Pane mundial do WhatsApp causou danos a dois bilhões de pessoas
WhatsApp, Instagram e Facebook começaram a retomar o funcionamento no início da noite desta segunda-feira (4), após mais de 7 horas de apagão global, desde o começo da tarde, em uma das panes mais extensas que já afetou as plataformas, prejudicando empresas e usuários no mundo inteiro.
Dos três apagões simultâneos, o WhatsApp certamente foi o que causou mais danos aos 2 bilhões de usuários em todo o mundo, dos quais, 120 milhões no Brasil, segundo dados de relatório elaborado por We Are Social e Hootsuite. O zap, como é chamado por aqui, está mais diretamente ligado ao uso para atividades de compra, venda, entregas, prestação de serviços, comunicação entre membros de equipes de trabalho à distância, etc.
Essa pane global alerta para os limites e os riscos de um monopólio privado que afeta a vida de bilhões de pessoas mundo afora.
Em meio ao apagão, o Twitter assumiu a condição de principal canal de comunicação e até o Facebook fez uso dessa plataforma para atualizar a situação.
“Para todos que foram afetados pela interrupção das nossas plataformas hoje: sentimos muito. Sabemos que bilhões de pessoas e negócios em todo o mundo dependem de nossos produtos e serviços para permanecer conectados. Agradecemos sua paciência”, postou o Facebook por volta de 19h30, anunciando o retorno dos serviços. “Estamos felizes em relatar que o acesso aos serviços está voltando online agora”.
Por horas, o único comentário público do Facebook foi um tweet no qual reconhecia que “algumas pessoas estão tendo problemas para acessar o aplicativo do Facebook” e acrescentava estar trabalhando para restaurar o acesso.
Em relação às falhas internas, o chefe do Instagram Adam Mosseri tuitou que parece um “dia de neve”.
Por volta das 17h, o Facebook disse que problemas com a rede causavam a falha de acesso. A mensagem foi postada no Twitter pelo diretor de tecnologia da empresa, Mike Schroepfer, que não informou o que causou essa falha.
Algumas pessoas que tentaram acessar Facebook, Instagram e WhatsApp se depararam com um aviso de “Erro 500” ou “Erro 5XX”, o que geralmente indica uma dificuldade do computador do usuário se comunicar com o servidor do site ou aplicativo.
Como explicou ao g1 Thiago Ayub, da Sage Networks, “os endereços de IP da empresa Facebook responsáveis pelo serviço de internet se tornaram inalcançáveis. Se a gente fosse fazer uma analogia com a telefonia, é como se você fosse telefonar para o número do Facebook e desse que esse número não foi encontrado”.
Segundo a Associated Press, não havia nenhuma evidência até a tarde de segunda-feira de que atividades maliciosas estivessem envolvidas. Matthew Prince, CEO do provedor de infraestrutura de internet Cloudflare, tuitou que “nada do que vemos relacionado à interrupção dos serviços do Facebook sugere que foi um ataque”.
Para Prince, a explicação mais provável é que o Facebook por engano se desligou da internet durante a manutenção. O Facebook não respondeu às mensagens para comentar sobre um ataque ou a possibilidade de atividade maliciosa.
A causa da interrupção permanece obscura, assinalou a AP. Doug Madory, diretor de análise de Internet da Kentik Inc, uma empresa de monitoramento de rede e inteligência, disse que o Facebook parece ter excluído dados básicos que informam ao resto da Internet como se comunicar com seus domínios.
Esses dados fazem parte do Sistema de Nomes de Domínio da Internet, um componente central que direciona seu tráfego. Sem o Facebook divulgando sua localização na Internet pública, aplicativos e endereços da web simplesmente não poderiam localizá-lo.
A Netblocks, empresa de monitoramento de internet com sede em Londres, observou que os planos do Facebook de fundir suas plataformas – anunciados em 2019 – levantaram preocupações sobre os riscos de tal movimento. Embora tal centralização “dê à empresa uma visão unificada dos hábitos de uso da Internet dos usuários”, ela também torna os serviços vulneráveis a pontos únicos de falha, alertou a Netblocks.
“O que se resume a: rodar um GRANDE sistema distribuído, mesmo para os padrões da Internet, é muito difícil, mesmo para os melhores”, tuitou o cientista da computação da Universidade de Columbia, Steven Bellovin.
‘Facebook files’
Antes do apagão, o Facebook já estava passando por uma grande crise depois que a denunciante Frances Haugen, uma ex-gerente de produto do Facebook, forneceu ao Wall Street Journal documentos internos que expunham a consciência da empresa sobre os danos causados por seus produtos e decisões.
As histórias do Journal, chamadas “The Facebook Files” retratam uma empresa focada no crescimento e em seus próprios interesses acima do bem público. Haugen veio a público no programa “60 Minutes” da CBS no domingo e está programado para testemunhar perante uma subcomissão do Senado na terça-feira.
Haugen também apresentou queixas anonimamente às autoridades federais alegando que a própria pesquisa do Facebook mostra como isso aumenta o ódio e a desinformação e leva a uma maior polarização. Também mostrou que a empresa estava ciente de que o Instagram pode prejudicar a saúde mental de adolescentes.
Durante a interrupção do acesso ao Facebook/Instagram/Whatsapp, piadas e memes sobre o apagão inundaram o Twitter. Mais tarde – a narrativa é da AP –, quando uma captura de tela não verificada sugerindo que o endereço do facebook.com estava à venda circulou, o CEO do Twitter Jack Dorsey tuitou, “quanto?”.