Orlando, Leci e milhares de militantes ocupam Paulista contra racismo

Milhares de pessoas ocuparam a Avenida Paulista, em São Paulo, na 16ª Marcha da Consciência Negra. “Vida, Liberdade e Futuro. Contra o Genocídio e Criminalização do Povo Negro” foi o tema da marcha organizada por diversas entidades do movimento negro, que contou também com o apoio de outros segmentos. Os deputados Orlando Silva e Leci Brandão, além do membro do Comitê Central Edson França, participaram da marcha e representaram o PCdoB.
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), pré-candidato à prefeitura da capital paulista, afirmou que o dia 20 de novembro é referência importante para celebrar a luta dos negros. Apontou, contudo, estar entre o grupo que não vê muito a ser comemorado.
“Se formos analisar na saúde, na educação, no trabalho, na renda e nos vários planos da vida, você tem uma diferença. Então é necessário superar o racismo que no Brasil ganhou um caráter estrutural e institucional. O ato praticado ontem pelo Coronel Tadeu [de quebrar um quadro com uma charge denunciando o genocídio da juventude negra na Câmara dos Deputados] é a demonstração da intolerância que ainda existe nos meios de poder, com relação à presença negra. Ele não suportou uma crítica realizada por um artista. Na prática, ele associou racismo e censura, por isso eu acredito que é o momento de nós, neste 20 de novembro, relembrarmos das lutas e animarmos para as novas lutas que estão por vir, para superar de vez o racismo no Brasil”, defendeu Orlando.
E completou: “Eles não suportam ver a nossa cara com destaque na política e no Congresso Nacional. Nossa resposta tem que ser que nós queremos viver, queremos direitos, e queremos poder para o povo preto, porque é desse jeito que vamos resgatar os direitos da nossa gente!”
Assista a um trecho do discurso de Orlando Silva na passeata:
No ato do Dia da Consciência Negra, em São Paulo, denunciamos o racismo e o fascismo, expressos no genocídio da juventude negra e nas medidas de Bolsonaro e Moro. A luta por um Brasil de igualdade de oportunidades e livre do racismo é um compromisso de vida. Viva Zumbi! pic.twitter.com/i2qOhW4unb
— Orlando Silva (@orlandosilva) 20 de novembro de 2019
Leci Brandão, deputada estadual (PCdoB-SP), também participou da manifestação.
“Dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra, nosso povo negro combate o racismo há anos. Somos os que mais sofrem com a violência e o genocídio. Precisamos mudar esse quadro e transformar o Brasil com oportunidade, direitos e justiça para todos e todas”, discursou.
Assista ao discurso de Leci na Avenida Paulista:
Unegro
O vice-presidente da União de Negros Pela Igualdade (Unegro), Edson França, que também é membro do Comitê Central do PCdoB, afirmou que “o racismo é elemento definidor de classe no Brasil, óbvio que não o único, mas é um elemento importante considerando os 388 anos da escravidão e o processo político de substituição do trabalho escravo. É importante olhar para a dimensão do racismo, para a diferenciação e capacidade do racismo de divisão da classe trabalhadora.”
França argumentou que o projeto ultraconservador e ultraliberal de Bolsonaro só é possível “com o aumento da violência e com a inobservância total da democracia”. Neste sentido, criticou o pacote anticrime do ministro da Justiça Sérgio Moro, que pode aumentar a impunidade de policiais e o genocídio contra os negros.
“Quanto mais ele destruir a democracia, mais espaço ele encontra para aplicar seu pacote de maldades. Como diz o movimento negro, a democracia não chegou para nós, mas agora o projeto de Bolsonaro e Moro é de cada vez mais aumentar a violência contra o povo”, afirmou, defendendo a construção de uma frente ampla para enfrentar os retrocessos impostos por Bolsonaro.
“A frente ampla tem esse sentido, com a democracia como ponto comum, que unifica as pessoas, porque sem ela você tem maiores dificuldades de lutar. Precisamos avançar nessa agenda e impor sucessivas derrotas ao campo bolsonarista. A pauta da vida está na frente ampla, o que para o movimento negro é sim prioridade”, concluiu.
Atentado
As comemorações do dia e do mês da Consciência Negra foram marcados por ataques racistas no país. Além da atitude do Coronel Tadeu (PSL) na última terça-feira (19), denunciada por Orlando e outros deputados e deputadas da bancada negra no Congresso, o professor da Unesp, Juarez Xavier, foi xingado e esfaqueado em Bauru, interior de São Paulo, no dia da Consciência Negra.
Pelas redes sociais, Orlando Silva reagiu ao ataque e reconheceu a importância de Juarez para o movimento negro.
“Juarez ensinou muito para nós, militantes da Unegro. Eles não passarão, faremos Palmares de novo! Eles não passarão, faremos Palmares de novo!”, escreveu.
O meu abraço solidário ao professor da Unesp Juarez Xavier, que foi esfaqueado por um fascista, no dia da Consciência Negra. Juarez ensinou muito para nós, militantes da Unegro. Eles não passarão, faremos Palmares de novo!https://t.co/agLaZmSNxv
— Orlando Silva (@orlandosilva) 21 de novembro de 2019
Consciência Negra
O dia da Consciência Negra no Brasil é realizado no mesmo dia em que se acredita que tenha morrido o Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo conhecido pela historiografia brasileira. No auge, Palmares, que ficava localizado na Serra da Barriga, Capitania de Pernambuco – hoje estado de Alagoas – chegou a abrigar cerca de 30 mil pessoas que fugiam da escravidão.