ONU cobra do governo brasileiro respeito aos direitos humanos
A alta comissária de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, disse que está “alarmada por ameaças contra defensores dos Direitos Humanos e ambientais e contra indígenas” no Brasil e cobrou ações e respeito das autoridades brasileiras.
“No Brasil, estou alarmada por ameaças contra defensores dos Direitos Humanos e ambientais e contra indígenas, incluindo a contaminação pela exposição ao minério ilegal de ouro”, falou Bachelet, ex-presidente do Chile, na abertura do Conselho de Direitos Humanos da ONU, na segunda-feira (13).
“Peço às autoridades que garantam o respeito aos direitos fundamentais e instituições independentes”, conclamou Bachelet.
Ela apresentou, ainda, preocupação em torno das eleições no Brasil. A chefe de Direitos Humanos da ONU pediu garantias de que o processo eleitoral seja “justo e transparente” e de que “não haja interferências de nenhuma parte para que o processo democrático seja alcançado”.
Bachelet anunciou também que não concorrerá à reeleição ao cargo de chefia dos Direitos Humanos da ONU, que ocupa há quatro anos.
No domingo, completou uma semana desde que desapareceram o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, correspondente do The Guardian. Os dois estavam na Terra Indígena Vale do Javari, região onde existem conflitos pela presença de garimpeiros e traficantes.
Bruno Araújo foi demitido da Fundação Nacional do Índio (Funai) pela falta de independência do órgão. Sua exoneração aconteceu logo depois dele ter participado de uma operação de combate à mineração ilegal em terras indígenas.
A porta-voz da Comissão de Direitos Humanos da ONU, Ravina Shamdasani, afirma que “a resposta das autoridades” para o desaparecimento de Bruno e Dom “foi lenta”.
No domingo (12), foi encontrada uma mochila com pertences de Bruno e Dom. Na segunda-feira (13), a esposa de Dom, Alessandra Sampaio, disse que recebeu da Polícia Federal a informação de que dois corpos foram encontrados próximos ao local do desaparecimento. Ainda não está confirmado que os corpos são de Dom e Bruno.
Para o defensor público federal, Renan Sotto Mayor, as diversas declarações públicas de Bolsonaro a favor do garimpo em terras indígenas e o sucateamento dos órgãos de vigilância, como a Funai, aumentaram a tensão na região do Vale do Javari.
“Esse tipo de posicionamento do chefe do Executivo reflete no território e gera tensão, porque as pessoas passam a acreditar na liberação [do garimpo em áreas de proteção]. Mas garimpo em terra indígena é crime ambiental e de usurpação”, pontuou o defensor.
“A Funai tem ótimos servidores, que sofrem com o enfraquecimento da política indigenista. Tem servidores que estão se sentindo desamparados”, comentou.
EDIÇÃO: Guiomar Prates