Representantes das operadoras Algar, Claro, Oi, Tim e Vivo defenderam a manutenção da empresa chinesa Huawei no mercado brasileiro, em reunião com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, na terça-feira (8).

As operadoras alertam que, caso a empresa chinesa seja banida do mercado, como defende o presidente Jair Bolsonaro, haverá atraso na implementação da tecnologia 5G e os elevados custos da troca dos equipamentos da Huawei terão que ser repassados aos consumidores.

Segundo as empresas, o veto à Huawei poderá custar até R$ 100 bilhões para as operadoras. As teles estimam, também, que paralisariam suas atividades em até três anos por conta da necessidade de troca de equipamentos em suas redes. A metade dessa infraestrutura, em alguns casos, são equipados pela Huawei.

Além disso, não há fornecedores no mercado capazes de corresponder a tal demanda de reposição desses equipamentos. Participaram da reunião os presidentes das operadoras Christian Gebara (Vivo), Pietro Labriola (Tim), Rodrigo Abreu (Oi), José Félix (Claro), Jean Borges (Algar) e o presidente da associação que representa o setor (Conéxis), Marcos Ferrari.

Atualmente, a Nextel, que pertence à Claro, e a Sercomtel utilizam os equipamentos da Huawei em quase 100% das suas redes. Na Vivo e Oi, a fabricante chinesa tem participação de cerca de 60%. Já na Claro e na Tim, esse peso é de 50% e cerca de 40%, respectivamente.

Segundo as operadoras, desde 2007, elas já investiram mais de R$ 150 bilhões na construção de redes 3G e 4G, cuja maior parte se dá em parceria com a Huawei, aparelhos que não conversam com os equipamentos 5G dos demais fornecedores.

Isso significa que, sem a troca do parque já instalado, a maioria de seus clientes não poderiam se comunicar com aqueles que migrarem para o 5G de outras empresas – no caso os dispositivos norte-americanos, que Bolsonaro quer empurrar ao consumidor brasileiro, motivado pelo servilismo aos interesses econômicos e comerciais dos EUA, país que perdeu a corrida tecnológica no setor de comunicações para as empresas chinesas e tenta, agora, obrigar governos sob sua influência a banirem a Huawei.

Esse contingente de brasileiros também ficará sem comunicação com os demais, até que haja a conclusão da troca de todos esses equipamentos. Em síntese, tanto para as operadoras quanto para os consumidores não há vantagem em excluir do mercado brasileiro a maior fornecedora de equipamentos de telecomunicações no Brasil e no mundo. A experiência aponta que países que adotaram este caminho estão pagando muito caro.

“O Reino Unido está passando por isso. Lá, calcularam entre 4,5 bilhões e 6,8 bilhões de libras esterlinas os custos das restrições à Huawei. Sem contar o atraso no desenvolvimento do 5G”, lembrou a presidente da Federação Nacional de Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e de Informática (Feninfra), Vivien Mello Suruagy, em entrevista na semana passada.

Segundo fontes ligadas ao Palácio do Planalto, Bolsonaro e seus ministros, Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores), estão discutindo meios para dificultar a participação da Huawei no leilão da tecnologia de 5G, que será realizado pela Agência Nacional de Telecomunicações, no próximo ano.

Entre as possibilidades em estudo, está a edição de um decreto em que o governo exigiria que os fornecedores de rede no Brasil tenham ações negociadas na Bolsa de Valores brasileira. Outra proposta seria exigir que as teles tenham dois fornecedores por localidade da prestação do serviço.

Atentas ao movimento de exclusão da Huawei, as operadoras avaliam recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) por entenderem que o veto a Huawei fere diretamente o princípio constitucional da livre iniciativa. A fabricante chinesa também não descarta ir ao STF para garantir seus direitos, repetindo a estratégia adotada na Suécia. Caso isso ocorra, o leilão da tecnologia 5G no Brasil poderá ser paralisado até o julgamento do caso.

Nesta semana, até o vice-presidente, Hamilton Mourão, sinalizou ser contrário ao plano de banimento da Huawei. “Hoje em relação à empresa chinesa Huawei, 40% da infraestrutura que temos hoje de 3G e 4G é dela. Então se por acaso houvesse dizer, ‘a Huawei não pode fornecer equipamento’, vai custar muito mais caro. Porque vai ter que desmantelar tudo que tem aqui, porque ela não fala com os equipamentos das outras. E quem é que vai pagar essa conta?

Somos nós consumidores” declarou Mourão, em palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), na segunda-feira (7).

No dia seguinte, Bolsonaro desautorizou o seu vice . “Ninguém vem falar (sobre) 5G comigo – e não está aberta a agenda para quem quer que seja a pessoa – a não ser que ela venha acompanhado (sic) do ministro Fábio Faria, das Comunicações”, disse Bolsonaro em evento no Planalto. “Repito, 5G ninguém fala comigo sem antes conversar com Fábio Faria”, insistiu.