Tedros Adhanom Ghebreyesus durante coletiva da OMS sobre a pandemia do novo coronavírus

Um painel de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou que a hidroxicloroquina não funciona no tratamento contra a Covid-19, expressando “forte recomendação” contra o seu uso já que pode causar efeitos adversos.

O medicamento contra a malária não deve ser usado na luta contra a pandemia e não é mais prioridade em pesquisas sobre possíveis tratamentos contra o coronavírus, afirmaram 32 especialistas internacionais do Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes da OMS em um artigo publicado, na segunda-feira (1/3), no British Medical Journal.

Classificando a ineficiência da droga para tratamento de Covid-19 como de “alta certeza”, médicos, especialistas em ética e em metodologias de pesquisa científica, além de quatro pacientes que sobreviveram ao vírus, participaram do debate.

Os cientistas afirmaram que sua “forte recomendação” se baseia em evidências provenientes de estudos que tiveram como ponto de partida a experiência dos pacientes e dos médicos com a droga, além das conclusões levantadas por 6.059 ensaios produzidos por especialistas sobre os efeitos da cloroquina.

Além de apontarem que a hidroxicloroquina tem efeito mínimo ou nenhum sobre a mortalidade e hospitalizações devido ao coronavírus, os testes também mostraram que o medicamento “aumenta o risco de efeitos adversos” como “complicações cardíacas incluindo arritmias” que podem levar à morte.

“O painel [de especialistas] considera que o medicamento não é mais uma prioridade de pesquisa e que recursos deveriam ser direcionados para avaliar outras drogas mais promissoras para prevenir a Covid-19”, escreveram.

Em outubro passado, um estudo realizado em 30 países e divulgado pela OMS já havia apontado que a hidroxicloroquina é ineficaz contra a Covid-19. Agora a OMS desaconselha também o uso preventivo do medicamento

contra a doença. A recomendação emitida pelo painel de especialistas da organização tem o objetivo de definir uma diretriz concreta sobre o combate ao coronavírus e impedir receitas erradas para os pacientes.

A cloroquina e sua derivada hidroxicloroquina foram – e são – amplamente defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro, inspirado no seu guru, o ex-mandatário dos EUA, Donald Trump, como armas contra o coronavírus, afastando os órgãos de saúde do país da aplicação de medidas efetivas contra a pandemia. No final de 2020, o governo havia produzido cerca de 3,2 milhões de comprimidos, ao custo de R$ 1,16 milhão, segundo os ministérios da Saúde e Defesa do Brasil.