Ajuda a necessitados em Porto Rico em janeiro de 2020

O ano de 2021 deve atingir contornos de uma catástrofe humanitária e os países ricos não devem atropelar os países pobres em uma corrida por vacinas para combater a pandemia Covid-19, assinalaram autoridades mundiais na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na sexta-feira (4).

O relatório Panorama Humanitário Global 2021, apresentado pela ONU, alerta que, em 2021, 235 milhões de pessoas vão precisar de ajuda humanitária.

O chefe do Programa Mundial de Alimentos (PMA), David Beasley, e o diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, se pronunciaram durante a reunião especial sobre a Covid-19, que já infectou mais de 66,7 milhões de pessoas em todo o mundo, realizada de forma virtual.

“Simplesmente não podemos aceitar um mundo em que os pobres e marginalizados sejam pisoteados pelos ricos e poderosos na corrida pelas vacinas”, afirmou Tedros.

Ao afetar, principalmente, a população mais vulnerável, a pandemia já provocou um aumento de 40% no número de pessoas que necessitam de ajuda humanitária. As entidades apelaram pela ajuda de financiamento de 35 bilhões de dólares para lidar com a fome, que está “batendo na porta” de dezenas de países, afirmou Beasley.

Segundo o chefe do PMA, 2021 deve ser “o pior ano de crise humanitária desde o início das Nações Unidas”, criada há 75 anos, e apontou que não será possível “financiar tudo”, fazendo com que as atuações sejam focadas, “priorizando os icebergs do Titanic”.

Comemorando o progresso vivido este ano no campo das vacinas, Tedros Adhanom manifestou, porém, sua preocupação “ante a crescente percepção de que a pandemia acabou”, divulgou a agência de notícias AFP.

O diretor da OMS pediu uma injeção imediata de 4 bilhões 300 milhões de dólares para um programa mundial que permita compartilhar as vacinas.

“Esta é uma crise mundial e as soluções devem ser compartilhadas equitativamente como bens públicos mundiais”, sublinhou.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, e suas principais autoridades também pediram que as vacinas contra Covid-19 sejam disponibilizadas para todos e que os países ricos ajudem países em desenvolvimento no combate e na recuperação da pandemia.

“A verdade é que muitos lugares hoje estão testemunhando uma transmissão muito alta do vírus, o que coloca uma enorme pressão sobre hospitais, unidades de terapia intensiva e profissionais de saúde”, disse Michael Ryan, chefe de emergências da OMS.

Já o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, fez questão em seu discurso, de afrontar o tom de apoio ao multilateralismo e a solidariedade entre os povos adotado pelos demais governos, e disse que foram os governos nacionais aqueles que deram uma resposta à crise. O chanceler de Bolsonaro fez questão de criticar o princípio que guia a ONU. Para ele, a crise deve ser enfrentada “por nações individuais”.

Ao discursar sobre o que o governo brasileiro tem feito, Araújo fez referências ao contrato que o Brasil firmou com a AstraZeneca e Oxford. Mas apenas se referiu ao fato de que o Instituto Butantan conta com acordos com “laboratórios estrangeiros”. O Itamaraty, assim, evitou falar abertamente da vacina com tecnologia chinesa, uma das principais e a que está em estágio mais adiantado no processo de preparo para enfrentamento do vírus em São Paulo e outros Estados.