Papa: “Devemos sair da pandemia mais fraternos e com mais esperança”
Em sua mensagem anual junto ao corpo diplomático acolhido na Santa Sé, na última segunda-feira, o papa Francisco conclamou a que a pandemia seja aproveitada como oportunidade para criarmos um mundo mais justo no plano econômico e para o meio ambiente, onde todos tenham garantida a atenção sanitária básica.
“O ano de 2021 é um tempo a não perder; e não se perderá na medida em que soubermos colaborar com generosidade e empenho. Neste sentido, considero que a fraternidade seja o verdadeiro remédio para a pandemia e os inúmeros males que nos atingiram. Fraternidade e esperança são remédios de que o mundo precisa, hoje, tanto como as vacinas”, defendeu o Papa.
“Deve haver uma espécie de nova revolução copernicana que ponha a economia a serviço dos homens e das mulheres, e não ao revés”, declarou Francisco, referindo-se à mudança de paradigma no século XVI, que estabeleceu que o centro do universo era o Sol e não a Terra.
Esta nova economia revolucionária, assinalou, “é uma que traz vida, não morte; uma que é inclusiva e não exclusiva; humana e não desumanizadora; que se preocupa pelo meio ambiente e não saqueia”.
De acordo com o sumo pontífice, estamos vivendo um “aumento das contraposições políticas e a dificuldade, senão mesmo a incapacidade, de procurar soluções comuns e partilhadas para os problemas que afligem o nosso planeta”. Oxalá esta conjuntura que estamos a atravessar sirva, igualmente, de estímulo para perdoar ou, pelo menos, reduzir a dívida que pesa sobre os países mais pobres, impedindo efetivamente a sua recuperação e pleno desenvolvimento”, defendeu.
“Empurrados pelo desespero, muitos buscaram outras formas de renda e se arriscam a serem explorados no trabalho forçado ou ilegal, prostituição e várias atividades delitivas, como o tráfico de pessoas”, alertou Francisco.
Particularmente as crianças, acrescentou, sofreram uma “catástrofe educativa” com o fechamento de escolas, enquanto as mulheres sofreram violência doméstica, os fiéis se viram privados de sua vida em comunidade e toda a humanidade viu restrito o seu contato humano.
O papa encorajou os países a empreenderem reformas que superem as imensas distorções e injustiças existentes, manifestou sua satisfação com o Tratado para a Proibição das Armas Nucleares, sua expectativa em relação a uma iminente viagem ao Iraque e o prolongamento do Acordo Provisório com o Vaticano e a China para a nomeação de bispos. “Trata-se de um entendimento de caráter essencialmente pastoral e a Santa Sé espera que o caminho percorrido continue, em espírito de respeito e mútua confiança”, acrescentou.
Reunido com 88 embaixadores numa sala maior que a habitual para tomar todos os cuidados sanitários, com maior distanciamento, Francisco pediu que todos os governos representados no Palácio Apostólico que contribuam com as iniciativas globais. O objetivo, sublinhou, é proporcionar vacinas aos pobres e aproveitar a pandemia para reformular o atual modelo econômico enfermo, de exploração.
Aos 84 anos, Francisco, que já está vacinado, convidou todos a que se aproximassem, mas que não lhe dessem a mão, para que se cuidassem.