Para o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) José Luís Oreiro, o plano de
enfrentamento da crise do Coronavírus anunciado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, é
pura “enrolação”.
“Enquanto o Ministro Guedes fica brincando de enrolar a sociedade brasileira com medidas

cosméticas, os países desenvolvidos montam programas colossais de aumento do gasto
público, entre os quais destacam-se o programa francês de cancelamento das contas de
aluguel, luz e água (as quais deverão ser pagas pelo Estado) ou ainda a proposta do Senador
Mitt Rommey do Partido Republicano dos EUA de dar US$ 1000 para cada americano adulto. O
enorme contraste entre a embromação de Paulo Guedes e as medidas radicais que estão
sendo postas em prática pelos países desenvolvidos mostra o grau de despreparo e
amadorismo do Ministro da Economia”, afirmou Oreio, em um artigo publicado em seu Blog
sob o título A Enrolação de Paulo Guedes – O Rolando Lero da Economia.
Na segunda-feira (16), Paulo Guedes anunciou seu plano de enfrentamento da crise do
coronavírus e voltou a defender sua agenda de reformas, que para diversos economistas vão
agravar a crise econômica no País.
Segundo Oreiro, a apresentação de apenas 6 slides (onde o primeiro é a capa) mostra o grau
de despreparo do ministro frente aos desafios que o Coranavírus trará para a economia
brasileira.
Nos slides “lê-se ‘Até 147,3 bilhões em medidas emergenciais’. Quando se lê no detalhe o que
está sendo proposto pelo Ministério da Economia vemos claramente que as medidas
propostas se resumem apenas a antecipações de gasto que seriam realizados ao longo de todo
o ano de 2020, mas que serão antecipados para o primeiro semestre de 2020. Segundo a
assessoria do Senador José Serra o pacote de Guedes prevê um aumento do gasto
orçamentário de apenas R$ 3 bilhões ao longo do ano de 2020. Para termos uma ideia de
montantes é como tentar parar um trem bala com o disparo de uma bala de revólver”, frisou
Oreiro.
O Professor da UnB alerta que as medidas de Guedes não atingirão os mais de 38 milhões de
trabalhadores informais (que vivem de bicos, sem carteira assinada, por contra própria).
“As medidas restritivas à locomoção de pessoas e realização de eventos irão afetar
pesadamente os trabalhadores informais e por conta própria que serão, do dia para a noite,
desprovidos de seus rendimentos e não terão acesso aos benefícios sociais proporcionados
aos trabalhadores formais como o seguro desemprego, FGTS e etc”, destacou.
Segundo Oreiro, para enfrentar essa situação, a proposta de Rommey poderia e deveria ser
adotada no Brasil, conforme sugeriu a partidos políticos e economistas, através de um
Programa Emergencial de Renda Universal. Na proposta, “cada brasileiro adulto, sem emprego
formal e com idade entre 14 e 65 anos, teria direito a sacar um valor equivalente a um salário
mínimo por mês, durante três meses, em qualquer agência da Caixa Econômica Federal, Banco
do Brasil (BB) ou lotéricas, apresentando apenas a sua identidade e CPF”.
“Um programa com essa abrangência poderia custar o equivalente a R$ 300 bilhões em um
ano. Considerando um valor de 1.5 para o multiplicador dos gastos do governo, o acréscimo de
PIB gerado por esse programa seria de R$ 450 bilhões. Como o setor público como um todo
arrecada cerca de 33% da renda na forma de impostos e contribuições, a arrecadação adicional
(relativamente ao cenário em que nada é feito) seria de R$ 150 bilhões, de forma que o déficit
primário aumentaria, coeteris paribus, em R$ 150 bilhões ou 2% do PIB. Considerando a
severidade da crise que o Brasil irá enfrentar – a exemplo do que outros países já estão
enfrentando – trata-se de um programa barato e com cobertura bastante ampla”, explicou
Oreiro.
Oreiro também denunciou que Paulo Guedes quer vender a Eletrobrás “na bacia das almas”,
ao propor a privatização da estatal em um momento que empresas estão sendo desvalorizadas
nas bolsas de valores.

“No primeiro slide vemos ‘medidas estruturantes’ onde se inclui ‘pacto federativo’, ‘PL da
Eletrobrás’ e ‘PLano Mansueto’, seja lá o que isso signifique. Me chamou especialmente
atenção um PL com o objetivo de vender a Eletrobrás no momento em que a bolsa de valores
no Brasil e no mundo acumulam baixa de mais de 40% nos últimos 2 meses. Só pode ser um
plano para vender, na bacia das almas, o que restou do patrimônio do povo brasileiro, sabe-se
lá para atender quais interesses. Qualquer gestor minimamente responsável diria que este não
é o momento adequado para se desfazer de ativos, mas o Czar da economia quer aproveitar
esse momento para fazer a privatização de uma empresa estratégica para os interesses
nacionais; esperar o que de uma pessoa que diz que ama os Estados Unidos?, questionou
Oreiro.
Ao concluir, Oreiro destaca que “a embromação” de Paulo Guedes pode levar “a economia
brasileira entrar em colapso”.
“Sem ter uma rede de proteção social capaz de impedir que milhões de brasileiros, nossos
irmãos, caiam na miséria absoluta, o resultado será caos social, saques a supermercados e
milhares de mortos”, disse o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), José
Luís Oreiro.