Tor Wennesland, coordenador do Escritório da ONU para a Paz no Oriente Médio

O coordenador do Escritório da ONU para a Paz no Oriente Médio (UNSCO, sigla em inglês), Tor Wennesland, chamou israelenses e palestinos a “agirem com responsabilidade e evitarem quaisquer provocações que poderiam levar a um novo confronto”.

Nas declarações desta quarta-feira (16), Tor destacou a atuação do governo egípcio a favor do cessar-fogo alertando que “as tensões crescem novamente em Jerusalém em um tempo muito frágil e sensível dos pontos de vista político e de segurança, no momento em que a ONU está engajada na consolidação do cessar-fogo”.

A suspensão das hostilidades foi alcançada no dia 21 de maio, após 11 dias de um dos mais violentos bombardeios já perpetrados por Israel sobre a Faixa de Gaza, o que foi respondido pela organização Hamas com mais de 4.000 foguetes sobre áreas residências de cidades israelenses.

O triste resultado do confronto foram 250 palestinos mortos, assim como 12 israelenses.

Sobre a questão da nova escalada de “tensões em Jerusalém”, o coordenador da ONU se referiu à “Marcha das Bandeiras” convocada pelos fascistas israelenses com os deputados do partido “Religiosos Sionistas”, recém-eleitos com o apoio de Netanyahu, Itamar Bem Gvir e Bezalel Smotrich, no comando.

A “Marcha” consistiu de milhares de fanáticos israelenses (incluindo colonos judeus em terras assaltadas aos palestinos) portando bandeiras de Israel e desfilando no interior da Jerusalém árabe ocupada aos gritos de “Morte aos Árabes” e “Que suas aldeias venham abaixo sob fogo”.

Esta nítida provocação foi convocada pelos ultradireitistas da gangue denominada “Religiosos Sionistas” para esta terça-feira (15), dois dias após a posse do novo governo de coalizão que tornou possível o afastamento de Benjamin Netanyahu (Bibi) que, através de seu cargo de primeiro-ministro infelicitava a região e movia todo o arsenal disponível para manter a beligerância entre judeus e árabes, incluindo os crimes (previstos pelas Convenções de Genebra) da manutenção da ocupação com a aceleração de colônias judaicas em terras tomadas aos palestinos sob ocupação e impiedosos bombardeios à Faixa de Gaza, além das prisões em massa de ativistas palestinos.

A tentativa da direita é, como deixou claro Bibi em seu último discurso como premiê diante do Knesset (parlamento israelense), explorar as fragilidades da ampla coalizão para derrubar o governo e se reinstalar como líder do fascismo israelense.

Assim, a “Marcha das Bandeiras” foi o eco do que disse Bibi em seu discurso abertamente golpista assim que afastado do cargo: “Aos meus amigos aqui no Knesset e aos milhões de cidadãos de Israel, eu vos digo hoje, não fiquem deprimidos. Mantenham a espinha ereta. Vamos continuar a trabalhar juntos pelo nosso amado país. Eu estou com vocês, em uma batalha diária contra este mau e perigoso governo de esquerda, para derrubá-lo”.

E prossegue Bibi: “Com a ajuda de Deus, isso vai acontecer mais breve do que vocês pensam”.

A inflamação de Netanyahu teve efeito imediato, com os deputados direitistas gritando de forma histérica assim que Naftali Bennett subiu à tribuna para proferir seu discurso de posse como novo premiê, o que forçou o presidente da Casa a chamar a polícia do parlamento para retirar os exaltados do recinto à força.

Provocações

Assim que a marcha foi anunciada, o Hamas aproveitou a provocação israelense para ameaçar o cessar-fogo. Em declaração oficial, a organização palestina que domina a Faixa de Gaza disse que se durante a “Marcha das Bandeiras” houvesse confrontos entre israelenses e palestinos, o cessar-fogo seria rompido, ou seja, ameaçou retomar o lançamento de foguetes contra as cidades israelenses.

Mostrando mudanças com relação à postura de Netanyahu de buscar estimular as tensões como fez até o dia 10 de maio quando os fiéis dentro da mesquita Al Aqsa foram confrontados com bombas de percussão e de gás lacrimogêneo, com a polícia de Jerusalém desferindo pancadaria e tiros com balas revestidas de borracha a torto e a direito, multiplicando o número de feridos entre os palestinos, dessa vez, a polícia percorreu as lojas dos palestinos em Jerusalém para pedir que os lojistas as fechassem até as 16:00 do dia 15 (a marcha estava prevista para as 17:00).

Além disso, foram deslocados 2.000 policiais para separar os integrantes da marcha de palestinos que previsivelmente sairiam em protesto contra ela e ainda proibiu os fascistas de transitarem pelo chamado Quarteirão Muçulmano ou pela Esplanada das Mesquitas.

O governo egípcio chamou dirigentes das facções Hamas e Jihad Islâmico, para pedir que mantivessem o cessar-fogo, o que – segundo o jornal israelense Haaretz – foi afiançado pelas lideranças dessas organizações.

Mas apenas verbalmente porque, a pretexto de responder à marcha, integrantes do Jihad Islâmico lançaram, tanto no dia da marcha (15) como nos dois dias que seguiram a ela, dezenas de balões munidos de fogos e botijões de gás em direção a Israel provocando pelo menos 40 pequenos incêndios.

O Hamas, ao invés de rejeitar a provocação, declarou que foi a “firmeza” dos militantes palestinos de Gaza que fez com que Israel tomasse medidas restritivas quanto ao roteiro da marcha.

Gaza

O novo governo de Israel, que poderia ter atendido à solicitação da ONU e se negado a aceitar as provocações vindas, tanto de Gaza e como dos fascistas israelenses, lançou mísseis contra a Faixa de Gaza na terça, quarta e quinta desta semana.

Embora tenha direcionado a maioria dos mísseis a alvos do Hamas, segundo o Haaretz, e também ter avisado sobre os locais a serem atingidos, evitando mortes e ferimentos dessa vez, três mísseis foram disparados nas proximidades de um edifício, a Torre Sheikh Zayed, a nordeste, em Beit Lahia e outros atingiram plantações ao norte da Faixa de Gaza, como informa a agência palestina de notícias, Wafa.

Ainda com relação à caminhada dos fascistas pela Jerusalém ocupada, o líder da Lista Árabe Unida, que agora integra o governo de Israel, mostrou uma visão clara da provocação: “Trata-se de uma provocação sem limites e os gritos de ódio e incitamento à violência são mais uma tentativa de inflamar a região com propósitos políticos”.

“Não resta dúvida de que o propósito dos organizadores da marcha é desafiar o novo governo e exauri-lo através de uma série de eventos explosivos no futuro próximo”, acrescenta Abbas.

Capítulo hediondo

Como declarou o primeiro ministro da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Shtyeh, a saída de Netanyahu “é o fim de um capítulo hediondo”.

Mas, ressalta o premiê palestino, o novo governo só terá legitimidade quando se retirar de todos os territórios palestinos ocupados.

Ainda incipientes e insuficientes para a superação da beligerância e do segregacionismo que provoca o permanente estado de guerra na região, as medidas tomadas contra a “Marcha das Bandeiras” é um sinal de que – evitadas as provocações de parte a parte – a inaceitável situação a que são submetidos os palestinos por décadas de ocupação pode caminhar a uma solução de paz.