Diante da ameaça de que as prisões inglesas se tornem focos do coronavírus, o Ministério da Justiça britânico (MoJ) anunciou planos para a libertação antecipada de até 4 mil presos na Inglaterra, de baixo risco, mas já anunciou que o fundador do WikiLeaks, o jornalista Julian Assange, não será libertado.

Foi cinicamente alegado que ele não seria “elegível”, por não estar cumprindo pena. Em suma, por estar virtualmente sequestrado a pedido do governo Trump, que quer sua extradição por denunciar crimes de guerra, Assange será mantido sob a ameaça da Covid-19 na pior prisão inglesa, Belmarsh, apesar do notório quadro de saúde frágil do jornalista.

Com o país sob quarentena para evitar a disseminação do coronavírus, nada justifica a manutenção de Assange sob tal risco. Ainda mais quando se sabe que ele tem uma condição pulmonar crônica e sua saúde foi sistematicamente devastada por anos do que os relatores da ONU sobre direitos classificam de detenção arbitrária e tortura psicológica.

Em carta aberta, a campanha Médicos por Assange denunciou que “a vida e a saúde de Julian Assange estão em maior risco devido à sua detenção arbitrária durante esta pandemia global. Essa ameaça só aumentará à medida que o coronavírus se espalhar”.

200 profissionais da saúde assinaram a carta. Em 16 de março, o tribunal de exceção que se ocupa do pedido de extradição negou fiança para Assange. Provavelmente, não haverá como manter em maio a audiência de extradição.

Faz dez anos que o WikiLeaks publicou o vídeo “Assassinato Colateral”, exibindo a matança indiscriminada de civis desarmados em Bagdá – inclusive dois jornalistas e um pai que levava os filhos para a escola e parou para socorrer as vítimas – por um helicóptero Apache, operando sob ordens do comando central da ocupação.

Segundo as notícias, 200 funcionários do presídio de Belmarsh decidiram se auto-isolar com temor de terem contraído a covid-19. Em outras prisões, são 7.800 guardas nessa situação, mais o que se estima serem 2 mil presos. É uma bomba-relógio.

Na Grã-Bretanha, os casos da Covid-19 já passam de 50 mil, com mais de 5 mil mortos – mais mortes do que na China. O primeiro-ministro Boris Johnson foi parar na UTI.

Ainda assim, a ‘justiça’ britânica continua se negando a proteger a vida de Assange, libertando-o.

Dois presos já morreram do coronavírus na prisão de Littlehey, em Cambridgeshire, além de dois guardas na prisão de Pentoville, no norte de Londres. Em entrevista à BBC Newsnight, o advogado Simon Creighton, que tem clientes em Littlehey, disse que “se os navios de cruzeiro são vistos como placas de Petri, as prisões são mil vezes piores”. 

Creighton chamou de “aterrorizante” o contato que manteve com os presos de lá na última semana. Na Inglaterra, até sábado, 88 presos haviam testado positivo para COVID-19 em 29 prisões, juntamente com 15 funcionários em nove prisões, o que significa que o vírus já está desembestado em pelo menos um quarto das instituições na Inglaterra.