O padre Julio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo

O padre Julio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, criticou a decisão do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), que liberou a realização de cultos e missas presenciais mesmo com o agravamento da pandemia.

“É interessante que, na sentença, [o ministro] diz que isso é a essencialidade da liberdade religiosa. Que engano. A essencialidade da liberdade religiosa é o testemunho. Não é ir no templo. Tem muita gente que vai no templo e não testemunha Jesus. Vai no templo para testemunhar o cofre. Vai no templo para testemunhar o lucro, não Jesus. Nós não precisamos ir no templo para testemunhar Jesus. Nós precisamos testemunhá-lo na vida”, disse o padre durante a celebração de uma missa online, no domingo (4).

As críticas foram feitas durante a celebração da Páscoa, realizada em São Paulo e transmitida pela internet. Lancellotti afirmou, ainda, que “o testemunho de Jesus no Brasil, hoje, é garantir proteção social para todo o povo, é garantir vacina para todo o povo”.

“Testemunhar Jesus hoje é partilhar a vida. (…) Você não dá o teu testemunho da fé no templo. No templo você manifesta, ritualiza, celebra, vivencia. Mas o testemunho da fé, de Jesus, se dá na vida, na Unidade Básica de Saúde (UBS), no hospital, na sociedade, na comunidade”, disse.

A decisão de Nunes Marques é liminar, e foi publicada no sábado (3). Cultos e missas foram autorizados a ocorrer presencialmente, desde que sigam medidas sanitárias de prevenção. Neste domingo (4), a basílica de Aparecida realizou uma missa com 150 fiéis.

Na Igreja Mundial do Poder de Deus, um culto de Waldomiro Santiago reuniu um grande número de pessoas. Imagens divulgadas pela própria igreja demonstraram nenhum respeito às medidas de distanciamento social entre os presentes.

A medida causou indignação de prefeitos e governadores de todo o país. O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), afirmou que recorreu da decisão e pediu um posicionamento do presidente do STF, Luiz Fux.

A decisão de Nunes também foi criticada pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF. Ainda não há previsão de quando a liminar será votada no plenário da Corte.

Essa decisão de Nunes Marques vem no momento em que o país vive o pior momento da pandemia até agora. O mês de março teve recorde de mortes: foram registradas 66.868 mortes por Covid-19, mais do que o dobro de junho de 2020, antigo pico da pandemia, com 32.912 óbitos.

Segundo o último levantamento do Conass, de domingo, o Brasil já registrou 333.866 vidas perdidas para a Covid-19.