Depois de ziguezaguear entre um discurso nacionalista para a Petrobras e outro entreguista para a Eletrobras – tudo em questão de poucos dias –, Jair Bolsonaro viu sua palavra “perder valor” no mercado, como as ações da própria Petrobras. Com dois ou três anos de atraso, os investidores começam a perceber que a credibilidade do presidente é uma peça de ficção.

Segundo o colunista Guilherme Amado, da revista Época, os agentes do mercado não creem mais na venda da Eletrobras e dos Correios, apesar das medidas tomadas às pressas por Bolsonaro nesta semana para, aparentemente, acelerar a agenda privatista. Segundo essa turma das finanças, tudo não passou de “jogo de cena”.

“A apresentação da medida provisória de capitalização da Eletrobrás e do projeto de lei para a privatização dos Correios foi recebida com descrédito na Faria Lima. A percepção de empresários e executivos ouvidos pela coluna é que foi puro marketing, sem um compromisso verdadeiro com a desestatização”, informou Guilherme Amado. “A declaração de Bolsonaro dizendo que as privatizações talvez só ocorram em um eventual segundo mandato também contribuiu para isso.”

A equipe econômica do governo, sob o comando ultraliberal de Paulo Guedes, diz que a União pode arrecadar R$ 25 bilhões com privatização da Eletrobras. A intenção de Guedes e cia. é que a União deixe de ser a acionista majoritária da empresa até dezembro deste ano. A capitalização terá recursos exclusivamente de acionistas privados.

Mas o mercado lembra que projeto de lei semelhante enviado pelo governo ao Congresso, no final de 2019 não andou – e nem sequer teve relator indicado. Além disso, investidores chiam que há outras 25 medidas provisórias com preferência sobre a da Eletrobras. Sem contar a análise prévia do Tribunal de Contas da União (TCU) e a realização de uma assembleia geral de acionistas da Eletrobras para aprovar o negócio. Não há urgência política que justifique o turbinar do processo de entrega da companhia.

 

(Edição: Mariana Branco)

 

Com agências