Em todo pântano há os seus subprodutos. No caso dos métodos políticos da direita, um dos mais visíveis é o jornalista da mídia que ganha carta branca para ser chapa branca dos interesses que ele representa. Em situações de crise, esse tipo de porta-voz ideológico ganha ainda mais status. Eles assumem o papel de guarda pretoriana dos interesses representados por seus grupos de mídia – ou outro grupo qualquer – para bater da cintura para baixo.

Por Osvaldo Bertolino*

Há exemplos históricos, como o de David Nasser, da revista O Cruzeiro, que traduzia na máquina de escrever o gangsterismo do seu patrão, Assis Chateaubriand, nos bastidores das negociatas políticas e econômicas e por isso foi golpeado em 26 de dezembro de 1963 por dois potentes socos de Leonel Brizola no saguão do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Hoje isso seria impensável; tanto pelo revide incivilizado quanto pelo poder que os grupos de comunicação movidos a negociatas angariou.

Fonte de renda

Mas ao ler a crônica daqueles tempos constata-se que hoje os comportamentos de Nasser são ainda piores. Desfilam nessa categoria, praticando gangsterismo jornalístico, gente como Merval Pereira, Augusto Nunes, Cláudio Humberto, Alexandre Garcia e tantos outros. Eles pertencem ao mais elevado patamar da indústria de fake news, a matéria-prima básica dos grupos de mídia para a militância política da ideologia do século XIX em pleno século XXI. Essa prática de jornalismo gângster precisa da falsificação grosseira dos fatos e da história.

A indústria da fake news é fonte de renda e meio de vida para muita gente. Ela é tão militante que chega ao mundo acadêmico. Recentemente houve o caso da tese de doutorado de Hugo Studart, inexplicavelmente aprovada na Universidade Nacional de Brasília (UnB), que resultou num livro de ficção barata vendida como história. A obra foi produzida para dar lucro sobre uma infâmia que ao longo dos tempos tem sido meio de vida de gente sem escrúpulos, sem ética – o anticomunismo.

No caso de Studart, cuja obra que ataca a Guerrilha do Araguaia e seu organizador, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), da maneira mais sórdida possível acaba de ser indicada ao Prêmio Jabuti – uma aberração, por incluir ficção de quinta categoria na categoria “Biografia, Documentário e Reportagem” -, ele mobilizou um séquito desses ratos pretorianos para divulgá-la. A dúvida que paira no ar é se a turma do jornalismo de esgoto se mobilizou espontaneamente ou foi instada por seus patrões.

Buraco de ratos

A indústria do anticomunismo, agora também conhecida como antipetismo, precisa de gente esvaziada de ética, com nível intelectual baixíssimo e sem cognição social. O resultado são textos obtusos, ideias vulgares e raciocínios pervertidos. Studart, por exemplo, acaba de requentar um personagem que ele criou quando se viu acossado pelas revelações de fraudes para voltar a agredir o PCdoB e promover sua obra. Seria um tal de Vitor, aluno do 2° ano do ensino médio e em escola pública, agredido por um professor do PCdoB por ter citado seu nome. Uma ficção tão ordinária quanto a sua obra.

Há fake news menos toscas na praça. Mas todas são à base das bravatas, do discurso fácil, do denuncismo estéril e farsesco. Contestá-las é gastar energia preciosa em bate-bocas fúteis e entrar em becos (ou buraco de ratos) sem saída. Nesse ambiente da rataria pretoriana midiática não se respira os ares do debate democrático, refletido. São verdadeiros Manchas Negras e Irmãos Metralha dizendo que estão fazendo jornalismo e história. Gente habituada ao tráfico de influência e à falta de transparência das negociatas fechadas entre quatro paredes, que não titubeia em falar de “ética” como valor inegociável.

Marc Bloch, historiador francês fuzilado pelos nazistas em 1944, disse que o passado é, por definição, um dado que nada mais modificará – ressaltando que o conhecimento do passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa. É interessante conhecer o passado para não comprar fraudes como essa de Hugo Studart. Mais importante ainda é conhecer os fatos para não ser vítimas dos interesses representados pelos ratos pretorianos midiáticos, como vem acontecendo nesse processo iniciado com a marcha do golpe.

Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)Clique para enviar por e-mail a um amigo(abre em nova janela)Clique para imprimir(abre em nova janela)Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela)