Greve nacional no Panamá entra pela segunda semana

Liderada pelos Sindicatos de Professores, Cargueiros, movimentos indígenas e estudantis, uma greve nacional entra na segunda semana paralisando o Panamá para exigir o congelamento ou o corte nos custos do combustível, eletricidade, remédios e dos produtos da cesta básica familiar, além da dotação de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação pública.

Muitos pneus foram incendiados na Cidade do Panamá e um carro de polícia foi destruído nesta que é considerada a maior onda de protestos que sacode o istmo em três décadas.

A Aliança Nacional pelos Direitos do Povo Organizado (Anadepo) condenou a tentativa do presidente Laurentino Cortizo de impor uma “negociação” unilateral na Cidade do Conhecimento, na capital, nesta quinta-feira (14), explicando que já existe uma “mesa legítima instalada em Santiago de Veraguas”

“Queremos um diálogo real, com as organizações que estão em luta e que seja claro para toda a população panamenha, não aquela pantomima que eles encenaram, de novo, como estão acostumados com os falsos diálogos do ‘eu comigo’; essa é a nossa posição”, afirmou o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Construção (Suntracs), Saúl Méndez. Além da redução e do congelamento dos preços dos produtos de primeira necessidade, assinalou Méndez, é fundamental “provocar um aumento geral nos salários”, que foram violentamente arrochados.

Para o secretário-geral da Associação dos Professores (Asoprof), Fernando Ábrego, a unidade é chave para a vitória. “Conhecemos a história que tivemos com governos anteriores, inclusive este, que usa as mesas para trazer organizações que não estão em luta. Por isso, exigimos o reconhecimento da Aliança dos Povos Unidos pela Vida, da Anadepo, do povo Ngäbe em resistência e das comunidades que lutam em todo o país”, enfatizou.

Os bloqueios de portos e grandes rodovias causaram “perdas financeiras na casa dos milhões de dólares para as indústrias marítimas e de logística”, confirmou a Câmara Marítima do Panamá.

Os operários da construção promoveram uma greve de 24 horas e os sindicatos do Canal do Panamá expressaram sua solidariedade, mas estão proibidos por lei de fazer greve. A Associação Nacional de Enfermeira realizou piquetes, enquanto estudantes e indígenas empobrecidos da parte oeste do país também se uniram às manifestações, denunciando que com a economia dolarizada, os panamenhos sofrem ainda mais profundamente as consequências da falta de soberania.

O agravamento da crise, evidenciada pelas prateleiras vazias e os preços nas nuvens, segundo o presidente Cortizo não é de responsabilidade de seu governo, mas da “pandemia e da guerra na Ucrânia”. Diante do caos, ele concordou em buscar tetos de preços em 10 produtos básicos, incluindo massas, lombo, óleo vegetal e sardinha enlatada, no que foi considerado completamente insuficiente.

Os movimentos sociais alertaram que a situação só irá melhorar quando o preço do gás seja reduzido para menos de US$ 3,00 o galão e impactem na diminuição de preços do conjunto da economia.

“O preço da gasolina está sobrecarregando aqueles de nós que precisam viajar para dar aulas em nossas escolas”, declarou Ilbis Rujano, professor de escola pública, esclarecendo que “além disso, o custo da alimentação aumentou, o que é um golpe para as famílias mais pobres que têm que mandar seus filhos para a escola. Isso não pode ser tolerado”.

“O copo de tolerância e paciência que o povo panamenho demonstrou durante várias administrações transbordou com o preço do combustível, que é abusivo, entre outras coisas”, resumiu o professor de ciência política Miguel Antônio Bernal.