Lideranças e entidades representativas dos caminhoneiros afirmaram que a promessa de Bolsonaro de que dará um auxílio de R$ 400 aos 750 mil caminhoneiros autônomos para compensar o preço do combustível não passa de um blefe.

Anunciada às vésperas da greve da categoria, marcada para 1º de novembro, contra os aumentos abusivos dos combustíveis, a medida sequer foi detalhada pelo presidente, e foi considerada pelos dirigentes sindicais como “melzinho na chupeta”, “tapinha nas costas”, “esmola” e “ridículo”.

Entre as lideranças e que se pronunciaram após o anúncio de Bolsonaro, estão presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o Chorão; Carlos Alberto Litti, diretor da CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística), e o presidente da ANTB (Associação Nacional de Transporte do Brasil), José Roberto Stringasci.

“Não é aí que tem que atuar, tem que atuar em uma medida que mude a política de paridade com o mercado internacional, a chamada PPI, a paridade do preço internacional, uma vez que todos nós sabemos que o custo de produção da Petrobrás aqui no Brasil é o menor custo do mundo para extrair o petróleo”, afirmou Carlos Alberto Litti.

Aumentos abusivos

Litti declarou também que a “categoria sofreu no último ano com o reajuste de 51% do diesel S500, que é utilizado pelos caminhões mais antigos e aumento de 37,25% do diesel tipo S 10, usado por caminhões novos”. “Enquanto isso, o reajuste do frete ficou em apenas 1,58%”. Os dados foram divulgados em pesquisa feita pela FreteBras, empresa que realiza divulgação de fretes, veículos e serviços na área de transporte de carga.

Para Litti, o anúncio de Bolsonaro “não é uma boa notícia porque fundamentalmente ele não ataca a causa do problema”, mas sim um “efeito colateral”.

Em entrevista ao G1 no momento em que abastecia o caminhão em um posto, na quinta-feira (21), Litti conta que desembolsou R$ 819,52 por 177,002 litros de diesel e que “amanhã tem mais outra desta”.

Afirmando que o anúncio de Bolsonaro não vai interferir na mobilização da categoria, e que a greve está mantida, Carlos Litti diz que “a proposta do presidente é tão ridícula, que apenas mostra o total despreparo com que é tratada a categoria”.

“É um absurdo pensar que uma categoria de transportador autônomo, com todas suas dificuldades, possa compreender uma proposta tão insignificante que, em vez de tratar a causa, quer tratar o efeito colateral dela. Não é o auxílio que vai resolver o problema da política de preço equivocado da Petrobrás”, afirmou.

José Roberto Stringasci também afirma que os caminhoneiros não vão recuar da paralisação no dia 1º de novembro enquanto a política de preços dos combustíveis não for alterada. “Isso, como se diz no nosso linguajar de motorista, é um ‘melzinho na chupeta’, o famoso ‘tapinha nas costas’ que a categoria já vem levando desde 2018”, diz sobre o auxílio anunciado por Bolsonaro.

“A gente não aceita auxílio nem quer esmola. Vai precisar mais do que isso para desmobilizar”, afirma Marcelo da Paz, representante dos caminhoneiros de Santos (SP), que considera o anúncio do presidente um “blefe”.

Mudança na política de preços

Em nota, Wallace Landim (Chorão) se manifestou hoje sobre a promessa de Bolsonaro: “Presidente Jair Bolsonaro, os caminhoneiros autônomos brasileiros não querem esmolas, auxílio no valor de R$ 400 não supre em nada as necessidades e demandas da categoria. Com as declarações de hoje, o Governo Federal faz ‘ouvido de mercador’ às demandas dos caminhoneiros autônomos brasileiros”.

E prossegue: “queremos estabilidade dos preços dos combustíveis, um fundo de colchão para amenizar volatilidade, mudança na política de preços da Petrobrás, aposentadoria especial a partir dos vinte e cinco anos de contribuição e, acima de tudo, queremos respeito e cumprimento da Lei nº: 13.703/2018, conhecida como Lei do Piso Mínimo de Frete. Os caminhoneiros não querem e não precisam de esmolas, queremos respeito e dignidade para continuarmos a trabalhar”.