Papa Francisco em Roma na Piazza San Pietro - foto La Stampa

“Estou preocupado porque se escuta discursos similares aos de Hitler, de 1934”, alertou o papa Francisco em entrevista concedida, no dia 9, ao jornalista Domenico Agasso, publicada no jornal italiano La Stampa.

O papa denunciou o que chamou de “soberanismo”, o mau uso, demagógico, da identidade nacional: “O soberanismo é uma atitude de isolamento. Estou preocupado porque se escuta discursos similares aos de Hitler de 1934. Em primeiro lugar, nós, nós…nós…São pensamentos que dão medo. O soberanismo é clausura. Um país deve ser soberano, mas não fechado. Devemos promover as relações com os outros países; enquanto o soberanismo é um exagero que termina mal sempre: leva às guerras.

No mesmo sentido, o papa criticou o que chamou de “popularismo”, que também é a má utilização e a demagogia em torno dos interesses populares: “O popularismo é um mal, uma coisa é a cultura do povo, uma coisa é que o povo se exprima; outra coisa é impor ao povo uma atitude popularista. O povo é soberano, tem seu modo de pensar, de se exprimir, de sentir, de se valorizar; enquanto que o popularismo e o soberanismo são o contrário disso, abafam isso”.

Diante da questão sobre qual o desafio principal que se coloca diante da Europa e dos povos em geral, o papa esclareceu que “o desafio principal é sobretudo o diálogo. Entre as partes, entre as pessoas, deve-se falar, conhecer, confrontar, de tal forma que o ponto de partida são os valores humanos. Ao invés disso se vê, muitas vezes, o compromisso somente com monólogos”.

“Para que o diálogo tenha sucesso cada qual deve partir da própria identidade”, prosseguiu, “a identidade não se negocia, se integra. Valorizar a identidade sim, mas em que medida?

“Quando isso leva a um fechamento nessa identidade, isso leva ao extremismo. Entendemos que cada país tem sua própria identidade, uma riqueza cultural, nacional, artística, histórica, mas que deve se integrar com as demais através do diálogo”.

Francisco se contrapôs ao fechamento europeu diante da tragédia que se traduziu em uma migração em massa da África e do Oriente Médio: “Com relação aos imigrantes, é cada vez mais necessário se refletir sobre o direito mais importante de todos: que é à vida. Os imigrantes chegam sobretudo para fugir da guerra ou da fome, vêm do Oriente Médio e da África. Contra a guerra, devemos nos empenhar e lutar pela paz. A fome lembra principalmente a África. O continente africano é vítima de uma maldição cruel: é visto como fonte de aproveitamento. Mas a realidade é o contrário, agora se coloca que uma parte da solução é o investimento, é a ajuda para que resolva seus problemas e assim se feche esse fluxo migratório”.

O papa anuncia um Sínodo onde o tema da Amazônia, assim como o da ecologia e sobrevivência da vida no Planeta serão debatidos.

“A ameaça à salvaguarda da Amazônia, à vida das populações deriva dos interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade”, denuncia.

Ele concluiu destacando sua visão de que “na política se deve eliminar a conivência com os interesses próprios e com a corrupção. Devem ser assumidas responsabilidades concretas, por exemplo, sobre o tema da mineração a céu aberto que envenena a água, provocando tantas doenças. Depois há a questão dos agrotóxicos”.

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