Pandemia: mortes ultrapassam 1 milhão e 33 milhões são infectados
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, classificou de “marco sombrio” o total de mortos pela coronavírus no mundo, que superou na segunda-feira (28) a casa dos um milhão, de acordo com a Universidade Johns Hopkins. Os infectados já passam de 33 milhões.
Essa marca foi alcançada 8 meses e meio após a primeira morte na China, do dia em que era então uma doença recém detectada nos últimos dias de 2019, um tipo desconhecido de pneumonia, até o decorrer da 75ª Assembleia Geral da ONU, que se realiza por videoconferência, devido ao coronavírus.
Em comunicado, Guterres assinalou que “nosso mundo atingiu um marco sombrio: a perda de um milhão de vidas devido à pandemia Covid-19. É um número impressionante”. Ele acrescentou que “a dor foi multiplicada pela brutalidade desta doença”.
“Podemos superar esse desafio”, afirmou Guterres, que disse ainda que “devemos aprender com os erros.” Ele advertiu que “a ciência é importante, a cooperação é importante e a desinformação mata”, convocando as lideranças do mundo a agirem de forma consequente.
O secretário-geral da ONU disse, também, que “ainda não há à vista um fim para a propagação do vírus, a perda de empregos, a interrupção da educação, a turbulência em nossas vidas”. Ele insistiu na importância das medidas como manter distância física, usar máscara e lavar as mãos.
Para o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Dr. Tedros Adhanom, “a lição mais importante” trazida pela pandemia em curso é que “qualquer que seja o estágio em um país, nunca é tarde para mudar o curso das coisas”.
Ele assinalou, ainda, que, apesar do “momento difícil para o mundo” – o brutal pedágio em vidas cobrado pela covid-19 e com “muitos mais sofrendo” -, há “lampejos de esperança que nos encorajam agora e no futuro próximo”.
Entre esses lampejos, Tedros apontou o trabalho dos cientistas que permitiu estabelecer o mapa genético do coronavírus em tempo recorde, o desenvolvimento acelerado de testes, a identificação de tratamentos para os casos mais graves para reduzir a mortalidade, e as candidatas a vacina que estão em testes finais da Fase 3. E, também, a ação de muitos países, impulsionando “uma resposta do governo inteiro e de toda a sociedade”, que conseguiram conter os surtos antes que a transmissão saísse de controle.
Ele apontou como a Itália – aprendendo com a experiência de Wuhan – implementou medidas fortes e “foi capaz de reduzir a transmissão e salvar milhares de vidas. A unidade e solidariedade nacional, combinadas com a dedicação e o sacrifício dos trabalhadores da saúde e o engajamento do povo italiano ajudaram a controlar o surto”.
Nas Américas, até agora a região mais afetada, Tedros destacou o Uruguai , que registrou o menor número de casos e mortes na América Latina, tanto no total como per capita. “Isso não é um acidente. O Uruguai tem um dos sistemas de saúde mais robustos e resilientes da América Latina, com investimentos sustentáveis baseados no consenso político sobre a importância de investir na saúde pública”.
Tedros também apresentou o Paquistão como exemplo de ação contra a Covid-19, que teve como ponto de partida a infraestrutura construída ao longo de muitos anos para a poliomielite. “Os agentes comunitários de saúde que foram treinados para vacinar crianças de porta em porta contra a poliomielite foram redistribuídos e utilizados para vigilância, rastreamento de contatos e cuidados. Isso suprimiu o vírus, de modo que, à medida que o país se estabiliza, a economia também está se recuperando novamente”.
O diretor da OMS enfatizou que esse exemplo reforça a lição de que “a escolha não é entre controlar o vírus ou salvar a economia; os dois vão de mãos dadas”.
Ainda segundo ele, há muitos outros exemplos, incluindo Camboja, Mongólia, Japão, Nova Zelândia, República da Coréia, Ruanda, Senegal, Espanha, Vietnã e muito mais.
Muitos desses países – ressaltou – aprenderam lições com surtos anteriores de Sars, Mers, sarampo, poliomielite, Ebola e gripe “para aprimorar seu sistema de saúde e responder a esse novo patógeno”.
Tedros, como sempre faz, reiterou as “quatro etapas essenciais” nas quais todos os países, comunidades e indivíduos devem se concentrar para “assumir o controle da epidemia”.
“Em primeiro lugar, evite amplificar eventos. A Covid-19 se espalha de maneira muito eficiente entre grupos de pessoas”.
Em segundo lugar, “reduza as mortes protegendo grupos vulneráveis, incluindo pessoas mais velhas, pessoas com doenças subjacentes e trabalhadores essenciais”.
Em terceiro, é preciso que os indivíduos façam a sua parte, tomando “as medidas que sabemos que funcionam para proteger a si mesmos e aos outros – ficar a pelo menos um metro de distância dos outros, limpar as mãos regularmente, praticar a etiqueta respiratória e usar uma máscara”. Evite – acrescentou – espaços fechados, lugares lotados e configurações de contato próximo.
E em quarto lugar, “os governos devem tomar ações sob medida para encontrar, isolar, testar e cuidar dos casos e rastrear e colocar os contatos em quarentena”.
Como ele destacou, os pedidos generalizados de estadia em casa [lockdown] “podem ser evitados se os países fizerem intervenções temporárias e geograficamente direcionadas”.
Uma simples consulta à lista de países mais golpeados pela pandemia conduz também a uma relação de governos que mais se afastaram da ciência, das medidas de ‘inteligência epidemiológica’ e testagem e, muitas vezes, abriram mão de unir a sociedade para enfrentar a Covid-19.
Por número total de mortos, o país de pior desempenho são os Estados Unidos, que sob a incúria e obscurantismo do governo Trump, registrou mais de 205 mil mortos; seguido pelo Brasil, sob Jair Messias, com mais de 142 mil mortos; Índia, que já ultrapassou os 96 mil e tem a mais rápida transmissão no momento; México, com mais de 76 mil; Grã Bretanha, com 42 mil; Itália, com mais de 35 mil; Peru, 32 mil; França, quase 32 mil; Espanha, 31 mil; e Irã, quase 26 mil.
Note-se que os EUA, com 4% da população mundial, tem cerca de 20% dos mortos e infectados. O Brasil, com 3% da população, tem 14%.
Trump, que agora, sabemos pelo jornalista Bob Woodward, estava mentindo quando dizia que a Covid era como “uma gripe comum”, foi diretamente responsável pela divisão, que se observa na sociedade norte-americana, sobre como enfrentar a pandemia, cujo símbolo mais evidente é recusa – inclusive por ele mesmo – em usar a máscara facial.
Também partiu do presidente bilionário o incentivo ao uso de cloroquina e à aglomeração, mal disfarçando a crença implícita na ‘imunidade de rebanho’, e seu corolário de “só os idosos morrem”, e que “morreriam de um jeito ou outro”. Ao sul do Equador, Bolsonaro só fez repetir os trejeitos de Trump.
Outra consequência da ação de Trump foi a politização da Covid, com a tentativa de jogar a culpa pelo desastre nos EUA sobre a China. Ele chegou ao racismo mais abjeto, apelidando, bem ao estilo dele, de “vírus chinês”, ou “Kung Flu”. E foi ao extremo de retirar os EUA da OMC, sob o pretexto de que era “controlada” por Pequim, em meio à pior pandemia em um século, quando se sabe que “enquanto todos não estiverem seguros, ninguém estará seguro”.
Como destacou o Dr. Tedros, a 75ª sessão da Assembleia Geral da ONU é um momento “para o mundo se reunir para refletir sobre o ano passado e construir um caminho coletivo para o futuro”. Isso é crítico – enfatizou -, porque essa emergência de saúde pública de interesse internacional “precisa de uma solução global”.
Ele assinalou que a economia global deverá se contrair em US $ 7 trilhões em 2020 como resultado da pandemia. “Somente lidando com isso juntos, vidas e meios de subsistência serão resguardados”.
“Embora o marco de hoje nos dê uma pausa para reflexão, este é um momento para todos nós nos unirmos, em solidariedade, para lutar contra este vírus. A história nos julgará pelas decisões que tomaremos e não tomaremos nos próximos meses. Vamos aproveitar a oportunidade e transpor as fronteiras nacionais para salvar vidas e meios de subsistência”.
Como assinalou à Associated Press o Dr. Howard Markel, professor de História Médica da Universidade de Michigan, “não é apenas um número. São seres humanos. São as pessoas que amamos”. A própria mãe de Markel morreu em fevereiro, de Covid, como diagnosticado posteriormente. “São nossos irmãos, nossas irmãs. São pessoas que conhecemos”, acrescentou. “E se você não tem esse fator humano bem na cara, é muito fácil torná-lo abstrato.”
Várias candidatas a vacina para a Covid estão na Fase 3, mas como alertou a OMS, o total de mortos da pandemia pode dobrar, para dois milhões, antes que uma vacina seja amplamente distribuída.
Está em curso o debate de que a vacina deva ser um bem comum da humanidade, e não um meio de lucros astronômicos para monopólios farmacêuticos. A pandemia também demonstrou a urgência na construção de sistemas de saúde pública universais e do direito de todos à saúde como uma necessidade para o desenvolvimento econômico.
No momento, o país cuja situação traz mais apreensão é a Índia, que na segunda-feira ultrapassou os seis milhões de casos oficialmente e está se aproximando rapidamente dos EUA, que têm 7,2 milhões de infectados. A Índia está registrando oficialmente entre 80 mil e 90 mil novos casos de Covid-19 todos os dias, o maior aumento no mundo em várias semanas.
Como complicador, é o segundo mais populoso país do mundo, com 1,3 bilhão de pessoas, algumas das maiores cidades do mundo e um sistema de saúde frágil. Quanto às mortes, a Índia tem uma taxa muito menor do que outros países, com quase 100 mil mortes desde o início da pandemia. No domingo, o primeiro-ministro Narendra Modi pediu à população que continuasse usando fora de casa máscaras, chamou de “armas na guerra contra o coronavírus”.
Também é terrível a situação na América Latina, que tem três de dez países na lista de recordistas de mortes em números (Brasil, México e Peru) e cinco na lista dos dez primeiros em mortes por 1 milhão (Peru, Bolívia, Brasil, Chile e Equador). O Peru tem a segundo maior taxa de mortos por 1 milhão no mundo inteiro.
A Europa, que havia controlado a pandemia depois dos pesados surtos na Itália, Espanha, França e Grã Bretanha, observa com preocupação a aproximação do inverno e o aumento do número de infecções, o que tem forçado a alguns recuos nas medidas de alívio das normas de distanciamento.
Por regiões, conforme os dados da Universidade Johns Hopkins, a América Latina tem o maior número de óbitos pelo coronavírus, 338 mil; seguido pela Europa, 221 mil; Estados Unidos/Canadá, 214 mil; Ásia/Pacífico, 137 mil; Oriente Médio/Norte da África, 65 mil; e África, 25 mil.