"Os próximos meses serão os mais difíceis na história do serviço público dos EUA”, alertou o infectologista Robert Redfield

Para que não pairasse dúvida sobre a dramática situação sanitária nos Estados Unidos, o país quebrou o recorde de mortes diárias por Covid-19 na quarta-feira (3), com mais de 3,1 mil óbitos, de acordo com dados do centro de referência do coronavírus da Universidade Johns Hopkins.

Recorde que é maior do que o total de mortos no atentado de 11 de Setembro, em que 2.997 pessoas morreram, e que serviu de justificativa para 20 anos de guerra contra países muçulmanos. Antes, o pior dia da Covid nos EUA havia ocorrido em abril, com 2,6 mil mortes.

Foram, ainda, mais de 200 mil novos casos registrados em 24 horas – a segunda vez que os EUA ultrapassaram a marca.

Também é novo recorde o total de hospitalizados, que ultrapassou os 100 mil – o dobro de um mês atrás. Estão de volta as cenas de caminhões frigoríficos improvisados como necrotérios móveis nas portas dos hospitais, UTIs superlotadas e recuos no alívio das normas de distanciamento em muitos estados.

Como alertou esta semana o infectologista Robert Redfield, diretor dos Centros para Controle de Doenças, os meses à frente “serão os mais difíceis na história do serviço público desta nação”.

Também o presidente eleito Joe Biden disse na quarta-feira que “não queria assustar ninguém, mas que compreendam os fatos – estamos perto de perder outros 250 mil pessoas mortas pela Covid entre agora e janeiro”.

Ele anunciou que irá propor aos norte-americanos que usem a máscara facial pelos “primeiros 100 dias de seu governo”, para ajudar a reduzir a taxa de contágio atual. “Apenas 100 dias com uma máscara, não para sempre -100 dias. E acho que veremos uma redução significativa”, disse Biden à CNN.

Questão também considerada, a essa altura da pandemia, indispensável pelo Dr. Redfield, que assinalou que “o tempo de debater se as máscaras funcionam ou não acabou. Obviamente, temos evidências científicas.”

“EVITÁVEL”

“Isso é terrível, porque era evitável. Somos um caso excepcional no mundo”, enfatizou o Dr. Letra Horwitz, da New York University School of Medicine ao New York Times.

Quando se compara a situação dos EUA com a de outros países da Ásia, que tomaram as medidas de distanciamento, isolamento, rastreio de contágio e testagem, isso se torna impossível de esconder. China, Vietnã, Coreia do Sul e Nova Zelândia estão entre os países que mostraram que era possível combater e controlar a doença ainda antes de haver a vacina.

É como a ciência repetidamente orientou: especialmente nos EUA, não é apenas a própria Covid-19 que explica tanto contágio e morte, mas a conduta de negação e obscurantismo de parte do governo Trump, que impediu uma estratégia unificada nacional de combate à pandemia, e insuflou seus eleitores à desobediência de normas aprendidas pela humanidade, para sobreviver a epidemias, aplicadas há séculos.

Conduta, aliás, que se tornou o principal tema da eleição de 3 novembro, e custou a Trump a reeleição, o que ele tenta freneticamente explicar por “fraude” inexistente.

Por sua vez o Dr. Anthony Fauci, considerado o maior especialista em doenças infecciosas do país, confirmou à rede de tevê NBC ter dito “sim na mesma hora” ao convite do presidente eleito Biden para que se incorpore ao comando de seu governo no combate à pandemia. Repetidas vezes, Trump sinalizou a demissão do cientista, que serviu a governos democratas e republicanos, mas acabou recuando no último minuto por causa da repercussão negativa.

No próximo dia 10, reunião do órgão de vigilância sanitária norte-americano, o FDA, irá discutir a aprovação de vacinas para uso emergencial, já pedida pela Pfizer/BioNTech e pela Moderna.

“Agora é o momento de aguentar e não desistir”, disse Fauci na entrevista à NBC, diante da iminência da aprovação das vacinas contra a pandemia. “À medida que entrarmos em Janeiro e Fevereiro e Março, mais e mais pessoas poderão ser vacinadas”.

Os EUA lideram o ranking mundial de casos do novo coronavírus, com 14.086.016, seguidos pela Índia, com 9,5 milhões, e pelo Brasil, com 6,4 milhões. Em mortos, o campeão, como já dito, são os EUA, com 275 mil, mas a triste condição de ‘vice’ cabe ao Brasil, sob Bolsonaro, 174 mil, seguido pela Índia, com 138 mil.

Na quinta-feira, o total de contaminações pela Covid ultrapassou os 65 milhões no mundo inteiro, enquanto também foi ultrapassada a barreira de 1,5 milhão de vítimas. Apenas oito dias haviam transcorrido desde que a marca de 60 milhões de casos foi atingida, em 25 de novembro.