OMS: Governos que defenderam a vida tiveram melhor resultado econômico
Estudo apresentado por um painel independente criado pela OMS e dirigido pela ex-primeiro-ministro da Nova Zelândia, Helen Clark e pela ex-presidente da Libéria, Ellen Sirleaf, com mais 13 integrantes, revelou que a economia sofreu menos nos países que adotaram medidas mais enérgicas em defesa da vida e de combate à circulação do vírus.
O informe preliminar contradiz uma das principais bandeiras dos governos Trump e Bolsonaro (400 mil mortes e 210 mil mortes, respectivamente), que alegavam que a adoção de locautes teria implicações negativas, pois as pessoas acabariam sofrendo mais pelas consequências do confinamento que pelo vírus.
A comissão revelou que “priorizar a saúde ou priorizar a economia provou ser uma falsa dicotomia”. Em contraposição aos dados apurados, os governos Trump e Bolsonaro se insurgiram novamente, defendendo que a resposta da OMS fosse apurada. E foram mais uma vez desmentidos. “Uma observação preliminar do painel é que os resultados econômicos têm sido melhores em economias onde medidas rigorosas de controle de saúde pública têm sido implementadas efetivamente, e nesses países os resultados de saúde medidos pelo número de casos e mortes têm sido substancialmente melhores”, sublinhou o estudo.
O documento ainda não traz dados específicos de cada país, que deverão ser apresentados em maio, mas reitera que governos que agiram para controlar o vírus também conseguiram se recuperar mais rapidamente da recessão. “O mesmo padrão parece se aplicar ao ritmo da recuperação, com medidas de saúde pública mais rigorosas sendo seguidas por recuperações econômicas mais fortes”, enfatizou.
“Embora o painel esteja ciente de que a pandemia está em curso, e assim as tendências de longo prazo em relação ao impacto econômico ainda não foram definitivamente estabelecidas, acreditamos, no entanto, que existem evidências suficientes para estarmos confiantes de que as decisões para implementar medidas rigorosas de controle de saúde pública não deixarão as economias, pelo menos, em pior situação do que aquelas que não implementam essas medidas, ao mesmo tempo em que evitam significativamente mais mortes e doenças”, sublinham os cientistas.
De acordo com o grupo, “há evidências de que, a menos que as pessoas se sintam seguras, elas estarão relutantes em se envolver novamente em atividades econômicas e sociais fundamentais, tais como a escolaridade ou o comércio”.
O informe também condena as tensões internacionais como causadores de impacto negativo sobre o combate à pandemia e ressalta que “as consequências desta pandemia deixam claro ao mundo o quão importante é um multilateralismo efetivo”.
A 148ª sessão do Conselho Executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS), iniciada segunda-feira, apontou que a imensa desigualdade na divisão das vacinas contra a epidemia do coronavírus – que ultrapassou os dois milhões de mortes – traz gravíssimas implicações não só para o bem-estar dos povos como para a economia dos países.
“Mais de 39 milhões de doses já foram administradas em 49 países desenvolvidos, enquanto apenas 25 doses foram distribuídas em um país pobre. Não 25 milhões, não 25 mil, apenas 25 (0,00006%!)”, alertou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Tenho de ser franco, o mundo está à beira de um fracasso moral catastrófico e o preço deste fracasso será pago com vidas e empregos nos países pobres”, acrescentou.
Na prática, denunciou o dirigente, o que está ocorrendo é que alguns países e empresas continuam dando prioridade aos acordos bilaterais, “incluindo quantidade, preços e datas de entrega”, evitando desta forma o mecanismo Covax, a iniciativa da OMS para garantir um acesso equitativo às imunizações, o que está provocando um aumento dos preços e que países saltem à frente dos demais.
“A situação se vê agravada pelo fato de que a maioria dos fabricantes priorizaram a aprovação regulatória nos países ricos, onde o lucro é mais alto”, condenou Tedros. “Isso está mal, pois poderia atrasar as entregas do Covax e criar exatamente o cenário que foi projetado para ser evitado, com um mercado caótico, concentrado, uma resposta descoordenada e, consequentemente, uma contínua ruptura social e econômica”.
Na avaliação do dirigente da OMS, “a recente emergência de variantes do coronavírus altamente contagiosas faz que a distribuição rápida e equitativa das vacinas seja ainda mais importante”. “Não seria justo que adultos jovens e saudáveis dos países ricos se vacinem antes dos trabalhadores da saúde e idosos dos países mais pobres. Haverá doses para todos, mas agora devemos atuar como uma grande família para dar prioridade aos que estão correndo mais risco”, defendeu.