Sem apoio do governo, o setor de Serviços é um dos mais atingidos pela recessão

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil despencou 4,1% em 2020, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta quarta-feira (3). Isso significa que a atividade econômica do país, no ano da pandemia, registrou a maior queda em 26 anos, desde o início da série histórica atual de cálculo do PIB, iniciada em 1996.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e sua variação serve como medidor da atividade econômica. Em valores correntes, o resultado foi de R$ 7,4 trilhões em 2020. Já o PIB per capita (por habitante) foi de R$ 35.17, com queda de 4,8% na comparação com o ano anterior – a maior já registrada nos últimos 25 anos.

De acordo com o IBGE, o atual patamar é semelhante ao que a economia brasileira se encontrava entre o final de 2018 e início de 2019, e 4,4% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do país, alcançado no 1º trimestre de 2014.

A pandemia de Covid-19, que paralisou todo o mundo em 2020, chegou ao país com uma economia já fragilizada. Depois de dois anos seguidos de recessão em 2015 e 2016, a reação da atividade foi pífia, com variações positivas em torno de 1% de 2017 a 2019. A combinação desses fatores se somou ao negacionismo de Jair Bolsonaro frente à pandemia da Covid-19 e a condução da política econômica de Paulo Guedes, que afirmava que a economia estava levantando voo e que crescia em “V”.

Ao contrário das principais países do mundo que promoveram uma série de medidas para conter o avanço da doença, salvar vidas e a economia, o governo Bolsonaro fez de tudo para impedir que o auxílio emergencial chegasse a milhões de brasileiros, trabalhadores e desempregados. Paulo Guedes, no início da crise sanitária propôs um vale de R$ 200 reais e apresentou ao Congresso suas Propostas de Emendas Constitucionais (PECs) que visam desmontar o Estado brasileiro, além da proposta de entregar as estatais ao capital externo.

Diante do desemprego recorde, queda na renda e de empresas fechando, Guedes continuava dizendo que a economia estava se recuperando e que ia “surpreender o mundo”.

No dia anterior à divulgação do PIB, disse que a economia ia cair um pouco mais de 3%, “bem menos do que previam que ia cair”. O que Guedes não disse é que o tombo não foi maior graças ao Auxílio Emergencial aprovado pelo Congresso Nacional e contra sua vontade.

Além de negar os números oficiais, Bolsonaro e Guedes negam o número de vidas ceifadas, e a irresponsabilidade deles, que nada fazem para impedir o avanço da pandemia e da recessão. Há dois meses protelam a renovação do Auxílio Emergencial, criam todo tipo de dificuldade para aquisição de

vacinas e a aceleração da vacinação em massa. E ainda chantageiam o Congresso dizendo que só aprovam o Auxílio Emergencial com “contrapartidas fiscais”: tirar recursos da Saúde, da Educação e arrochar os servidores públicos, como corte nos salários.

No ano passado, quando já se manifestava um novo aumento de contaminações e mortes, Guedes tirou férias. No dia anterior da divulgação do PIB, na terça-feira (2/3) quando o número de mortes diária atingiu 1.726 óbitos, maior número desde o início da pandemia, Guedes declarou que o Brasil está na “cauda” da pandemia. “Se vem a segunda onda da pandemia da Covid-19, o País vacinará em massa”, disse, quando o Brasil já se encontra atrás apenas dos Estados Unidos em número absoluto de mortes.

O resultado do negacionismo de Bolsonaro levou a uma queda generalizada em todos os setores da economia. Apenas a agropecuária teve variação positiva em 2020, ainda assim, muito pior do que a dos anos anteriores, beneficiada pelo preço das commodities.

Serviços: -4,5%

Indústria: -3,5%

Consumo das famílias: -5,5%

Consumo do governo: -4,7%

Investimentos: -0,8%

Exportação: -1,8%

Importação: -10%

Construção civil: -7%

Ainda que esse seja o cenário, um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo afirma que, sem o pagamento do auxílio emergencial aprovado pelo Congresso Nacional para quase 68 milhões de brasileiros ano passado, a queda do PIB teria sido de, pelo menos, 8,4%. O pagamento da renda de emergência, que foi equivalente a 4% do PIB, segurou o consumo das famílias, fazendo com que o dinheiro tenha circulado na economia.

Serviços

O setor de serviços representa cerca de 70% da formação do PIB e teve o pior resultado entre os setores (-4,5%), contribuindo para o tombo histórico.

“Os serviços prestados às famílias foram os mais afetados negativamente. A segunda maior queda ocorreu nos transportes, armazenagem e correio (-9,2%), principalmente o transporte de passageiros, atividade econômica também muito afetada pela pandemia”, destacou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Entre os subcomponentes dos serviços, o maior tombo foi em “outras atividades de serviços” (-12,1%),

categoria que inclui restaurantes, academias, hotéis. Esses setores foram largamente afetados e tiveram dificuldades de acessar programas emergenciais e de crédito para que não fechassem as portas. Esses serviços chegaram a ter 18% de participação no PIB dos serviços, recuando para 16,2% em 2020.

Indústria

O setor industrial teve o seu pior ano dos últimos cinco, com queda de 3,5%. A construção civil teve o pior desempenho dentre as atividades (-7%), seguido da indústria de transformação (-4,3%). Neste último, entra o grande impacto da indústria automobilística.

Consumo das famílias

O consumo das famílias teve o pior desempenho da série histórica (-5,5%), o que “obviamente seria pior se não fossem esses auxílios”, disse Rebeca Palis.

Consumo do governo e investimentos

Apesar de a pandemia ter exigido mais gastos públicos, em 2020 também houve recorde no consumo do governo (-4,7%). O mesmo movimento se viu nos investimentos: a Formação Bruta de Capital Fixo caiu 0,8%.

Perspectivas para 2021

Após o tombo histórico, o ano de 2021 começa com novo recorde no número de infecções e mortos pela Covid-19, vacinação em ritmo lento, desemprego a níveis recordes e nenhum socorro emergencial.

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) já antecipa projeções de que 2021 não recuperará as perdas de 2021, mas defendem que a renovação do auxílio emergencial, além de salvar vidas, pode diminuir esse impacto e ajudar a economia.