"Obrigar artistas a expressar suas opiniões políticas em público e a denunciar a sua Pátria não é correto”, disse a soprano Anna Netrebko

A Ópera Estatal da Baviera, de Munique, cancelou os compromissos que tinha com destacados artistas russos a exemplo de Valeri Guerguiev e de uma das contoras líricas mais destacadas da atualidade, Anna Netrebko, sob o pretexto de uma “falta de distância” de ambos em relação ao governo de Vladimir Putin.

Segundo o diretor da Ópera, Serge Dorny, isso se deu “devido à terrível guerra de agressão da Rússia na Ucrânia e a falta de distância suficiente de Valeri Guerguiev e Anna Netrebko”. Assim sendo, “a Bayerische Staatsoper cancelará os compromissos existentes”,

À indigna atitude do diretor da Ópera de Munique, se juntaram outros atos de censura de cunho macartista que estão grassando entre políticos e diversas casas de espetáculo da Europa.

Outro exemplo é o do Teatro alla Scala, de Milão, que também anunciou o cancelamento da apresentação de Guerguiev. O músico estava programado para dirigir quatro apresentações este mês da ópera A Dama de Espadas, do compositor russo Piotr Ilich Tchaikovsky.

O prefeito milanês, Giuseppe Sala, e o superintendente do La Scala, Dominique Meyer, tinham dado um ultimato a Guerguiev e a Anna Netrebko, na semana passada, para que deixassem clara sua posição em relação à operação militar especial na Ucrânia.

“Obrigar artistas ou qualquer figura pública a expressar suas opiniões políticas em público e a denunciar a sua Pátria não é correto. Isso deveria ser uma escolha livre. Como muitos dos meus colegas, não sou uma pessoa política. Não sou especialista em política. Sou uma artista e meu propósito é unir pessoas divididas em linhas políticas”, afirmou a talentosa soprano.

No entanto, a Ópera de Zurique considerou essas declarações insuficientes e incompatíveis com o que ele chamou de uma “postura decisiva” do teatro contra o governo Putin. Por isso, anunciou em comunicado que Anna não vai cantar na apresentação da ópera Macbeth, do compositor italiano Giuseppe Verdi, prevista para o final deste mês naquele coliseu.

Censura ao Bolshoi

Políticos gregos também deram sua ajuda ao obscurantismo: a ministra da Cultura e Esportes, Lina Mendoni, instruiu a suspensão de qualquer realização, cooperação, planejamento ou discussão de eventos com organizações culturais russas.

Isso afetou uma transmissão ao vivo de Moscou do ballet O Lago dos Cisnes, obra-prima da música clássica mundial, também de Tchaikovsky, que estava marcado para este fim de semana, interpretado pelo Balé Bolshoi.

Artistas da música clássica e ópera que trabalham na Europa, consultados pela Agência Sputnik, manifestaram a sua preocupação de falar publicamente sobre o assunto devido a possíveis cancelamentos dos seus contratos.

“A ideia de punir grandes artistas e compositores por essa questão, alguns mortos há décadas, séculos, é outra estupidez dessa classe política que às vezes me dá vergonha”, disse o pianista, compositor e maestro norte-americano Stefan Lano à agência Sputnik.

O músico, que já foi regente de importantes orquestras da Europa, Estados Unidos e América Latina e atualmente está à frente da Orquestra Sinfônica SODRE do Uruguai, defendeu que política não deve ser misturada com arte. “Que Guerguiev seja amigo de Putin é um assunto privado dele, e não creio que Guerguiev tenha algo a ver com o que está acontecendo na Ucrânia, que é uma tragédia. Mas é uma tragédia pela OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] e pela política dos EUA”, disse Lano.

O maestro criticou alguns governos ocidentais por “falta de inteligência e compreensão geopolítica” e por serem “surdos às preocupações da Rússia”.

Por sua vez, a cantora lírica russa Evgenia Pirshina declarou que os artistas não devem ser pressionados a se expressar politicamente e condenou que existam esses tipos de cancelamentos: “Sou contra todo tipo de discriminação com base na nacionalidade”.