu nenhum crime. Como registrou, o fundador do WikiLeaks estava sendo perseguido apenas por ter “atuado como jornalista e exposto evidências concretas de crimes de guerra americanos”.
“Não houve espionagem. Não houve hackers. Era apenas uma pessoa fazendo a coisa certa e publicando informações importantes para o interesse público e, francamente, é um escândalo internacional que ele esteja preso nessas condições como prisioneiro político”, acrescentou o parlamentar.
Christensen apontou que era evidente que a prolongada detenção de Assange havia “cobrado seu preço … Estava claro que seu estado mental não era bom e que sua saúde não era boa. Quando perguntei como ele estava, ele disse imediatamente ‘Não estou bem’.”
Christensen relatou, ainda, que Assange havia falado sobre sua família, incluindo sua mãe Christine, que foi afetada pela recente crise de incêndios florestais na Austrália, e seus filhos. Assange – ele enfatizou – “não é a caricatura que foi feita para ser”, mas uma “pessoa real” cujos direitos têm que ser respeitados.
Christensen, cujo partido faz parte da coalizão do governo, pediu a Canberra que tome medidas para garantir que Assange não seja extraditado.
É grande a simpatia do povo australiano por Assange, ressaltaram os dois parlamentares. “Julian tem muitos apoiadores em todo o mundo e muitos deles estão na Austrália. O número está crescendo dia a dia”, destacou Wilkie, denunciando a enorme injustiça contra Assange. “Espero que haja protestos em todo o mundo”, concluiu.