Duas pessoas foram esfaqueadas diante do antigo prédio do Charlie Hebdo | Foto: Gonzalo Fuentes/Reuters

Já está preso o rapaz de 18 anos acusado de esfaquear duas pessoas diante do antigo prédio em que funcionava o Charlie Hebdo, que agora republicou as charges tidas por muitos muçulmanos como ofensivas, por motivo do julgamento dos terroristas envolvidos no atentado de 2015, em que 12 jornalistas e chargistas foram mortos dentro da redação, a tiros de fuzil, e quatro ficaram feridos.

O suspeito, um paquistanês sem antecedentes criminais nem sob vigilância de órgãos antiextremismo, foi preso logo em seguida, na região da Bastilha, ainda com as roupas sujas de sangue.

Outro suposto autor foi capturado mais tarde em uma estação de metrô e seria um argelino de 33 anos.

Dos feridos, um está em estado grave, mas fora de perigo. Os dois, um homem e uma mulher que trabalham na produtora de vídeo Premières Lignes, localizada no prédio, haviam saído para fumar.

De acordo com o jornal Le Monde, a agência antiterrorismo francesa abriu uma investigação por “tentativa de assassinato em conexão a um grupo terrorista” e “associação criminosa terrorista”. Até a situação ser considerada sob controle, a região ficou sob pânico, com escolas e estações de metrô fechadas.

Entidades muçulmanas francesas, que condenaram o ataque à faca, denunciaram que o fato está sendo usado para infundir ódio ao Islã, apresentado pela mídia como sinônimo de terrorismo.

Tanto assim que o ministro do Interior do governo Macron, Gerald Darmanin, qualificou o ataque com faca de açougueiro como “claramente” um ato de “terrorismo islâmico”. Ele também admitiu “descuido” em relação ao local, mesmo com o Charlie já tendo se mudado dali há quatro anos.

O Charlie Hebdo se pronunciou sobre o ataque, dizendo que “a intolerância e o extremismo” seguem presentes na sociedade francesa. Ao republicar os cartuns que muitos crentes muçulmanos consideram ofensivos e blasfesmos, o Charlie brandiu seu apreço à “liberdade de expressão”.

Um apreço que é importante, mas não pode servir arrimo para desconsiderar e desrespeitar as crenças e sentimentos alheios, principalmente os de minorias religiosas.

Caso dos muçulmanos na França, aliás, ex-potência colonial de terras de maioria muçulmana como a Argélia, Síria e Líbano. Onde, especialmente na Argélia, a folha corrida de crimes coloniais e tortura é extensa.

Um colonialismo em cuja reedição vem agravada sob três décadas de guerra de ocupação contra os países islâmicos [e cheios de petróleo] de parte dos países ocidentais que causaram milhões de refugiados, centenas de milhares de mortos e ainda mais mutilados, em uma devastação de nações inteiras – aí estão Líbia, Síria, Iraque, Afeganistão (“sete países em cinco anos”, disse um ex-chefe militar da Otan).

A facada em Paris causou indignação e acusações de terrorismo; o empalamento do líder líbio Muammar Kadhafi, numa intervenção patrocinada pela França e por Washington, nem tanto.

No julgamento dos autores da chacina do Charlie de 2015, foram levados aos bancos dos réus 14 pessoas, acusadas de envolvimento. Os dois principais perpetradores foram caçados e mortos naquele ano. O massacre foi repudiado no mundo inteiro.

A Al Qaeda, que assumiu o atentado contra o Charlie, como é amplamente sabido foi uma criação dos serviços secretos sauditas, paquistaneses, mais a seita wahabita. Todos sob comando da CIA, para sabotar a revolução popular no Afeganistão. O fato de que, depois, a criatura tenha se voltado contra o criador não nos permite esquecer causas, interesses e motivações.

*