A instrumentalização da “Justiça” para a prisão de parlamentares e dirigentes do Movimento Ao Socialismo (MAS), do ex-presidente Evo Morales, fez com que as Nações Unidas voltassem a se pronunciar em defesa dos direitos humanos, do respeito às instituições e o fim do seu uso para a “perseguição política”.

A autoproclamada presidenta Jeanine Áñez, fruto de um golpe de Estado que lotou as prisões e os hospitais, levando à morte e ao exílio inúmeros resistentes, passou a acusar os masistas de “sedição, terrorismo e instigação pública para delinquir”.

A recente prisão do deputado por La Paz, Gustavo Torrico, do MAS, é um destes casos, assinalou o relator Especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Independência de Magistrados e Advogados, Diego García-Sayán. “Me preocupa o uso das instituições judiciais e fiscais com fins de perseguição política. Nesta quinta tocou ao ex-ministro Gustavo Torrico. Conclamo ao respeito à independência das instituições e ao devido processo legal”, destacou Diego García-Sayán.

Gustavo Torrico assinalou que “não entende nem como, nem o porquê de sua prisão, que é totalmente ilegal, uma vez que me apresentei normalmente às autoridades”, tendo prestado todos os esclarecimentos necessários.

O ex-ministro da Economia e candidato do MAS à Presidência, Luís Arce Catacora, qualificou de ilegal a detenção de Torrico, “É lamentável que este assédio continue; essa perseguição política a todos os membros do MAS, às organizações sociais e ex-funcionários do governo do nosso ex-presidente Evo. Realmente é necessário repudiar que tais ações continuem, pois o único que fazem é que os bolivianos questionem ainda mais o atual Estado de Direito”, enfatizou Arce.

De acordo com o presidente constitucional, Evo Morales, “esta detenção ilegal é uma prova mais do Estado de Não Direito na Bolívia”. “Minha solidariedade com Gustavo e sua família, vítimas do governo golpista”, frisou.

No sábado passado a Polícia chegou a deter o ex-ministro César Navarro e o ex-vice-ministro Pedro Dorado, no aeroporto de El Alto, embora estivessem de posse de salvo-condutos. Como o caso afrontava de forma insustentável o direito internacional e diante de uma onda massiva de protestos, Áñez teve de retroceder.

Mas as perseguições continuam. Na Embaixada do México na Bolívia permanecem refugiados os ex-ministros de Presidência e Governo Juan Ramón Quintana e Hugo Moldiz, bem como o ex-chefe da Defesa, Javier Zavaleta, o ex-governador de Oruro, Víctor Hugo Vázquez, e o ex-diretor de Governo Eletrônico, Nicolás Laguna.