“A China não vai ceder em questões de princípio. A China não quer uma guerra comercial, mas não tem medo de lutar se necessário”, afirma o livro branco sobre o impasse nas negociações entre Pequim e Washington, apresentado em uma conferência de imprensa no domingo (2). No fim de semana em que entraram em vigor as novas tarifas norte-americanas e consequente réplica chinesa, Pequim anunciou também que irá elaborar uma lista de “empresas não confiáveis”, que rompem unilateralmente contratos e fornecimentos à Huawei. Também foi aberta uma investigação sobre o desvio, pela FedEx, de embarques destinados à Huawei.

O vice-ministro chinês do Comércio, Wang Shouwen, um dos negociadores chineses, afirmou que se o lado norte-americano “quiser usar pressão extrema, escalar atritos comerciais, visando forçar a China a se submeter e fazer concessões”, apenas obterá o fracasso.

Shouwen acrescentou que os EUA “constantemente quebraram suas promessas, eram insaciáveis em suas demandas sobre coisas que violam a soberania chinesa e continuam insistindo em manter tarifas sobre produtos chineses”.

O livro branco do governo chinês responsabiliza o regime Trump pela crise nas negociações comerciais e tecnológicas com os EUA, e considera “irresponsáveis” as atitudes norte-americanas nas conversações.

A última rodada de negociações ocorreu em 10 de maio em Washington, com o governo Trump confirmando o aumento de 10% para 25% das tarifas sobre US$ 200 bilhões de produtos chineses, respondido por Pequim com aumento similar sobre US$ 60 bilhões em produtos norte-americanos.

Na guerra comercial de Trump, a alta das tarifas sobre produtos chineses foi acompanhada pelo assédio à Huawei, líder mundial na tecnologia 5G, com a proibição de fornecimento de semicondutores e software norte-americano, e inclusão da gigante tecnológica chinesa em uma “lista negra”.

LISTA DAS “NÃO-CONFIÁVEIS”

Na sexta-feira, Pequim anunciou que está elaborando uma “lista de empresas estrangeiras não confiáveis”, em que serão incluídas empresas, entidades e indivíduos estrangeiros que violem as obrigações contratuais com contrapartes chinesas e as normas estabelecidas do comércio internacional, bloqueando ou fechando as cadeias de suprimento, ou que adotem medidas discriminatórias por motivos não comerciais.

Segundo a mídia, a China analisa ainda se replicará ao assédio de que suas empresas mais destacadas estão sendo vítimas, através da suspensão ou congelamento dos fornecimentos de terras raras, elementos chave para a produção de semicondutores e produtos eletrônicos, de que detém 80% da produção mundial.

Conforme o porta-voz do Ministério do Comércio, Gao Feng, a lista, que será revelada “num futuro próximo”, estará direcionada especialmente para empresas que bloqueiam empresas chinesas por razões que não têm nada a ver com negócios – como alegações de ‘segurança nacional’. Para sua elaboração, serão consideradas as normas internacionais e a legislação antitruste.

O assédio decretado pelo regime Trump já levou corporações do porte da Google, Qualcomm, Intel, Toshiba e ARM a anunciarem a interrupção do fornecimento de componentes e software à Huawei. Autoridades chinesas advertiram sobre o risco de disrupção das cadeias de suprimento globais por essa lógica de confronto, como evidenciado no fato de que produtos intermediários representaram 78% dos bens importados pela China em termos de valor, e 47,5% das exportações chinesas.

Segundo registrou o Global Times, provavelmente a China “concentrará seu fogo nas principais forças estratégicas tecnológicas dos EUA como ponto de partida, se Washington tentar fazer do seu poderio tecnológico uma arma para conter o soerguimento da China”.

Como Pequim tem reiterado desde que Washington rompeu as negociações, só é possível acordo sob condição de ser mutuamente vantajoso e se respeitadas a soberania e as leis chinesas. Não há ainda nenhuma confirmação sobre encontro entre o presidente Xi Jinping e o presidente Trump na próxima cúpula do G20 em Osaka, no Japão, em junho.

ALTA TECNOLOGIA

Ao romper as negociações com Pequim, o regime Trump colocou no centro de suas preocupações para fazer “a America novamente grande” a contenção do desenvolvimento tecnológico da China, da condição de “fábrica do mundo” para a de pólo de geração de alta tecnologio, objetivo do Plano Made in China 2025, que estabelece produção e projeto interno de 70% das necessidades do país na alta tecnologia, e de que a Huawei é símbolo.

O Made in China 2025 vai da computação quântica e inteligência artificial aos veículos autônomos, Internet das Coisas, materiais compostos, fármacos e genética. A Huawei, depois de superar a Apple nos smartphones, está na vanguarda das redes de alta velocidade 5G, de que é a maior detentora de patentes no mundo, dois a três anos à frente dos concorrentes, e produzindo um produto melhor e mais barato.

Como registrou o GT, a “lista de entidades estrangeiras não-confiáveis” não apenas protege os direitos das empresas chinesas como é também um forte golpe contra a ‘American Trap’ [a Armadilha Americana], o sistema de ação extraterritorial do Estado norte-americano para bloquear empresas estrangeiras que possam competir com empresas americanas ameaçando causar danos máximos, para forçar as competidoras a se renderem. A ‘American Trap’ foi denunciada pelo executivo da Alstom francesa em livro com esse título.