O Vietnã, país com quase 100 milhões de habitantes e que faz fronteira com a China, não registrou, até a manhã de 21 de abril, nenhuma morte relacionada ao novo coronavírus (Covid-19). Isso é o resultado de uma quarentena rigorosa que também conteve a propagação da doença: o registro, até dia 21, estava em 300 pessoas infectadas em todo o país.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) elogiou a transparência com que a questão está sendo tratada. Por não ter condições de testar massivamente a população, o país adotou uma estratégia considerada como “low cost” (baixo custo), priorizando o isolamento rigoroso dos doentes e relacionados socialmente.

Tanto os moradores quantos os viajantes foram colocados imediatamente em quarentena por 14 dias. Os que chegavam do exterior eram acomodados em prédios fora das cidades. O governo também disponibilizou a localização das pessoas com as quais os infectados entraram em contato, direta ou indiretamente.

“Eu mesmo estava em quarentena em casa porque voltava da Malásia, e uma câmera foi instalada na frente da minha porta para garantir que eu não saísse”, disse Frédéric Noir, correspondente da RFI no Vietnã.

O governo aplicou a tática de estabelecer confinamento de bairros inteiros.  Uma comunidade inteira de 10.000 habitantes ao norte de Hanói, por exemplo, foi completamente isolada por três semanas depois da descoberta de um caso positivo no local. Da mesma forma, 1.600 pessoas que moravam no mesmo bairro foram mantidas em confinamento por 28 dias no Delta do Mekong por causa de uma única pessoa cujo teste foi positivo.

“Supermercados e outros serviços essenciais continuam abertos, mas são instruídos a assegurar a saúde dos clientes checando suas temperaturas na entrada e fornecendo material para higienização das mãos. Além disso, o governo tem conscientizado contra o “pânico de compras” e tomado medidas contra especulação de preços. Para garantir a segurança dos trabalhadores afetados, o Vietnã aprovou um pacote de US$ 111,55 milhões para cobrir todos os custos daqueles em quarentena ou em recuperação da doença”, assinalou Tina Ngo, em artigo no Liberation News .

O primeiro-ministro vietnamita Nguyễn Xuân Phúc afirmou que os esforços do Vietnã para impedir o coronavírus são uma “ofensiva geral”, lembrando a ofensiva de Têt em 1968, quando os norte-vietnamitas e vietcongues lançaram uma ofensiva vitoriosa contra as forças norte-americanas e sul-vietnamitas, durante a Guerra do Vietnã.

Em meados de janeiro, as autoridades reuniram um comitê de gestão de crise com médicos e cientistas para combater o vírus. E proibiram imediatamente a reabertura de escolas, convocaram médicos aposentados e aumentaram sua capacidade de produção de máscaras. O país não esqueceu sua experiência em 2003, quando já havia conseguido – na época – combater a epidemia de Sars.

 Decidiram ainda suspender os voos entre o Vietnã e a China a partir de 1º de fevereiro, antes de restringir todos os voos internacionais.

Ao mesmo tempo, em 1º de abril, o governo introduziu um plano de quarentena para a população, incluindo a proibição de reuniões e uma forte recomendação para não sair de casa – exceto por um motivo “essencial”. 

As medidas certas, com controle do governo nacional, dos Estados e municípios mostraram que a pandemia pode ser controlada.