Margaret Harris, porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS)

A porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Harris, afirmou na manhã desta sexta-feira (5), em Genebra, na Suíça, que os governos “só conseguirão controlar a pandemia se souberem onde está o vírus”.

Para isso, destaca, “testes serão necessários”. “Testar é crucial. Saber onde o vírus está e que tem potencialmente a possibilidade de ser afetado é a forma de parar a transmissão”, disse. “Testem, rastreiem”, insistiu.

Segundo ela, “quando se rompe a cadeia de transmissão, é aí que o surto começa a cair”. Para isso, porém, governos precisam ampliar os testes.

“Encontrem a todos que tem potencialmente o vírus”, afirmou Harris. Segundo ela, em locais com intensa transmissão, uma opção para governos é a de realizar testes direcionados, com a população que poderia ser mais afetada e nas áreas onde o vírus poderia se mover mais rapidamente.

A OMS recomenda também que os governos estabeleçam “parcerias com suas sociedades”. “Os países que tiveram êxito foram aqueles que estipularam parcerias com a população”, indicou Harris.

Para a representante da OMS, o fato de países que viveram um intenso surto nas últimas semanas terem hoje um número baixo de casos revela que a estratégia descrita pela entidade dá resultados. “Sabemos o que funciona. Temos países que tiveram surto e hoje não têm casos”, apontou.

Em resposta a Jamil Chade, colunista do UOL, sobre a flexibilização do isolamento social no Brasil, a porta-voz da OMS afirmou que “existem critérios para que um governo considere deixar medidas de distanciamento social. Um deles: garantir que a abertura apenas ocorra quando se saiba que existe uma queda no número de transmissão. Outro critério é o de saber onde a transmissão está ocorrendo. Para isso, todo o modelo de testar, monitorar, rastrear contatos e isolamento precisa estar funcionando. Além disso, escolas e locais de trabalho precisam estar preparados”.

A representante da OMS salientou que a situação da pandemia no Brasil hoje é “profundamente, profundamente preocupante”.

Os dados sustentam essa preocupação: o Brasil é hoje o terceiro país com maior número de mortes e segundo em termos de casos. Considerando apenas os últimos sete dias, o Brasil lidera no mundo, segundo os dados da própria OMS. A agência de Saúde confirma que os “principais motores do mundo são os países da América do Sul, Central e do Norte, em especial os EUA”.

O alerta da porta-voz da OMS vai na direção de especialistas brasileiros que vêm alertando as autoridades sobre a necessidade de ações de vigilância epidemiológica e busca ativa de casos e isolamento dirigido como forma de enfrentar a pandemia no país.

Para o professor Eduardo Costa, pesquisador da Fundação Osvaldo Cruz, “a partir de casos suspeitos notificados pelos serviços de atenção primária, que são encaminhados para diagnóstico e tratamento, é feita a pesquisa com o teste diagnóstico PCR para verificar se entre seus contatos há pessoas contaminados e transmitindo a doença, apesar de não terem sintomas”.

“Toda a família, vizinhos próximos e seus companheiros de trabalho serão também testados e postos em observação. Os positivos aos testes serão isolados e se promove a continuidade da observação por visitas sanitárias, administrando a quarentena, das pessoas e da comunidade contaminada. Outros locais de concentração de pessoas ou de migrantes devem ser visitados para busca ativa de casos suspeitos e infectantes”, explica ele.

“Esse trabalho deve ter o acompanhamento da rede de assistência social no caso da Covid-19 para viabilizar a quarentena ou isolamento”, aponta Costa.

Roberto Bitencourt, doutor em Saúde Pública e professor do Programa de Pós Graduação da Escola Superior em Ciências da Saúde do Distrito Federal, destaca que em paralelo às medidas de enfrentamento da fase I da pandemia, “deve-se iniciar a intervenção clássica do enfrentamento epidemiológico, considerada a Fase II, qual seja: identificar os casos, classificar o risco clínico, rastrear os contatos, isolar seletivamente os infectados e, finalmente, interromper a transmissão”.

“O volume de informações para se identificar os casos, infelizmente, no Brasil já é altíssimo. Hoje (29/5) temos mais de 465 mil casos confirmados de coronavírus, sendo que perto de 200 mil pacientes recuperados e próximo de 30 mil mortes. Essas informações, assim como as testagem em curso, estão sendo subutilizadas e servem apenas para somar os novos casos da covid”, afirma o professor.