Negacionistas alemães pedem liberdade para contaminar a si e aos demais em ato anti-vacina

O recrudescimento da pandemia entre os não vacinados forçou a Áustria, Alemanha, República Checa e outros países europeus a anunciarem restrições aos negacionistas, espelhando um problema que já causou muita dor de cabeça nos Estados Unidos.

A Europa registrou um aumento de 5% nas mortes por Covid-19 na última semana, enquanto no resto dos continentes o número de óbitos permaneceu estável ou diminuiu, de acordo com o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS). A incidência de casos por 100.000 habitantes foi muito maior (230) na Europa do que em qualquer outra região.

Na Áustria, o governo declarou o confinamento obrigatório aos não vacinados com idade superior a 12 anos. Para quem sair de casa, não vacinado, sem um motivo válido, haverá controles policiais e multas que podem chegar aos 1.450 euros. O que se deseja é “levar os não vacinados a vacinarem-se”, “e não trancar os vacinados em casa”, reiterou o primeiro-ministro Alexander Schallenberg.

A incidência acumulada de novos casos de Covid-19 nos últimos sete dias chegou a 953,2 infecções por 100.000 habitantes, mais do dobro do que no início do mês.

O objetivo destas medidas é “sair deste círculo vicioso e aumentar a taxa de vacinação”, que é na ótica do governante “vergonhosamente baixa”, afirmou Schallenberg. Ele asseverou que a difícil medida “já está a dando frutos” com “o aumento maciço das inscrições nos centros de vacinação”.

A rádio pública ORF noticiou que, em hospitais da região da Alta Áustria, os corpos dos mortos tiveram de ser deixados nos corredores devido à superlotação das morgues. Devido à escassez de leitos, as autoridades de Salzburgo criaram comitês de triagem para decidir sobre o acesso a UTIs.

Alemanha

Na Alemanha, estão sendo postas em vigor regras mais rígidas àqueles que não foram totalmente vacinados. Para andar de ônibus ou trem, é necessário ou o comprovante de vacinação ou um teste negativo. Os alemães criaram o sistema 3G – recuperado, vacinado ou com teste negativo – para a entrada em determinados locais e ambientes públicos.

Estas medidas, que funcionam praticamente como um “bloqueio aos não vacinados”, como referiu o co-líder do Partido Verde, Robert Habeck, surgem numa altura em que o país voltou a bater recordes de novos casos Covid.

Na capital alemã, Berlim, a prova de vacinação completa ou recuperação da Covid-19 nos últimos seis meses começou a ser necessária desde segunda-feira (15) para a entrada em bares, restaurantes, cinemas e outros locais de entretenimento.

Também Munique, na Alemanha, anunciou esta terça-feira ter cancelado o seu mercado de Natal devido à situação “dramática” da Covid-19 na Baviera.

A primeira-ministra em exercício, Angela Merkel, sublinhou esta quarta-feira que a situação é dramática, apelando à distribuição célere das doses de reforço e a que os céticos mudem de ideias quanto à vacinação.

“Não é demasiado tarde para levarem a primeira dose da vacina”, salientou Merkel, acrescentando que “todos os vacinados estão protegendo a si mesmos e aos outros”. Ela acrescentou que “se pessoas suficientes se vacinarem, esta é saída da pandemia”.

A primeira-ministra apelou também a um “esforço nacional”, para que as doses de reforço sejam distribuídas de forma massiva, tendo em conta que a proteção baixa após a aplicação da segunda dose.

Nas últimas 24 horas, a Alemanha registrou mais 52.826 casos de infecção e somou mais 294 mortes, segundo os números do Instituto Robert Koch. Estes números são um novo máximo para o país, que não via valores tão altos desde o início da pandemia.

Eslováquia

A partir da próxima segunda-feira (22) entrará em vigor na Eslováquia um “bloqueio para os não vacinados”, anunciou o primeiro-ministro, Eduard Heger, após o país relatar um número recorde de novos casos.

Para entrar em restaurantes, lojas não essenciais ou eventos públicos, as novas restrições exigirão que as pessoas tenham sido vacinadas ou se recuperado da Covid nos últimos seis meses.

O país da Europa central viu um número recorde de novas infecções, incluindo mais de 8.000 na terça-feira, com hospitais ficando sem espaço para tratar pacientes de Covid.

A Eslováquia tem uma das taxas de vacinação mais baixas da União Europeia. Dos 5,5 milhões de habitantes, até agora só se vacinaram 2,5 milhões de pessoas contra o vírus, menos da metade.

Holanda

A Holanda voltou a um confinamento parcial desde sábado (13), o que irá durar três semanas. O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro do país, Mark Rutte. O governo ordenou que os restaurantes e as lojas fechassem mais cedo, bem como os supermercados e o comércio não essencial. Estão também proibidos os espectadores em grandes eventos desportivos.

Em Amsterdã, as celebrações da passagem de ano organizadas pela Câmara Municipal, como a contagem decrescente ou os espetáculos pirotécnicos, foram canceladas.

República Checa

Na República Checa, o Ministério da Saúde anunciou na terça-feira (16) que o número de novos contágios (22.479) duplicou em 24 horas. A incidência acumulada de infecção em sete dias eleva-se a 813 casos por 100.000 habitantes.

O primeiro-ministro checo, Andrej Babis, anunciou hoje que as pessoas não vacinadas ou que não tenham recuperado da infecção serão proibidas de aceder a eventos e serviços públicos a partir de segunda-feira.

Estas restrições, que serão aprovadas pelo Governo na quinta-feira, significam que os testes negativos deixarão de ser reconhecidos como qualificação para entrar em eventos e estabelecimentos de serviços, disse Babis na televisão.

Hungria

Na Hungria, os dados de hoje dão conta de novos máximos de mortes (178) e de novas infecções diárias (10.265) desde o surto devastador da primavera passada, quando o país da Europa Central teve a maior taxa de mortalidade ‘per capita’ no mundo.

A Câmara Húngara dos Profissionais de saúde advertiu que a Hungria pode ter um “Natal triste” e pediu o cancelamento de eventos em massa e a implementação do uso de máscara obrigatório em espaços fechados.

Com cerca de 40% da população ainda sem uma dose de vacina, a Hungria está quase nove pontos percentuais atrás da taxa média de vacinação no resto dos 27 países da União Europeia (UE).

Bélgica

Na Bélgica, as autoridades federais e regionais preparam o endurecimento das ações contra a pandemia, quando os contágios excedem 10.000 por dia. As novas medidas no país de 11,4 milhões de habitantes incluem o trabalho à distância obrigatório pelo menos três dias por semana e a vacinação dos profissionais de saúde.

Em uma semana, houve um salto de quase 30% nos contágios, mas para o primeiro-ministro Alexander De Croo, a proposta de vacinação geral obrigatória não funciona e é preciso um esforço maior para convencer os mais céticos.

“É fácil no papel, mas como se faz na prática? Se alguém não quer uma vacina, o que fazemos? Vamos forçar?” “Temos que convencer as pessoas com números. Uma pessoa vacinada tem 11 vezes menos probabilidade de acabar no hospital. Esses são os fatos e são mais convincentes do que uma obrigação”, esclareceu.

Outras medidas

No Reino Unido ainda não há nenhuma medida especificamente dirigida aos não vacinados, tendo o governo optado por uma abordagem de recomendação de reforço da vacinação a pessoas com idades entre os 40 e 49 anos e uma segunda dose da vacina Pfizer a ser administrada aos jovens com 16 e 17 anos.

Na França, volta ser obrigatório o uso de máscara nas escolas do primeiro ciclo e em outras faixas etárias nas regiões mais afetadas pela Covid-19, no entanto, o confinamento para os não vacinados, como acontece na Áustria, ainda não está em cima da mesa.

O passaporte sanitário em França, que limita a vacinados o acesso a locais públicos fechados, como restaurantes, cinemas, teatros ou museus deverá ser mantido até final de fevereiro. Foram ainda reforçadas as medidas de controle de fronteiras.

A agência sanitária portuguesa estuda a adoção de novas medidas, que o primeiro-ministro, Antonio Costa espera que não tenham “a dimensão do passado”. A necessidade do regresso do uso da máscara facial na rua é “evidente”, disse o presidente, Marcelo Rebelo de Sousa.