O Escritório do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos expressou, na terça-feira (14), sua preocupação pela quantidade inaceitável de assassinatos de ativistas sociais na Colômbia, apesar da assinatura de um acordo de paz no país.
O organismo assinalou que 107 defensores de direitos humanos foram mortos em 2019, mas o número real poderia chegar a 120, quando se completarem as investigações. Nos primeiros dias deste ano se denunciaram 10 assassinatos, embora outras cifras assinalam 17.
A grande maioria dos homicídios, quase todos perpetrados por bandos paramilitares e grupos a mando de narcotraficantes, aconteceram em zonas rurais onde a taxa de pobreza supera a média. Algumas dessas áreas estiveram sob o controle das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), organização que assinou o histórico acordo de paz em 2016 e hoje está dissolvida.
A Marcha Patriótica, que está conformada por mais de 850 organizações operárias, camponesas, indígenas, afro-descendentes, juvenis, estudantis, de mulheres, de bairro, sociais e populares em geral, em 29 dos 32 departamentos da Colômbia, é um dos principais alvos dos crimes. Considerando que o governo do presidente Iván Duque não enfrenta a violência que assola o país, a Marcha pediu uma reunião de urgência com o presidente para tratar dessa situação. “Continuamos denunciando o incremento da violência sócio- política que se cerne contra os líderes sociais e defensores de Direitos Humanos na Colômbia. As autoridades não podem fechar os olhos a essa realidade”, frisou a entidade.
De acordo com os números que divulgaram, “entre setembro de 2011 e 11 de janeiro de 2020, 222 companheiros e companheiras da Marcha Patriótica foram assassinados e 43 desde a posse [em agosto de 2018] de Iván Duque”.
Insistiram em que o Estado colombiano “não tem tomado as medidas necessárias, eficazes e efetivas para prevenir a continuidade da violência contra nós” e acrescentaram que há uma “atitude inoperante sendo conscientes que o tratamento da grave situação de violência sócio política na Colômbia e, em particular, contra os integrantes de Marcha Patriótica deve ir além das medidas atuais”.
O pedido de audiência para tratar destes graves problemas acoontece em um momento de forte mobilização popular contra o governo. No final de novembro último mais de 1 milhão de pessoas se manifestaram no bojo de uma greve geral contra a política de Duque que, segundo denúncias das principais entidades e partidos de oposição, é submisso ao modelo imposto pelo FMI e o ex-presidente Uribe.
Condenaram a política que vem sendo aplicada contra o povo e em favor dos cartéis e das múltis. Entre as medidas denunciadas estão a redução do salário dos jovens a 75% do salário mínimo, o pagamento por hora, o salário mínimo diferencial por região, o aumento da idade de aposentadoria e da contribuição, a eliminação do sistema público de aposentadoria pelo princípio da solidariedade entre gerações com a imposição da previdência privada a todos. Também, pensões abaixo do salário mínimo, eliminação do adicional por hora extra ou por trabalho aos domingos e feriados, enfraquecimento da estabilidade no emprego e da organização sindical.
As entidades populares também denunciam a junção, decretada por Duque, das 19 entidades financeiras estatais, inclusive a Colpensiones. O que é tido como uma manobra para acelerar a privatização do setor financeiro público, ao mesmo tempo em que há uma ameaça de demissões em massa.
As entidades também repeliram os leilões do patrimônio público, como a venda dos 20% restantes em mãos do Estado da Ecopetrol, assim como do gasoduto Cenit e do setor elétrico. Denunciaram, ainda, o tarifaço de 35% na energia elétrica e a reforma tributária para cortar impostos para os cartéis e arrochar os trabalhadores e a classe média.