Francisco conclama à união para que as vacinas não faltem às nações pobres e mais vulneráveis

Em mensagem aos líderes mundiais, o Papa Francisco os exortou a investirem “o dinheiro das armas no combate à Covid-19”, para garantir “vacina para todos” e para que não falte o imunizante “às nações pobres e mais vulneráveis”.

“Que decisão corajosa seria estabelecer um ‘Fundo Global’ com o dinheiro gasto em armas e outras despesas militares para eliminar permanentemente a fome e contribuir para o desenvolvimento dos países mais pobres”, convocou o Papa, no dia em que completou 84 anos – quinta-feira (17).

Ainda segundo Francisco, “diante da pandemia, percebemos que estamos no mesmo barco, todos nós frágeis e desorientados, mas, ao mesmo tempo, importantes e necessários, todos nós chamamos a remar juntos”.

A mensagem do Papa vem dias após o Congresso dos EUA aprovar o maior orçamento do Pentágono de todos os tempos, US$ 740 bilhões, quando Washington já gasta mais com mísseis e bases do que os 11 países seguintes, ao mesmo tempo em que o país é recordista mundial em contágios e mortes da Covid.

Proposta capitaneada pelo senador Bernie Sanders, para cortar em 10% – US$ 74 bilhões – esse imoral gasto armamentista, para liberar recursos contra o coronavírus, foi rechaçada.

CORRIDA ARMAMENTISTA

Com preocupação análoga, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em visita à Alemanha, advertiu que “vemos um aumento na corrida armamentista e nos gastos militares”, enquanto o mundo inteiro vive “os dramáticos impactos da crise de saúde”.

Ele chamou a apoiar os países em desenvolvimento para que as vacinas estejam “disponíveis para todos”. A ação humanitária – destacou – é “mais necessária do que nunca, mas seu financiamento é muito escasso”.

Guterres observou que os governos agora têm a obrigação de “proteger seus povos, mas não podem fazer isso se seus vizinhos não forem protegidos”, acrescentando que a cooperação internacional é imprescindível.

A mensagem de Francisco foi voltada para o Dia Mundial da Paz da Igreja Católica, que é comemorado em 1º de janeiro.

A mensagem “Uma Cultura de Cuidado como Caminho para a Paz” será enviada a chefes de Estado e de governo, líderes de organizações internacionais e a outras religiões. “Problemas globais, como a pandemia de Covid-19 presente e a mudança climática, só tornaram estes desafios ainda mais evidentes”, enfatizou.

“Renovo meu apelo aos líderes políticos e ao setor privado para que não poupem esforços para garantir o acesso às vacinas contra Covid-19 e às tecnologias essenciais necessárias para se cuidar dos doentes, dos pobres e daqueles que são mais vulneráveis”, destacou. O papa também homenageou os profissionais de saúde que atuam na linha de frente para cuidar e salvar as vítimas do coronavírus.

Por iniciativa da Índia e da África do Sul, os 164 países membros da Organização Mundial do Comércio se reuniram na semana passada para discutir sua proposta de suspensão das patentes relacionadas às vacinas enquanto não houver uma vacinação generalizada e a maioria da população mundial haja desenvolvido imunidade. As gigantes farmacêuticas seguem contra, mas a discussão está lançada. Pelas leis internacionais, há o precedente de que, unilateralmente, os países afetados ajam para defender a vida de sua população. China e Rússia têm defendido que as vacinas sejam um bem comum global.