Papa se recusa a receber Pompeo para distanciar-se da eleição dos EUA
O Papa Francisco se recusou a receber o secretário de Estado Mike Pompeo, esta semana, porque o líder católico não quer ser usado para fins políticos na campanha eleitoral dos EUA, disse na quarta-feira (30) o secretário do Vaticano para relação com os Estados, arcebispo Paul Richard Gallagher. Pompeo está em visita oficial à Itália.
A declaração foi prestada pelo arcebispo Gallagher durante simpósio na embaixada norte-americana em Roma sobre ‘liberdade religiosa’.
Questionado pela agência de notícias italiana ANSA se a organização do evento representava uma tentativa de exploração do papa na disputa eleitoral em curso nos EUA, o arcebispo foi direto na resposta: “Sim, é exatamente por isso que o Papa não se encontrará com o secretário de Estado Mike Pompeo.”
Se esse é o principal motivo para a recusa – o Papa em outubro do ano passado recebeu Pompeo -, não é o único.
O secretário de Estado do regime Trump também se intrometeu nas relações do Vaticano com a China, com declarações públicas contra o acordo entre as duas partes, assinado há dois anos para unificar as comunidades de católicos da China e que deverá ser renovado este mês.
Pelo acordo, as duas comunidades católicas chinesas são unificadas, com a nomeação dos bispos sendo feita conjuntamente com o Vaticano.
Em cruzada contra a China, contra a qual o governo Trump desencadeou uma guerra no terreno comercial, tecnológico e diplomático, além de reiteradas provocações navais nas costas chinesas, Pompeo divulgou um artigo contrário à renovação do acordo.
Conhecido por um vídeo, de quando era diretor geral da CIA, dizendo “nós roubamos, nós fraudamos, nós mentimos” – às risadas -, Pompeo teve a desfaçatez de dar aulas de ética ao Papa Francisco. “O Vaticano põe em risco sua autoridade moral se renovar o acordo”, postou no Twitter.
O arcebispo Gallagher não escondeu sua irritação com o “simpósio sobre a liberdade religiosa” da embaixada e quanto ao tom ali usado, uma evidente tentativa de pressionar o Vaticano a recuar do acordo e a se somar à investida de Trump contra a China.
A “cristofobia” – a suposta ‘perseguição aos cristãos’ – passou a ser a nova carta tirada da manga por Pompeo, na tentativa de deter o desenvolvimento da China. Ao lado de outras, como o banimento do aplicativo WeChat, o sequestro da diretora financeira da Huawei, a caça às bruxas no 5G, a proibição de fornecimento à China de chips de tecnologia norte-americana, as alegações sobre Xinjiang, ou o desfile de porta-aviões nucleares nas costas do país asiático.
Gallagher criticou abertamente como o simpósio se desenvolveu. “Você me ouviu mencionar a China? Você não me ouviu dizer o nome de nenhum país, não citamos e não culpamos ninguém. Este é um dos princípios da diplomacia vaticana ”, disse à imprensa italiana.
“Eu só tinha dois minutos, se eles tivessem me convidado para falar por 40 eu teria falado mais”, acrescentou.
Sem esconder a indignação, Gallagher voltou a defender os princípios da diplomacia, com visitas “preparadas em altos níveis”, “agendas negociadas em privado”, discussão entre chanceleres e “então é decidido”.
Durante a visita, Pompeo também está pressionando o governo italiano contra o aprofundamento das relações econômicas com a China. A Itália foi o primeiro país europeu a aderir à Rota da Seda. Durante o surto mortal de coronavírus no início do ano, foi da China – assim como da Rússia e Cuba – que chegou o socorro necessário e urgente.
A visita de Pompeo também visa pressionar contra o 5 G da Huawei, que é 30% mais barato do que a concorrência, além de que a gigante chinesa tem quase a metade das patentes do 5G.
Pompeo, que acha que os demais países estarem sob o tacão dos monopólios privados norte-americanos é a própria felicidade, de acordo com as agências de notícias voltou a alertar contra “o aumento da influência” da China na Itália por meio de “investimentos econômicos” e contra as más intenções de Pequim.
Em coletiva de imprensa conjunta após reunião com o ministro italiano das Relações Exteriores, Pompeo disse que “o Partido Comunista da China está tentando explorar sua presença na Itália para seus próprios fins estratégicos”, não para “estabelecer uma relação de colaboração mutuamente benéfica”. (Trump está…). Esse prólogo todo foi só para querer barrar o 5G da Huawei. Luigi Di Maio, por sua vez, assinalou que a Itália está ciente dessas “preocupações”, mas afiançou que seu país está empenhado em “garantir a segurança das redes 5G”.