Tribunais vêm barrando maquinações de Trump contra direito de voto

“Precisamos iniciar esse processo de passagem do poder”, afirmou o governador republicano de Ohio,Mike DeWine. “Com base no que sabemos agora, Joe Biden é o presidente eleito”, afirmou o líder republicano no domingo em entrevista à CNN, mesmo dia da desmilinguida marcha dos trumpistas a Washington.

Para DeWine, Trump tem o direito de “trazer aos tribunais qualquer tipo de evidência que tenha”, mas, “pelo bem do país, é importante que uma transição normal comece”, acrescentou.

Outro governador republicano, Asa Hutchinson, do Arkansas, reconheceu na NBC que Biden é “o próximo presidente”, e até chegou a considerar aquela tuitada de Trump de que Biden “ganhou roubando a eleição”, como “o início de um reconhecimento”.

Após postar a fatídica frase “Biden ganhou”, e a repercussão instantânea, Trump teve que sair correndo para seu bunker no Twitter, para remendar, dizendo que “não concedo NADA”, a eleição foi “fraudada”.

Na volta para seus grotões, os apologistas de “mais quatro anos” para o bilionário na Casa Branca tiveram de aturar serem zoados por centenas de populares: “a eleição acabou, Trump perdeu”.

FIASCO NOS TRIBUNAIS

Na semana passada, o frenesi dos advogados de Trump querendo impugnar votos fracassou, com juízes chegando a se irritar com a completa falta de provas nas ações intentadas. Uma corte negou a Trump seu desejo de cassar os votos de Detroit, ou seja, de uma das maiores cidades de maioria negra dos EUA.

Na Pensilvânia, os advogados de Trump não conseguiram sustentar a farsa de que seus fiscais teriam sido impedidos de monitorar a eleição e retiraram essa parte. Mas continuam tentando impedir que o Estado da Pensilvânia complete os procedimentos para certificação do vitorioso, Biden.

O presidente bilionário também sofreu derrotas em tribunais no Arizona, Michigan e Nevada, apesar da insistência de trumpistas em alegarem um “direito constitucional” a não terem seu voto “diluído” pela votação em massa na oposição.

Quanto ao “não foi isso que eu disse” de Trump no domingo, o recém indicado chefe de gabinete de Biden, Ron Klain, disse que, em última análise, os tweets do bilionário sobre a eleição não importam. “O twitter de Donald Trump não faz de Joe Biden presidente ou não-presidente. O povo americano fez isso”, ele disse no programa “Meet the Press”, da NBC.

“QUAL O NOME DO RIO?”

Na bolha virtual, as histórias mais escabrosas seguem pululando: ‘mortos que votam’, ‘supercomputador da CIA que mudou voto de Trump para Biden’, votos de Trump ‘jogados no rio’, e por aí vai.

Uma cena histórica foi o embate entre um repórter da Fox News e a loira secretária de imprensa da Casa Branca, que insistia em ser esclarecido qual era o nome do rio, onde teriam sido supostamente jogadas cédulas, como Trump tuitara com enorme estardalhaço.

“Qual o nome do rio?”, insistiu o jornalista, para desespero da porta-fake news de plantão na Casa Branca.

Foi a própria agência de segurança cibernética do governo dos EUA, ligada ao Homeland, que emitiu declaração considerando a eleição que Trump perdeu “a mais segura da história americana”.

“Não há evidências de que qualquer sistema de votação excluiu ou perdeu votos, alterou votos ou foi de alguma forma comprometido”, afirmou a agência, em comunicado conjunto junto com a Associação Nacional dos Secretários de Estado, bipartidária. São eles, nos EUA, os responsáveis legais nos estados pelo processo eleitoral.

Outros líderes republicanos têm se distanciado de Trump. Os governadores republicanos de Massachusetts, Charlie Baker, o recém eleito para Utah, Spencer Cox, Larry Hogan, de Maryland, e Phil Scott, de Vermont, enviaram mensagens parabenizando Biden e sua vice, Kamala. “Esta tem sido uma campanha longa e divisiva, mas agora é fundamental para todos nós nos concentrarmos nos desafios muito reais e imediatos que esta nação enfrenta”, afirmou Baker.

COVID

A recusa de Trump em reconhecer a derrota – além da óbvia afronta à democracia -, tem a implicação adicional de sabotar, ainda mais, o combate à Covid-19, que se espalha nos EUA como um fogaréu descontrolado, tendo acabado de alcançar 11 milhões de casos.

“Em vez de lutar para derrotar a pandemia Covid-19 que matou mais de 242.000 americanos, o governo Trump está passando seus últimos dias no cargo lutando contra um falso problema de ‘fraude’ eleitoral que não existe”, disse Sanders na noite de quinta-feira nas redes sociais. “Patético”, acrescentou.

O outro lado disso é o bloqueio, de parte da Casa Branca e do Senado controlado pela bancada de Trump, à aprovação de um pacote emergencial, que socorra as famílias atingidas pela pandemia, as pequenas empresas, os Estados e municípios que sustentaram o peso da pandemia, e promova a testagem e rastreamento de contágios.

O bloqueio à transição tem impacto direto no quadro da pandemia de coronavírus.

“É quase como passar um bastão em uma corrida”, comparou o principal infectologista dos EUA, Anthony Fauci no domingo. “Você não quer parar e depois dá-lo a alguém. Você quer apenas essencialmente continuar – e é isso que é a transição, então certamente faria as coisas [irem] mais suavemente se pudéssemos fazer isso.”

“Claro que seria melhor” se as autoridades de saúde pública pudessem começar a trabalhar com a equipe de transição de Biden agora, acrescentou Fauci à CNN. “Isso é óbvio.”

“HÁ MESES”

Questão também apontada pelo governador Hutchinson, sobre a urgência de uma transição tranquila, “particularmente quando se trata da distribuição da vacina, do coronavirus, e que todos estejam a par do que está sendo feito e qual é o plano para o futuro”.

O chefe de gabinete do governo que tomará posse em janeiro, Klain, instou Trump a abrir a porta para a equipe de transição. No programa “Meet the Press”, da NBC, ele enfatizou que Biden vai se tornar presidente dos Estados Unidos “no meio de uma crise em curso”. “Isso tem que ser uma transição perfeita.”

Enquanto hospitais em vários estados voltam a ficar perto do esgotamento da capacidade de atendimento, Fauci revelou no domingo que a última vez que Trump participou de uma reunião da força-tarefa de coronavírus da Casa Branca, foi “há vários meses”.