Dustin Heard, Evan Liberty, Nicholas Slatten e Paul Slough, mercenários que mataram 17 civis em Bagdá

O Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos condenou o indulto concedido pelo presidente cessante dos Estados Unidos, Donald Trump, a quatro mercenários contratados da empresa privada Blackwater, que assassinaram 17 civis no Iraque, em 2007.

“Perdoá-los alimenta a impunidade e tem o efeito de encorajar outros a cometer o mesmo tipo de crimes no futuro”, afirma o comunicado da agência da ONU, dirigida pela ex-presidente chilena Michelle Bachelet.

Os quatro mercenários da Blackwater a serviço do Pentágono no Iraque ocupado, Paul Slough, Evan Liberty, Dustin Heard e Nicholas Slatten, presos e condenados pela chacina de 17 civis iraquianos desarmados – incluindo duas crianças – em Bagdá, foram descritos pela Casa Branca como veteranos com “uma longa história de serviço à nação”. Eles fizeram parte de um comboio blindado que abriu fogo indiscriminadamente com metralhadoras e lança-granadas sobre uma multidão de pessoas desarmadas na capital iraquiana, crime de guerra que ficou marcado como o “Massacre da Praça Nisour”.

Naquela época, a Blackwater fora contratada supostamente para proteger diplomatas americanos no Iraque, quatro anos depois da invasão que derrubou o presidente Saddam Hussein e destruiu o Estado iraquiano.

“Slough, Liberty, e Heard foram condenados por múltiplas acusações de homicídio voluntário e tentativa de homicídio involuntário em 2014, enquanto Slatten, que foi o primeiro a começar a disparar, foi condenado por homicídio em primeiro grau. Slatten foi condenado à prisão perpétua e os outros a 30 anos de prisão cada um”, registrou pelo Twitter o jornalista Glenn Greenwald, ao criticar o indulto.

“Eu perdi toda a esperança de justiça por esse assassinato há muito tempo”, disse Fares Saadi, o policial iraquiano que investigou os tiroteios na Praça Nisour, um lugar movimentado na capital iraquiana. “Lembro-me como se fosse ontem: recolhi pessoas, levei-as ao hospital, tomei depoimentos, mas sabia que não veríamos justiça”, assinalou.

O comunicado da ONU pede aos Estados Unidos que renovem seu compromisso de lutar contra a impunidade por graves violações dos direitos humanos e do direito internacional humanitário, assim como que cumpra suas obrigações de garantir a responsabilização por tais crimes.

O Governo iraquiano – mesmo com baixíssima legitimidade por ter emergido da ocupação e sob uma Constituição forjada pelo invasor – também criticou o perdão de Trump aos assassinos de civis iraquianos em Bagdá.

O Ministério das Relações Exteriores do Iraque pediu, na quarta-feira (23), que os Estados Unidos reconsiderassem sua decisão. Um comunicado oficial disse que o ministério está acompanhando a decisão de Donald Trump, de perdoar os contratados que perpetraram o massacre na praça al-Nisour, no oeste de Bagdá.

“O ministério acredita que esta decisão não levou em consideração a gravidade do crime cometido e, infelizmente, ignora a dignidade das vítimas, bem como os sentimentos e direitos de suas famílias”, afirmou o documento.

 

 

(PL)