Deportações aceleradas estão sendo usadas contra migrantes nos EUA, que são despejados no México.

A Agência da Organização das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) manifestou esta semana sua preocupação com a política do governo dos Estados Unidos de deportar para o sul do México a solicitantes de asilo e migrantes com base em uma ordem de saúde pública.

De acordo com a ACNUR, as pessoas expulsas podem necessitar de proteção urgente e correm seriamente o risco de serem devolvidas aos perigos dos quais fugiram, em seus países de origem na América Central.

“Esses voos de deportação de não mexicanos para o interior do México constituem uma nova dimensão preocupante na aplicação da ordem de saúde pública Título 42 relacionada ao COVID”, declarou Matthew Reynolds, representante da ACNUR nos Estados Unidos e no Caribe. Conforme Reynolds, o Título 42 é uma ordem de emergência aprovada durante a presidência de Donald Trump – e ainda em vigor – que permite a deportação imediata de migrantes sem documentos, incluindo aqueles que buscam asilo.

No final de julho, as autoridades estadunidenses começaram a deportar famílias de migrantes em voos para a América Central como parte de um sistema para devolver chegadas não autorizadas do México. Essas deportações aceleradas foram usadas pelas administrações republicana e democrata para impedir a imigração ilegal.

O departamento de Segurança Nacional disse que as famílias haviam sido enviadas aos seus países de origem, incluídos Guatemala, El Salvador e Honduras, porém não especificou o número de exilados.

“A expulsão dos Estados Unidos para o sul do México, fora de um acordo oficial de transferência com as garantias legais apropriadas, aumenta o risco de retorno em cadeia de pessoas vulneráveis em perigo, em violação ao direito internacional e aos princípios da Convenção sobre o Estatuto da Comissão de Refugiados de 1951 “, disse Reynolds.

O alto funcionário da ACNUR também alertou que esses voos de deportação reduzem a capacidade de resposta humanitária no sul do México e aumentam o risco de transmissão de Covid-19 entre os países. “Reiteramos o pedido de maio de 2021 para que o governo dos EUA retire as restrições de asilo do Título 42 que permanecem em vigor e restaure o acesso ao asilo para pessoas cujas vidas dependem disso”, acrescentou Reynolds.

A onda de migração sem precedentes – que é reflexo do aprofundamento da crise e do desespero nos países de origem – amplia uma campanha de ódio que culpa quem chega pelo aumento da Covid nos EUA.

O apresentador da Fox News, Sean Hannity, chegou ao cúmulo de dizer que os imigrantes eram os responsáveis por causar “o maior evento de propagação massiva” da pandemia, e assegurou, erroneamente, que nenhum deles era submetido sequer a provas diagnósticas.

Enquanto isso, especialistas em saúde pública asseguram que os imigrantes que chegaram ao país não estão elevando as taxas de infecção nos Estados Unidos, uma vez que os principais responsáveis são aqueles que se negam a vacinar-se. Além disso, os imigrantes a quem é permitido ingressar são submetidos a análises e diagnósticos, e são atribuídas hospedagens para que fiquem em quarentena em caso de dar positivo, ainda que as autoridades federais não tenham divulgados dados destes casos.

O número médio de novas infecções registradas por coronavírus nos Estados Unidos vem aumentando em cerca de 80 mil durante as últimas três semanas, que soma 129.012 relatadas em média até a última quinta-feira (12), totalizando 36.774.819 infecções e 620.684 mortes desde o início da pandemia.