Só na França mais de 30% da população é chamada a redobrar esforços contra o coronavírus | Foto: Eco Clemente/UPI

Começa neste sábado (17) a vigorar em Paris e mais oito cidades francesas o toque de recolher de 21 horas às 6 horas da manhã seguinte na tentativa de conter o ressurgimento da Covid, que ultrapassou na França os 30 mil casos diários. Um terço da população francesa será afetada pela medida, prevista para durar pelo menos um mês.

Sob enorme avanço dos casos de contágio e temor generalizado de uma segunda onda da pandemia à medida que o inverno se avizinha, a maior parte da Europa está em estado de alerta e prepara o endurecimento das medidas em vigor contra o coronavírus, casos da Grã Bretanha, Itália, Alemanha, Portugal, Bélgica, Polônia, República Checa e outros países.

Após a traumática experiência de virar o novo epicentro da pandemia, logo depois da China – como visto particularmente na Itália, Grã Bretanha, França e Espanha -, a Europa tinha controlado na medida do possível o contágio, a ponto de no início de agosto o número de novos casos diários ter caído para menos de 20.000. Dias que ficaram inteiramente para trás, com a dura realidade de até 130 mil casos diários esta semana.

Embora reflita em parte o aumento da testagem, a alta do número de casos diários na Europa no período recente foi dramática, com Reino Unido, França e Espanha tendo cada um ultrapassado os Estados Unidos em casos diários per capita, apesar de que nos EUA o quadro também é de alta na maioria dos estados. Espanha e França voltaram à lista dos dez países com maior número de casos, deixando para trás o México.

Para o chefe do departamento europeu da Organização Mundial da Saúde (OMS), Hans Kluge, a “evolução da situação epidemiológica na Europa suscita grande preocupação”. Ele pediu aos países europeus rigor no controle do coronavírus enquanto as medidas são “relativamente fáceis” e antes que se torne inevitável o retorno ao “caminho da severidade”.

Essas medidas – enfatizou – têm como objetivo “nos manter à frente da curva e nivelar seu curso”.

Como assinalou Bertrand Levrat, diretor-geral dos Hospitais da Universidade de Genebra, o maior complexo hospitalar da Suíça, a Europa está em um “ponto de inflexão” na luta contra a Covid-19, no momento em que é preciso fazer frente à pandemia, apesar do cansaço do público em relação às restrições e do esgotamento das equipes médicas.

Expressão dessa situação, na quinta-feira a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen teve de deixar uma reunião após um assessor testar positivo para a Covid. No dia seguinte, foi a premiê da Finlândia, Sanna Marin, que precisou fazer o mesmo, após contato com um parlamentar finlandês infectado com coronavírus.

Só na França, cerca de um terço da população está sendo chamado a redobrar os esforços de contenção do coronavírus. 84 departamentos, de um total de 101, são considerados em situação de vulnerabilidade elevada em razão da devido à forte circulação do vírus.

A violação do toque de recolher será punida com uma multa de € 135 (cerca de R$ 887), valor que em caso de reincidência sobe para € 1,5 mil (R$ 9,8 mil). Estão proibidas festas e celebrações privadas.

“Temos que reagir. Estamos em uma situação preocupante”, afirmou o presidente Emmanuel Macron, apesar de negar que a situação haja saído do controle. “O objetivo é reduzir os contatos particulares, que são os contatos mais perigosos”, acrescentou, em entrevista em rede nacional de TV. O trabalho em casa está sendo estimulado. Bares e restaurantes estão sob protocolos mais rigorosos e deverão manter um cadastro dos clientes.

“Nossos compatriotas pensaram que esta crise de saúde havia ficado para trás”, disse o primeiro-ministro francês, Jean Castex. “Mas não podemos viver normalmente enquanto o vírus ainda estiver por aqui.”

O diretor da agência de saúde pública da região de Paris, Aurélien Rousseau, afirmou que quase metade dos leitos de terapia intensiva da região está ocupada por pacientes com covid-19, e que outros leitos de hospitais também estão sendo ocupados rapidamente. “É uma espécie de onda de primavera que afeta todos simultaneamente”, disse Rousseau.

“Tínhamos um ponto cego em nossas políticas de rastreamento. Eram a esfera privada, os eventos festivos”, advertiu.

Em defesa da adoção do toque de recolher, o ministro da Economia e Finanças, Bruno Le Maire, disse que a alternativa de aplicar um confinamento geral nessas zonas teria um custo econômico de 5 bilhões de euros.

LONDRES FECHA PUBS

Nove milhões de londrinos retornaram ao ‘alerta 2’ (ou ‘alto’), que limita reuniões a seis pessoas, proíbe o encontro com pessoas de fora de seu domicílio e força pubs e restaurantes a fecharem às 22 h. Liverpool já está no nível máximo de restrições – 3-, com o fechamento de bares e “pubs” que não vendem comida. As medidas mais rígidas já atingem metade da população inglesa. No norte da Inglaterra, autoridades locais exigiram maior apoio financeiro para os trabalhadores afetados pelos bloqueios.

Na Irlanda do Norte, as escolas foram obrigadas a fechar por duas semanas e os bares e restaurantes por um mês, e a venda de bebidas alcoólicas foi proibida depois das 20 horas. Na sexta-feira (16) o Reino Unido registrou 19.724 novos casos diários e 137 mortes por covid-19, elevando o número total de vítimas desde o início da pandemia para 43.155.

Na Alemanha, após comunicado do Instituto Robert Koch de que os contágios diários chegaram ao patamar dos 7.000 pela primeira vez desde o início da pandemia, a primeira-ministra Ângela Merkel chamou a “frear este crescimento exponencial”. Berlim e os 16 governos estaduais decidiram endurecer o uso de máscara e o fechamento mais cedo de bares, além de limitar o número de pessoas que podem ser reunir em áreas onde as taxas de infecção estejam altas.

O RKI estima que o valor R, fator que indica a capacidade de propagação da doença, era de 1,08 nesta quinta-feira. Isso significa que 100 pessoas infectadas contaminam, em média, outras 108 pessoas.

Em cidades como Hamburgo, é obrigatório o uso de máscara entre 12 e 22 horas. Na sexta-feira, Helge Braun, chefe de gabinete de Merkel, disse que vê a Alemanha “no início de uma segunda onda realmente grande”. Situação que considerou “significativamente mais séria” do que durante a primavera europeia, auge da pandemia no continente.

Braun pediu às autoridades locais e estaduais que reajam rapidamente ao aumento no número de casos, antes que seja ultrapassado o limite de 50 novas infecções por 100.000 habitantes em sete dias, nível definido pelo governo alemão para que uma área seja considerada de risco. Ele também destacou que o lazer é geralmente o motor da infecção, especialmente festas e viagens. O número de bairros ou cidades que ultrapassam 50 infecções por semana por 100 mil habitantes subiu para 70.

Pela nova regra, se uma área registrar mais de 35 novas infecções por 100.000 habitantes em sete dias, as máscaras se tornam obrigatórias em todos os lugares onde pessoas têm contato próximo por um período prolongado.

Um tribunal de Berlim revogou na sexta-feira (16) o fechamento noturno de bares e restaurantes, ordenado há uma semana pelo governo regional da capital da Alemanha, atendendo a proprietários de bares. O tribunal considerou o fechamento “desproporcional”, mas manteve a proibição de consumo de álcool no período.

A República Checa, que tem o pior índice per capita europeu de casos diários, 660 por 100 mil habitantes, estabeleceu um bloqueio parcial de três semanas, fechando escolas, bares e clubes. Os casos diários atingiram um recorde de quase 10.000. Hospitais começaram a suspender operações sem urgência para liberar leitos e um hospital de campanha foi reaberto na capital, Praga. Sem a obrigatoriedade do confinamento, a população checa foi orientada a ficar em casa e sair apenas se for indispensável, como para trabalhar ou comprar itens essenciais.

10 MIL NOVOS CASOS EM 24 H NA ITÁLIA

A Itália ultrapassou na sexta-feira o limite simbólico de 10.000 novos casos de Covid-19 em 24 horas. “Entramos em uma nova fase com o aumento das infecções, então é necessário mais rigor”, afirmou o primeiro-ministro Giuseppe Conte. O uso da máscara é obrigatório em todo o país sob pena de multa até 1.000 euros (cerca de $ 900).

As novas restrições incluem proibição de festas particulares, horários mais rígidos para bares e restaurantes e limitação de seis pessoas em casa. Casamentos e batizados devem ter no máximo 30 convidados.

O governo Conte, segundo a imprensa italiana, avalia a possibilidade de seguir o exemplo da França e decretar toque de recolher à noite. As regiões mais afetadas são a Campânia (Nápoles), Lombardia (Milão) e Piemonte (noroeste).

Os contágios estão em alta pela décima primeira semana consecutiva, e a maioria ocorreu em casa (80,3%). Dramaticamente atingida pela Covid no início do ano, a Itália tem quase 400 mil contágios e mais de 36 mil mortes.

Com essas medidas, o governo busca evitar um novo confinamento no país inteiro. “Fechar tudo seria muito prejudicial em um momento em que a economia começa a dar sinais de recuperação”, disse Conte à margem do Conselho Europeu de Bruxelas, de acordo com o jornal Il Corriere della Sera. Também está em análise a volta ao estudo à distância e fechamento das escolas.

A Bélgica anunciou o fechamento de bares e restaurantes por quatro semanas para tentar conter a disseminação da Covid, medida que até então estava restrita à região de Bruxelas.

Na Espanha, a região mais afetada é Madrid e seu entorno. Na Catalunha, bares e restaurantes fecharam. Outras regiões autônomas, como Galícia, Andaluzia e Castela e Leão, emitiram ordens para limitar deslocamentos em áreas de alta incidência da Covid.

A Holanda fechou bares e restaurantes esta semana mas manteve as escolas abertas. A Polônia registrou um recorde de quase nove mil novos casos na quinta-feira. Desde sábado, o uso de máscaras é obrigatório ao ar livre e foram impostos limites rígidos ao tamanho das reuniões de pessoas. Eslováquia, Eslovênia, Croácia e Bósnia também relataram números recordes de contaminações diárias.

Portugal encontra-se desde quinta-feira em estado de calamidade, com as reuniões sociais limitadas a um máximo de cinco pessoas. Entre os focos mais preocupantes estão os estudantes universitários e as residências para idosos. O governo enviou ao parlamento proposta para tornar obrigatório o uso de máscaras em público. Casamentos ou batizados, no máximo com 50 pessoas. Com uma média de mais de dois mil contágios por dia, Portugal tenta controlar a pressão sobre a rede hospitalar, que nas últimas horas foi de 993 internamentos, mais 139 em unidades de cuidados intensivos (UCI).

A Rússia registrou nas últimas 24 horas um total de 15.150 novos casos de covid-19, um novo recorde de infecções diárias desde o início da epidemia. De acordo com estatísticas oficiais, no último dia também houve 232 mortes por covid-19, o que eleva o número total de mortes por esta doença para 23.723.

A principal fonte de infecção no país desde o início da epidemia é Moscou, que acrescentou 5.049 casos e 54 mortes por coronavírus ao registro diário.

Para conter o avanço da epidemia, a Câmara Municipal de Moscou ordenou o home office a pelo menos 30% da força de trabalho de empresas e organizações, se o trabalho remoto não afetar seu funcionamento, e recomendou que idosos com mais de 65 anos e doenças crônicas fiquem em casa.