Oposição alerta para improviso na crise de segurança no Equador
Quito (Pichincha), 10 de janeiro de 2024.- O inexperiente presidente do Equador, Daniel Noboa Azin, improvisa para enfrentar uma crise de segurança, aproveitando para impor suas políticas liberalizantes. Foto: Isaac Castillo/Presidência da República.
O Equador enfrenta uma crise profunda, com uma escalada de violência que atingiu seu auge com a tomada de controle ao vivo de um canal de televisão por grupos criminosos. Este episódio espetacular é apenas o ápice de uma espiral de violência que tem assolado o país, levantando sérias questões sobre como a nação sul-americana chegou a esse ponto crítico e quais são as perspectivas sob o governo do novo presidente, Daniel Noboa.
O aparente arrefecimento da crise, após o governo anunciar o controle das prisões e libertação de reféns, cria a ilusão de pacificação e projeta o jovem Noboa como liderança da direita. No entanto, especialistas e políticos de esquerda alertam para a falta de políticas estruturais para que a situação de miserabilidade, desemprego e informalidade da juventude se altere ao ponto do narcotráfico deixar de ser a única alternativa de renda.
O ano de 2023 foi marcado por uma onda de crimes e violência sem precedentes na história do Equador. Com 7.878 crimes registrados, apenas 584 foram resolvidos, culminando em uma taxa de homicídios alarmante de 46 mortes por 100.000 habitantes, classificando o país como o mais violento da América Latina.
Apesar da promessa de Noboa de implementar um “Plano Fênix” para a segurança, desde sua posse em novembro de 2023, pouco foi feito para enfrentar a situação. O presidente, jovem e inexperiente, optou por um comportamento evasivo, deixando a cena pública para percorrer a Europa com sua família.
Noboa, sem experiência anterior em gestão, enfrentou uma série de desafios desde sua posse. Com a falta de um plano de segurança concreto, nomeações questionáveis e atrasadas para cargos sensíveis, como a Ministra do Governo e o Ministro da Defesa, e a presença de amigos empresários em posições de segurança, a administração de Noboa mostrou-se desorganizada e despreparada para lidar com a crescente ameaça.
O último ciclo de violência criminal abriu uma janela de oportunidade para uma mudança estratégica liderada pelas Forças Armadas e apoiada pelos Estados Unidos. O acordo bilionário entre Equador e EUA para fortalecer as Forças Armadas e o estabelecimento do “conflito armado interno” oferecem às elites econômicas e à direita neoliberal a oportunidade de ancorar a governabilidade em uma liberalização total da economia, acompanhada por uma militarização progressiva da sociedade.
Com o Equador à beira do abismo, a perspectiva é sombria. Se os planos de militarização e liberalização econômica forem bem-sucedidos, Daniel Noboa pode se tornar uma figura semelhante ao presidente salvadorenho Nayib Bukele, que implantou um autoritarismo que avança sobre a oposição política no país da América Central. No entanto, a contaminação das forças de segurança pelo crime organizado sugere que a violência criminosa será seguida por violência política, colocando o país em uma espiral descendente de instabilidade. O futuro do Equador permanece incerto, à mercê de decisões críticas que moldarão o destino da nação andina.
Rafael Correa
O ex-presidente do Equador, Rafael Correa, atualmente exilado em Bruxelas devido à perseguição judicial que sofre em seu país, tem denunciado a atual “acefalia” do Estado equatoriano, associando-a a uma série de erros e omissões que culminaram na explosão recente de violência no país. Ele ressalta a rápida deterioração do Equador, uma nação que, durante seu governo entre 2007 e 2017, foi considerada o segundo país mais seguro da América Latina.
Correa apontou a perda de mercado dos cartéis mexicanos nos Estados Unidos como um fator crucial na intensificação da violência no Equador. Ele alega que esses cartéis fizeram pactos com organizações equatorianas, aproveitando a debilidade do Estado após seu mandato. O ex-presidente acusa seu sucessor, Lenín Moreno, de traição e destruição das instituições estatais, especialmente aquelas relacionadas à segurança e ao sistema carcerário.
O político expressa preocupação com a falta de preparo do atual presidente, Daniel Noboa, para lidar com a crise, criticando a composição do governo e a ausência de um plano de segurança eficaz. Correa sugere a necessidade de uma resposta urgente com apoio político e econômico, destacando a gravidade da situação e a guerra declarada pelo crime organizado ao Estado equatoriano.
Correa defende a implementação de medidas estratégicas e de longo prazo para abordar as causas estruturais da violência, incluindo o desenvolvimento socioeconômico para combater a delinquência comum e uma estratégia internacional para lidar com o crime organizado, especialmente no que diz respeito ao narcotráfico.
Ele também acha que outros países, como o Brasil podem oferecer ajuda ao Equador, desde que respeitem a soberania do país. Ele sugere a possibilidade de ajuda em tecnologia para detecção de drogas e armamentos, rastreamento de dinheiro, além de especialistas em inteligência para desmantelar estruturas criminosas.
Correa defende a necessidade de união no Equador, sugerindo a formação de um governo de coalizão nacional ou um grande grupo de assessores nacionais para enfrentar a crise, contando com especialistas em segurança e medidas de apoio.
Luisa González
Luisa González, representante do Partido Revolução Cidadã, a maior bancada na Assembleia equatoriana, costuma destacar que os ataques e conflitos armados não são novidade quando se trata de líderes de gangues criminosas no Equador. Ela critica a improvisação do governo e sugeriu que, se as autoridades tivessem agido com antecedência, poderiam ter evitado a situação atual. Luisa aponta para a falta de controle em outras prisões como um sinal de negligência e despreparo.
Ao abordar as medidas adotadas por Noboa, a candidata derrotada à Presidência, expressa preocupação com a falta de um plano de ação claro. Ela reconhece o apoio dado à declaração de estado de exceção e à mobilização das forças de segurança, mas ressalta a ausência de um cronograma e a improvisação evidente do governo.
Sobre a proposta de construção de duas prisões anunciada por Noboa, Luisa enfatiza que o foco deve ser em duas frentes: fortalecimento das forças de segurança e implementação de políticas sociais. Ela aponta para a falta de equipamento e orçamento adequado para as forças de segurança, além da necessidade urgente de abordar questões sociais como desemprego e condições de vida dignas.
Ao justificar seu apoio à declaração de conflito armado interno por Noboa, Luisa reconhece a gravidade da situação, descrevendo-a como um enfrentamento entre grupos criminosos que declararam guerra ao Estado equatoriano. Ela confia nas Forças Armadas para agirem corretamente, mas ressaltou a importância de uma limpeza nas forças de segurança para lidar com o problema de “narcogenerais” e possíveis colaboradores do crime organizado.
Ela rejeita impostos regressivos como o projeto de lei que propõe aumento de impostos para financiar o combate às gangues, prejudicando os mais pobres. Ela propõe alternativas, como um imposto extraordinário aos bancos e grandes fortunas, evitando que os mais pobres suportem o fardo da crise.
González também discute os impactos da crise na segurança no investimento, tanto interno quanto externo, alertando para a extorsão generalizada afetando diversos setores, incluindo o turismo.
Quanto à ajuda internacional, González enfatiza a necessidade de alianças estratégicas para combater o crime organizado em nível transnacional. Ela sugeriu que países como Brasil, Colômbia, México, União Europeia e Estados Unidos integrem suas unidades de inteligência para mapear e rastrear redes de tráfico de drogas.
(por Cezar Xavier)