A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou na quinta-feira (30) o surto de coronavírus em curso de ‘emergência internacional de saúde pública’, o mais alto nível da entidade para a classificação de epidemias e reiterou sua confiança nas medidas tomadas pela China para contenção de sua disseminação.

99% dos 7.834 casos confirmados e 100% das 170 mortes estão concentrados na China – aliás, 162 das mortes foram na província de Hubei, cuja capital é Wuhan, enquanto que casos do novo coronavírus já foram constatados em 19 países. No exterior, não houve nenhuma morte.

A decisão foi tomada após nova reunião do comitê de emergência em Genebra, Suíça, que reviu decisão da semana passada. A principal razão para a elevação do status de risco, de acordo com a OMS, se deve às preocupações com países com sistemas de saúde mais débeis.

“Declaro uma emergência de saúde pública de interesse internacional sobre o surto global de 2019nCoV”, disse o diretor-geral da entidade, o etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus, na entrevista coletiva, em que estava acompanhado do especialista francês Didier Houssin, que preside o comitê de emergência da OMS sobre a epidemia. A OMS oficializou para o novo patógeno a denominação de ‘2019nCoV’.

“No total, agora existem 7.834 confirmados casos de 2019nCoV, incluindo 7.736 na China, representando quase 99% de todos os casos relatados no mundo inteiro. 170 pessoas perderam a vida com este surto, todas na China. Devemos lembrar que são pessoas, não números. Mais importantes do que a declaração de uma emergência de saúde pública são as recomendações do comitê para impedir a propagação do vírus 2019nCoV e garantir uma resposta medida e baseada em evidências”, ressaltou Ghebreyesus.

A decisão da OMS também levou em conta que a lista de países em que ocorreram casos de contaminação humano a humano cresceu e já engloba Vietnã, Japão, Alemanha e Estados Unidos. Em todos os casos, houve ligação com alguém procedente de Wuhan.

A organização parabenizou a China, dizendo que a declaração não era um voto de desconfiança; pelo contrário, “a OMS continua confiando na capacidade da China de controlar o surto”.

 

MEDIDAS EXTRAORDINÁRIAS

 

Os líderes da OMS elogiaram as “medidas extraordinárias adotadas”, apesar do impacto social e econômico no povo chinês.

“Teríamos visto muitos outros casos fora da China e provavelmente mortes”, disse Ghebreyesus, se não fosse por esse esforço.

Ele acrescentou que o agradecimento da OMS a esse esforço da China está “além das palavras”, salientou a transparência e a rapidez com que o país sequenciou e transmitiu ao mundo as informações sobre o vírus, assinalando que a China estabeleceu um “novo patamar” no combate a epidemias.

O diretor-geral da OMS – que é africano – manifestou sua preocupação pelos países com sistemas de saúde mais fracos, dizendo que “todos devemos agir juntos agora para limitar a disseminação”. Ele acrescentou que a OMS está disposta a apoiar a esses países “de qualquer maneira possível”.

Na véspera da reunião, ‘diplomata ocidental’ ouvido pela Reuters relatara haver apreensão especialmente quanto à possibilidade do novo vírus atingir a África, que em tempos recentes já sofreu – e continua sofrendo – com o ebola.

O presidente do comitê de emergência sobre o novo coronavírus, o professor francês Didier Houssin, criticou as restrições comerciais e de viagens, questionando a fundamentação científica por tais decisões, que considerou que “não eram um exemplo a seguir, mas a reconsiderar”.

Em sua visita a Pequim para debater a situação com os líderes chineses, o diretor-geral da OMS havia enfatizado que “a China merece nossa gratidão e respeito. A China está implementando medidas muito sérias e não podemos pedir mais”, afirmou.

 

SEQUENCIAMENTO DO CORONAVÍRUS

 

Como registrou o diretor-geral da OMS, a China não só adotara uma estratégia muito forte de contenção no epicentro do surto, Wuhan, como rapidamente realizou o sequenciamento do vírus e o compartilhou com agência, permitindo o rápido desenvolvimento de ferramentas de diagnóstico e que outros países começassem a trabalhar na vacina e em remédios específicos.

“A China está completamente comprometida com a transparência, interna e externamente, e concordou em trabalhar com outros países que precisam de apoio”, reiterou Ghebreuesus, citando o último caso na Alemanha que, devido à notificação imediata e ao compartilhamento de informações pelos médicos e governo chinês, foi rapidamente identificado e recebeu cuidados médicos.

“O nível de comprometimento (da liderança) na China é incrível; eu irei elogiar a China várias vezes, porque suas ações realmente ajudaram a reduzir a disseminação do novo coronavírus para outros países … diremos a verdade e essa é a verdade”, destacou.

Na quinta-feira – dia em que o total de casos do novo coronavírus ultrapassou o de casos da epidemia de 2003 – mais países se dedicaram a retirar seus cidadãos da afligida cidade de Wuhan. Quase 200 americanos evacuados chegaram a uma base militar dos EUA na Califórnia para ficar isolados por pelo menos 72 horas. Três japoneses evacuados em um voo fretado pelo governo de Tóquio deram positivo para o 2019nCoV, incluindo dois que não apresentavam sintomas. A França anunciou seu sexto caso de contágio. Um laboratório dos EUA anunciou esperar realizar testes em humanos de uma vacina por volta de junho. O ministério da Saúde brasileiro revelou que nove casos estão sob monitoramento para comprovação, ou não, do contágio pelo coronavírus. Outros 34 casos comunicados por secretarias estaduais de saúde foram excluídos ou descartados após análises.

Como a OMS assinalou, a taxa de mortalidade do novo coronavírus é da ordem de 2% (170 mortes/7.834 casos), o que é um quarto da taxa de mortalidade do vírus SARS de 2003, embora, quanto ao contágio, o novo coronavírus revelou uma capacidade maior – um doente pode infectar até 3 ou 4 pessoas. O que, como revelou uma infectologista entrevistada, Helena Sato, é bem menos do que, por exemplo, o vírus do sarampo, em que a pessoa infectada transmite a doença para 18.

Na entrevista coletiva em que foi declarada a emergência de saúde pública para o novo coronavírus, o diretor-geral da OMS fez questão de agradecer aos profissionais das redes de saúde da China, que têm trabalhado “24 horas por dia e sete dias por semana”. Ele fez, ainda, um apelo para que as fake news sobre a crise e a desinformação sejam combatidas. “Só podemos combater esse surto juntos”, sublinhou. “É a hora dos fatos, não do medo. É hora da ciência, não dos rumores. É hora de cooperação, não da estigmatização”.