O governo Bolsonaro passou a comprar centenas de caminhões por meio de pregões duvidosos realizados por órgãos controlados pelo Centrão.

Mais um escândalo atinge o governo Bolsonaro. Desta vez a falcatrua envolve a compra e a distribuição a aliados fieis de caminhões compactadores de lixo. Até agora o governo destinou R$ 381 milhões para o esquema.

Segundo levantamento do Estadão, a compra sem licitação de caminhões de lixo disparou no atual governo, um aumento de 500%. Não importa que o equipamento seja desaconselhado para municípios com menos de 17 mil habitantes. A distribuição não leva nada disso em consideração. Quem ganha são as fornecedoras “amigas”.

O dinheiro sai do orçamento secreto e a compra é feita por estatais, como a Codevasf, que Bolsonaro deu para controle do Centrão. Não há nenhum planejamento.

Políticos bolsonaristas organizam verdadeiras “lixociatas” em pequenas cidades para onde enviam esses caminhões compactadores, ao invés de caminhões basculante – mais indicados, segundo especialistas, para cidades pequenas -, comprados de empresas “amigas”, com preços superfaturados. Um município de 8 mil habitantes recebeu três caminhões enquanto os municípios vizinhos não têm nenhum.

A diferença dos preços de compra de modelos idênticos, em alguns casos, chegou a 30%, segundo o Estadão. Em outubro passado, por exemplo, o governo adquiriu um modelo de caminhão por R$ 391 mil. Menos de um mês depois, aceitou pagar R$ 505 mil pelo mesmo veículo, diz o jornal.

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas), por exemplo, destinou R$ 240 mil para a compra de um caminhão de lixo fornecido pela empresa de uma amiga que frequenta o seu gabinete. A estatal que fez o pregão é comandada por um apadrinhado dele, a prefeitura que efetuou a compra é de uma correligionária.

Pertencente à empresária Carla Morgana Denardin, o Grupo Mônaco Diesel Caminhões, Ônibus e Tratores Ltda ampliou a venda de veículos compactadores de lixo para o governo justamente depois que Ciro Nogueira se aproximou de Jair Bolsonaro. Desde então, conseguiu um contrato no valor de R$ 11,9 milhões com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) do Piauí, reduto eleitoral do ministro.

O certame vencido pelo Grupo Mônaco, da amiga de Nogueira, permitiu a compra de até 40 caminhões de lixo, ao custo total de R$ 11,9 milhões. A superintendência da Codevasf no Piauí, que fez o pregão, é comandada desde abril de 2019 por Inaldo Guerra, apadrinhado do ministro da Casa Civil. Guerra foi o responsável por ratificar o resultado da licitação.

Carla Denardin, dona da empresa, foi uma das convidadas para a posse de Nogueira na Casa Civil, em 4 de agosto. Naquele dia, em seu perfil no Instagram, ela postou uma foto ao lado do ministro, no Palácio do Planalto. “Sobre acreditar que o Brasil vai longe, que dias melhores estão por vir e que estamos no caminho certo”, escreveu ela.

No dia anterior, o governo federal havia emitido ordem bancária pagando R$ 1.332.431,98 à empresa de Carla. O pagamento era referente à compra de nove caminhões de lixo “para os municípios do Piauí”. Os valores já tinham sido empenhados (reservados) antes, mas estavam nos chamados “restos a pagar”, situação em que poderiam permanecer durante anos, caso não existisse boa vontade em relação à empresa.

A prefeitura de Brasileira, a 183 quilômetros de Teresina, beneficiária da verba é coincidentemente administrada por outra aliada de Nogueira, a prefeita Carmen Gean (Progressistas). Foi ela quem recorreu à ata da Codevasf-PI para comprar o caminhão.

A farra dos caminhões de lixo não tem nada a ver com o saneamento básico. Não segue nenhuma política pública de saneamento básico. A orgia dos caminhões foi montada unicamente para atender a currais eleitorais bolsonaristas. Em agosto Collor de Mello (PTB-AL) divulgou foto ao lado do caminhão de lixo na cidade de Minador do Negrão, com pouco mais de 5 mil habitantes, em Alagoas.

No Piauí, por exemplo, 89% das cidades ainda recorrem a lixões a céu aberto, mas o governo está espalhando caminhões de compactação. Um terço dos 224 municípios do Piauí nem sequer elaborou um plano para dar fim aos lixões, segundo a coordenadora do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente do Ministério Público do Piauí, Áurea Madruga.