Policiais israelenses agridem fiéis palestinos em frente à mesquita Al Aqsa em Jerusalém

Mais de 300 palestinos ficaram feridos em ataques desferidos pela polícia israelense nas noites de sexta para sábado e de sábado a domingo na Jerusalém Árabe. A agressão ensandecida aconteceu no mesmo momento em que 90.000 palestinos de todos os rincões de Israel e da Palestina se deslocam para o interior e pátio da mesquita Al Aqsa (a mais importante para os palestinos) durante as orações do mês sagrado do Ramadã.

O Crescente Vermelho (a Cruz Vermelha árabe) montou um hospital de campanha na região das mesquitas para atender às centenas de feridos depois que a polícia da ocupação passou a dificultar a circulação de ambulâncias vindas de hospitais palestinos.

A polícia de Israel usou bombas de percussão e de gás, tiros com balas de aço embebidas em borracha, cassetetes, cargas de cavalaria e foi respondida com pedras e fogos de artifício por parte de dezenas de jovens que se concentraram na Esplanada das Mesquitas e em vários outros pontos da cidade árabe sob ocupação israelense desde 1967.

Mais de 100 palestinos foram presos. Cerca de 20 policiais israelenses ficaram feridos.

Ônibus que traziam árabes-israelenses para participar das orações em Jerusalém foram detidos, no sábado, nas proximidades da cidade. Eles reagiram descendo dos ônibus e caminhando a pé em direção aos muros de Jerusalém e foram atacados com bombas de gás lacrimogêneo. Questionada sobre mais esta agressão, a polícia respondeu, através de seu porta-voz, Eli Levi, que havia “razões para supor que entre os fiéis haviam aqueles com a intenção de provocar distúrbios”.

Onu, UE e EUA exigem fim da agressão

A ONU condena a violência contra os palestinos e declara que “as pessoas têm o direito ao exercício de suas orações e tradições sem medo, em paz e segurança”.

As Nações Unidas, através de seu comissário para a Aliança entre as Civilizações, Miguel Angel Moratinos, exigem o “respeito aos sítios sagrados na Jerusalém Leste” e expressam o desejo de “rápida recuperação dos feridos nos conflitos em torno da mesquita Al Aqsa”.

Em sua declaração, a União Europeia conclama “as autoridades a agirem urgentemente para a desescalada das correntes tensões em Jerusalém”.

“Os Estados Unidos estão extremamente preocupados com os confrontos que estão ocorrendo em Jerusalém, que resultam em muitas pessoas feridas”, afirma o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price que acrescenta: “Não há desculpa para a violência, para tamanho derramamento de sangue, especialmente perturbador quando acontece nos últimos dias do Ramadã”.

Despejos de palestinos

A tensão em Jerusalém está elevada depois que já foram autorizados despejos de famílias palestinas que residem no bairro de Sheikh Jarrah desde pelo menos os anos 1940.

Organizações direitistas israelenses entraram com petições exigindo os despejos sob a alegação de que o bairro era de judeus antes de 1948, quando aquele setor da cidade, assim como toda a Jerusalém Árabe ficou protegida da expulsão de palestinos quando da fundação do Estado de Israel, ficando sob governo jordaniano até a Guerra dos Seis Dias, de 1967 quando foi ocupada por forças israelenses.

Algumas famílias judias saíram de suas casas na Jerusalém antiga, mas foram acolhidas em Israel com novas residências e trabalho, uma situação inteiramente diferente da das centenas de milhares de refugiados palestinos que sofreram penúria após a expulsão em massa, quando pelo menos 400 aldeias e cidades palestinas foram destruídas e outras centenas foram simplesmente ocupadas.

Sheikh Jarrah, o caso mais recente de expulsão em massa está longe de ser o único a expulsão de palestinos se dá das mais diversas formas, desde o recurso a chacinas – como o massacre de Deir Yassin – até o uso de pretextos jurídicos como ocorre agora no bairro de Jerusalém.

Agora, a solidariedade aos moradores de Sheikh Jarrah (300 pessoas de diversas famílias) mobiliza palestinos de todos os setores e regiões, assim como muitos israelenses. As manifestações em Sheikh Jarrah são constantes e a repressão policial tem crescido ao mesmo tempo que os protestos. A repressão aos atos neste bairro é um dos principais focos dos confrontos que acontecem em Jerusalém, quando os atos em solidariedade aos moradores reprimidos e ameaçados de Sheikh Jarrah repercutem por toda a Jerusalém árabe.

Declaração da União Europeia condena os despejos como “ilegais” e os considera como fator principal “pelo crescimento das tensões”.

Em declaração conjunta, França, Alemanha, Itália, Espanha e Inglaterra, instam Israel a suspender os processos de despejos e de construção de assentamentos em terras assaltadas aos palestinos na Cisjordânia.

“Nós instamos o governo de Israel a reverter sua decisão de avançar na construção de 540 unidades residenciais no assentamento de Har Homa [vizinho à Jerusalém Leste], área E dos territórios palestinos ocupados na Cisjordânia e a cessar sua política de expansão de assentamentos através destes territórios”, diz a declaração conjunta.

“Se implementada, a decisão de avançar no assentamento em Har Homa, entre a Jerusalém Leste e Belém, vai causar mais dano às perspectivas de um Estado Palestino viável, com Jerusalém como capital de ambos, Israel e Palestina”, prossegue a carta conjunta.

“A situação com respeito aos despejos de famílias palestinas em Sheikh Jarrah e outras áreas de Jerusalém é igualmente preocupante”, prosseguem os países europeus.

“Tais ações são ilegais sob a lei humanitária internacional e só servem como combustível para a elevação das tensões no terreno”, finalizam.

“Horrendo e inaceitável”

Parlamentares democratas estão se dirigindo ao presidente Joe Biden para que deixe claro ao governo de Israel que a expulsão de palestinos de suas casas em terra sob a cobiça de colonos judeus em Jerusalém deve ser detida imediatamente.

Os senadores Bernie Sanders, Elizabeth Warren, Chris Van Hollen e Chris Murphy se posicionaram chamando Israel a parar com os movimentos para o despejo de residentes em Sheikh Jarrah, enquanto que os deputados Alexandria Ocasio-Cortez, Gregory Meeks, Andy Levin, Pramila Jayapal e Ayanna Pressley engrossaram o coro em desaprovação ao assalto.

“A remoção forçada de residentes palestinos de longo tempo em Sheikh Jarrah é horrenda e inaceitável”, declarou a senadora Warren, exigindo do governo Biden que faça ver a Israel que “isto é ilegal”.

Já o senador Sanders afirmou que “os Estados Unidos devem falar com firmeza contra a violência dos extremistas em Jerusalém Leste e na Cisjordânia e deixar claro que os despejos de famílias palestinas não podem seguir adiante”.

“Despejo de residentes palestinos, que vivem em suas casas no bairro de Jerusalém Leste de Sheikh Jarrah há mais de uma geração é injustificável e deve parar, assim como os ataques a palestinos por parte de colonos judeus, assim como os disparos de foguetes pelo Hamas”, afirmou Murphy, senador pelo Connecticut que destacou preocupação com a “abordagem militarizada por parte de Israel diante das tensões o que as estão escalando quando tudo deve ser feito para arrefecê-las”.

O deputado Meeks, presidente do Comitê de Assuntos do Exterior da Câmara norte-americana declarou que as autoridades israelenses e funcionários da polícia e do governo devem “garantia de que Jerusalém seja uma cidade na qual reine a coexistência e não a violência”.

Durante a manhã de sábado, a polícia israelense realizou mais de 30 prisões de ativistas, elevando, desde cedo, as tensões em Jerusalém.

Netanyahu, cuja continuação no cargo de primeiro-ministro está por um fio diante da evolução dos entendimentos entre partidos de esquerda, centro e direita e ainda representantes dos árabes israelenses para a formação de um governo de unidade sem Netanyahu e os fascistas que a ele se aliaram (cujas hordas têm saído pelas praças vizinhas a Jserusalém Árabe bradando “Morte aos Árabes” e “Fora Árabes”), declarou, em mais um acesso de cinismo: “Israel está agindo responsavelmente para garantir a lei e ordem em Jerusalém enquanto mantém a liberdade de culto nos sístios sagrados”.

Manifestações em solidariedade aos moradores de Jerusalém e aos fiéis que vieram rezar na mesquita Al Aqsa ocorrem nas cidades árabes de Israel, com manifestantes desfraldando bandeiras palestinas em Yafo, Nazaré, Umm al-Fahem, Tamra e muitas outras.

Mansur Abbas, o presidente da Lista Árabe Unida que se dizia disposto a negociar participação tanto com os opositores comandados por Yair Lpaid, como com o bloco de apoio a Netanyahu, declarou agora que não vai “permitir a escalada na mesquita Al Aqsa que impeça a liberdade de culto aos muçulmanos”. Ele acrescenta que “toda ferida imposta a um fiel é ato que cruza uma linha vermelha”.

Egito e Jordânia contra a violência

Jordânia e Egito condenaram com veemência o governo de Israel pela violência, declarando que cabe a Israel a garantia da liberdade aos palestinos sob sua jurisdição enquanto potência ocupante.

O Ministério de Exterior da Jordânia alertou contra a “perigosa escalada” e enfatizou que “a lei internacional exige de Israel, enquanto força ocupante, a garantia da paz para os fiéis em Al Aqsa”.

Já o porta-voz do Ministério do Exterior do Egito, Ahmed Hafez, condenou o comportamento de Israel, “especialmente seu abuso contra os direitos humanos dos palestinos, além do esforço inaceitável de deslocar palestinos de suas residências no bairro de Sheikh Jarrah”.