Manifestantes em Varsóvia protestam contra agressão a imigrantes na fronteira 

A fala do líder da Igreja Católica aconteceu um dia após o anúncio das autoridades polonesas de que na divisa do seu território com a Bielorússia será construída uma barreira para impedir a passagem de migrantes e refugiados – na maioria iraquianos, sírios, afegãos e iemenitas –que tentam chegar a países da União Europeia.

“A história nessas últimas décadas deu sinais de um regresso ao passado: os conflitos reacendem-se em diversas partes do mundo, reaparecem em diversas latitudes; a construção de muros e a devolução dos migrantes para lugares não seguros aparecem como única solução da qual os governos são capazes para gerir a mobilidade humana”, assinalou o pontífice por ocasião do 40º aniversário do Centro Astalli, do Serviço Jesuíta aos Refugiados na Itália.

A saudação do Papa dirigiu-se, em particular, aos refugiados, que apresenta como “sinal” e “rosto” de esperança, apesar das dificuldades que enfrentaram.

“Muitos de vocês tiveram de fugir de condições de vida comparáveis às da escravidão, onde a pessoa humana é privada da sua dignidade e tratada como um objeto”, indicou.

Francisco assinalou que, em muitos casos, a decisão de deixar a própria terra não representa uma “verdadeira libertação”, com muitos refugiados e migrantes a encontrar “um deserto de humanidade, uma indiferença que se tornou global e que mostra a aridez das relações entre as pessoas”.

O Papa elogiou quem trabalhou no Centro Astalli ao longo destes 40 anos, “milhares de pessoas que são muito diferentes umas das outras, mas unidas pelo desejo de um mundo mais justo no qual a dignidade e os direitos pertençam verdadeiramente a todos”.

De acordo com o comunicado do governo da Polônia, as obras para edificação de um muro na fronteira com Belarus terão início no mês de dezembro.

Não é de hoje que o Papa Francisco defende os direitos dos migrantes. Em 2016, durante a Jornada Mundial da Juventude, pediu que os católicos acolham “aqueles que vêm de outras culturas, outros povos, e até aqueles de quem temos medo porque pensamos que nos podem fazer mal”. Na Polônia, país que tem sido um dos mais críticos da União Europeia em relação ao acolhimento de refugiados, o Papa insistiu: “lancem-se na aventura de construir pontes e destruir muros, vedações ou redes”.

“Expresso minha proximidade aos milhares de migrantes, refugiados e outros necessitados de proteção na Líbia. Jamais esqueço de vocês. Ouço seus gritos e rezo por vocês. Peço mais uma vez à comunidade internacional que mantenha as promessas de procurar soluções concretas e duradouras para a gestão dos fluxos migratórios na Líbia e em todo o Mediterrâneo”, acrescentou.

Sanções e guerras desestruturam países

A consequência da desestruturação de países inteiros com guerras, campanhas de bombardeio, interferência aberta e sanções draconianas, já havia sido alertada pelo líder líbio Muammar Kadhafi, que acabou assassinado por sicários a soldo dos EUA/Otan em 2011.

Botes apinhados de refugiados tomando as águas do Mediterrâneo e depois buscando o caminho que fosse possível para o prometido paraíso nos países ricos se multiplicaram.

Agora, a burocracia de Bruxelas e países vassalos de Washington fingem não saber qual a raiz da renovada caravana de fugitivos da fome e miséria rumo aos países centrais ricos, e acusam o presidente da Bielorússia, Aleksander Lukashenko, de travar uma “guerra híbrida” contra a União Europeia, usando os refugiados “como peões”.

Rússia rejeita as acusações

Serguei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, disse na terça-feira (16) que as ações dos guardas fronteiriços poloneses em relação aos migrantes são inaceitáveis e violam o direito internacional.

Referindo-se à crise migratória na fronteira entre Polônia e Bielorússia, ele declarou que Varsóvia entrega-se a devaneios, enquanto Bruxelas, por sua vez, aplica duplo padrão e coloca-se em uma posição embaraçosa.

De acordo com chanceler russo, anteriormente, durante a onda de migrantes no Mediterrâneo e nos Bálcãs, a União Europeia tentou resolver estas questões coletivamente.

“Neste caso, em primeiro lugar, a Polônia age de maneira desatinada, enquanto a liderança em Bruxelas aplica duplo padrão tão aberta e descaradamente que ela mesma não entende que se coloca em uma posição muito embaraçosa”, comentou Lavrov.

“Comportamento absolutamente inaceitável do lado polonês. Acho que tanto [o uso] de gás lacrimogêneo e canhões d’água quanto tiros sobre as cabeças dos migrantes que vão em direção ao Estado a partir da Bielorússia, tudo isso, reflete a vontade de ocultar as suas ações. E eles não podem deixar de entender que violam todas as normas concebíveis do direito humanitário internacional e de outros acordos da comunidade internacional. É claro que eles entendem tudo isso”, notou.

O chanceler declarou também que Rússia está pronta para ajudar a resolver a crise migratória na fronteira entre Belarus e os países da UE.

“Como sabem, estamos fazendo tudo para ajudar a resolver esta crise. Representantes de vários países da UE, incluindo a Alemanha e França, conversaram com o presidente Putin. Ontem houve uma conversa telefônica com o presidente francês Macron. Recebemos pedidos de prestar assistência, e estamos prontos a fazê-lo”, salientou Lavrov.

De acordo com o Ministério do Interior da Itália, o país já recebeu 51.568 deslocados internacionais via Mediterrâneo em 2021, quase o dobro dos 26.683 registrados no mesmo período do ano passado. A maior parte dessas pessoas viajam em barcos superlotados a partir da costa da Tunísia ou da Líbia, que estão mais próximas da ilha italiana de Lampedusa do que a parte peninsular do país europeu.