Fila para testagem de passageiros que chegam ao aeroporto Schiphol, vizinho a Amsterdã

Autoridades de saúde da Holanda afirmaram, na terça-feira (30), que a variante ômicron do coronavírus já estava presente no país antes que a Organização Mundial da Saúde declarasse a nova cepa um motivo de preocupação.

O Instituto de Saúde Pública da Holanda (RIVM) declarou ter identificado a ômicron em amostras coletadas em 19 e 23 de novembro, vários dias antes da detecção de casos em dois voos vindos da África do Sul, em 27 de novembro, e antes mesmo de a variante ser notificada pela África do Sul à OMS, no dia 24.

De acordo com o RIVM, os testes PCR então realizados indicaram uma reação especial, apontando para uma anomalia na proteína spike do vírus Sars-Cov-2 (a que permite a entrada do vírus nas células do corpo), o que levantou a suspeita de que se tratava de casos da variante e indicou a necessidade de análises aprofundadas.

O RIVM comunicou ter entrado em contato com as pessoas afetadas para iniciar investigações sobre as circunstâncias do contágio. Uma dessas duas pessoas não viajou para o sul da África, por isso provavelmente contraiu o vírus na Holanda, segundo a virologista Chantal Reusken, do RIVM.

Ao ser questionada sobre a hipótese da ômicron ter surgido na Europa, e não na África, Angelique Coetzee, presidente da Associação Médica da África do Sul, que identificou a cepa, respondeu que “tudo é possível”. “Esperamos que outras nações revisem seus dados. Por várias vezes tenho declarado que a nova cepa provavelmente está em vários outros países, pois os sintomas leves podem ser facilmente ignorados”, constatou.

Casos na União Europeia anteriores à notificação da África do Sul

Até o momento, Holanda, Bélgica e Alemanha são os três países europeus que reportaram casos de infecções pela ômicron ocorridas antes de a descoberta da variante ser notificada à OMS, em 24 de novembro.

É provável que outros países encontrem casos mais antigos da ômicron à medida que retestarem amostras guardadas. A agência de saúde pública da União Europeia afirmou que há pelo menos 42 casos de ômicron em 10 países do bloco – e que os quadros de Covid são leves.

O primeiro país europeu a comunicar um caso da nova variante foi a Bélgica, no dia 26 de novembro, onde uma pessoa testou positivo no dia 22. Ela apresentou os sintomas da covid-19 11 dias depois de viajar para o Egito com escala na Turquia.

Na Alemanha, as autoridades informaram que uma pessoa que testou positivo para a ômicron chegou ao aeroporto de Frankfurt no dia 21 de novembro. O paciente, totalmente vacinado, apresentou sintomas ao longo da semana e então testou positivo.

Acelerar vacinação e intensificar testagem

A União Europeia solicitou que todos os países acelerem as campanhas de vacinação e intensifiquem a testagem e o sequenciamento genético do coronavírus. A agência de medicamentos do bloco afirmou que pode aprovar em três ou quatro meses uma vacina adaptada, mas considera que os imunizantes atuais vão continuar protegendo contra as variantes.

Na sexta-feira passada, 624 passageiros que estavam em dois voos da KLM vindos da África do Sul foram submetidos a testes de detecção do novo coronavírus em Amsterdã. Destes, houve 14 casos com infecção causada pela ômicron.

O RIVM detalhou que foram detectados diferentes tipos de estirpes de vírus da variante ômicron. Isso significa que essas 14 pessoas foram provavelmente infectadas separadamente, de uma fonte diferente e em locais diferentes

Acreditava-se que esses 14 casos fossem os primeiros em solo holandês, mas agora teve a verificação na terça-feira (30) de que a variante já estava circulando no país uma semana antes dos dois voos chegarem a Amsterdã.

Antes de a existência da ômicron se tornar conhecida, a Holanda já lidava com um forte aumento das infecções com a variante delta e um aumento da pressão hospitalar, o que levou à introdução de um “bloqueio noturno” no país, com o fechamento de toda atividade não essencial a partir das 17h todos os dias.

A nova variante tem um grande número de mutações, mas ainda não está claro se ela é de fato mais transmissível e quais os efeitos dela na imunidade humana e na severidade da doença covid-19.